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FLIP 2010: Dias em Paraty

Sendo o total ignorante no aspecto literário da Feira Literária Internacional de Paraty, é intencional e compreensivo que se apresente um ponto de vista mais lúdico ao circuito de livros, autores, intelectuais, figuras raras e grandes amigos proporcionados por Paraty e seu núcleo de literatura, afinal, Paraty é muito mais do que a vida literária.

Calma, este artigo não é uma crítica ou roteiro de viagens, mas sim uma declaração de alguém que está equidistante de todo o aspecto literário e mesmo do aspecto crítico, podendo narrar a Feira como um evento inigualável para qualquer um. A cultura que efervece das ruas e vielas do centro histórico de Paraty ameaça a mansidão da ignorância que permeia cada esquina de nosso país e até mesmo aquele, como eu, que vai intencionalmente para passear, acaba ficando apaixonado por tudo que há na cidade.

Os eventos deste ano homenageiam o sociólogo Gilberto Freyre, começando com uma abertura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chegando aos finalmentes no sábado a noite com o cartunista Robert Crumb, passando pela escritora peruana, naturalizada chilena Isabel Allende e mais uma série de figuras literárias de alta nota.

Para quem não entende de livros, pode parecer que todo o tempo será desperdiçado, mas os eventos que ocorrem paralelamente, bem como as pessoas que acaba se conhecendo, sempre tem um quê de diferente e com certeza é uma experiência única. Ao que consta, ano após ano a cidade de Paraty mostra que vem se tornando um centro cultural mundial, unindo em suas ruas históricas pessoas de diferentes culturas e países, convivendo em harmonia e apreciando a bela arte colonial que nos cerca, desfrutando de uma bela paisagem à beira-mar.

Ainda assim, ter o mínimo de conhecimento de livros e seus autores, especialmente os que estão na mostra do ano em questão é fundamental. Graças à minha faculdade de direito e os professores de sociologia, Gilberto Freyre foi estudado e “Casa Grande e Senzala” lido, apesar de que muito en passant, já que com meus 18 anos de idade eu mais queria era festa. Porém, assistindo algumas das mesas relativas a esta temática, alguma coisa sempre acaba voltando daquelas memórias que se achavam perdidas e isso ajudou muito a poder me encaixar perfeitamente no âmbito da feira em si.

Alguns dos autores são mais marcantes e sabem se expressar sobre bons assuntos. Uma das frases ditas por Isabel Allende em sua coletiva de imprensa, que deveria ser seguida à risca por todos os governantes, e por ser uma utopia, nunca será feita, é a de estimular a leitura dos jovens desde mui perros (muito pequenos). É óbvio para alguns; e impróprio de citar para outros, mas isso sempre deve ser relembrado, especialmente nas novas gerações que têm se apegado à internet e ao mau uso do português com muito mais afinco do que quaisquer outras já vistas, talvez pela falta de prática com as próprias mãos e uma caneta, talvez pela futilidade com a qual se permeou o mundo.

Ainda assim a tecnologia é uma aliada de todos os jornalistas presentes, seja via  twitter, seja usando as redes wi-fi e seus laptops e celulares chiques. Neste aspecto a Feira privilegia os jornalistas e colaboradores, propiciando um ambiente prático para que esses mandem seus artigos e fotos para que o público não presente tenha um leve gostinho do que é estar em Paraty. A interatividade pode ser comprovada pelo site oficial do evento em que se pode acompanhar as mesas ao vivo, e mandar perguntas pelo twitter.

Peter Burke, um dos palestrantes da feira, disse em uma breve conversa informal que há a necessidade de se adequar o mundo literário às novas tecnologias, especialmente no que se trata de educação nas escolas já que não é mais necessário, como em sua época, ficar pegando enormes enciclopédias. Hoje, basta entrar na Wikipedia e fazer a pesquisa. Claro que sempre há de se consultar se o conteúdo é correto, mas ele ainda concorda que a internet deve ser usada extensivamente como campo de aprofundamento, especialmente porque é um atrativo distinto para as crianças.

Falando em crianças, alguns dias antes da abertura oficial da FLIP, começa a Flipinha, uma Feira literária dedicada apenas ao público infantil, que funciona em paralelo com a feira principal, tendo a grande maioria das suas atividades durante o dia, atendendo à escolas e o público infantil. O público adulto fica por conta dos eventos da FLIP e eventuais contecimentos paralelos promovidos pelas editoras como foi a leitura do livro O Príncipe de Maquiavel por Fernando Henrique Cardoso e Salman Rushdie.

Claro que falar da FLIP 2010 e não falar de Robert Crumb e Gilbert Shelton é um crime. Ambos exaltaram a feira e a cidade de Paraty, apesar de preferirem caminhar por entre as ruas em completo anonimato, mostrando mais uma vez que o lado recluso de ambos ainda permanece vivo. Crumb, se mostrando o verdadeiro ícone da contracultura, atacou ostensivamente a política americana dos últimos 30 anos, porém, em sua mesa, fez alarde sobre a banda local chamada “Os Curandeiros”, dizendo que eles é quem sabiam fazer um som bom na cidade, repleta de bares com música de cabaré.

E cá estamos nós, envoltos em cultura e se deliciando com estes dias em Paraty, vivenciando o estranho, o novo, o antigo e o absoluto, sabendo que por estas ruas, 400 e tantos anos de história se passaram, caminhando em pés carcomidos de escravos e hoje, torcendo os pés das moças desavisadas que pretendiam andar de salto alto por entre o seu calçamento antigo. Até mesmo o escritor e professor Terry Eagleton comentou sobre o calçamento durante sua palestra perguntando se o restante do país tinha este mesmo tipo de piso em suas ruas.

Em um mundo em que a loucura do trabalho nos permite pouco tempo de (des)envolvimento cultural, uma feira como esta acaba por criar uma oportunidade para que novos mundos sejam descobertos e explorados com afinco por todos aqueles que têm a devida curiosidade para tal. Agora, é esperar mais um ano pela próxima FLIP, com mais novidades, e quem sabe, maior abrangência de público, abrindo ainda mais suas asas.

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