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Resenha: Sangue e Gelo

Reconhecer um bom thriller é bem fácil. Entre os elementos de composição: a tensão, o suspense e a excitação estão entre os principais pontos para se iniciar uma narrativa, tudo isso amarrado a uma situação ameaçadora, um mistério ou uma armadilha da qual parece impossível escapar. No livro Sangue e gelo (Blood and ice, tradução de André Gordirro , 456 páginas, Objetiva) temos tudo isso e mais um pouco: o sobrenatural bate de frente com a ciência, vampiros e simples mortais compartilham a égide do caçador e presa, em um lugar onde não se pode se esconder, nem fugir, tampouco sobreviver perante a vastidão gelada do Polo Sul.

O livro tem tudo para ser um ótimo thriller, uma ambientação isolada, num cenário desolador, um personagem principal com um passado trágico, um mistério, uma história de amor e um segredo assustador. O autor, Robert Masello, nos apresenta uma história que parece sólida e que desmancha num final que desagradará alguns leitores. Mas, lembremos que a trama nos deixará vidrados até o final, mesmo com sua previsibilidade e os seus clichês.

A narrativa possui duas histórias que a principio não parecem ter algo em comum. Numa espécie de prólogo, a primeira história se passa em 1856, onde um veterano da Guerra da Criméia, Sinclair Copley – sobrevivente da carga da Brigada ligeira – e sua noiva, Eleanor Ames – uma das enfermeiras de Florence Nightingale – são atormentados por uma tripulação supersticiosa e incrédula, que acabam obrigando-os a caminhar pela prancha do navio e se jogarem ao mar. Já a segunda, 150 anos depois, um fotógrafo, Michael Wilde, atormentado pelo acidente que fez sua noiva entrar em coma irreversível, aceita participar de uma missão científica ao Pólo Sul. Ele espera pela chance de fotografar muita coisa que jamais tivera oportunidade de ver na vida: animais exóticos, icebergs imponentes, nevascas assustadoras. Mas dois corpos trajados em roupas vitorianas, perfeitamente preservados dentro de um bloco de gelo, são uma descoberta que vai além dos seus sonhos mais delirantes. As duas histórias se cruzam e passam neste momento a seguir o ritmo na perspectiva de Michael, com alguns flashbacks bem construídos. Isso mantém o leitor interessado em ambas as linhas da história e prolonga o suspense, mas também parece desacelerar o ritmo do romance.

O livro é uma mistura de ciência, criogenia, fantasia numa narração bem descritiva – a vida no continente mais inóspito da Terra é tão bem detalhada, que muitas vezes sentimos o frio em nossas orelhas – com tantas páginas, que abrange um terreno diverso para contar uma história bastante pequena. O protagonista, o tal do fotojornalista, não convence, a Eleanor e o Sinclair são melhores pelas lembranças da Guerra da Criméia, seus sonhos e o cotidiano como enfermeira e soldado, respectivamente. A visão de dois mundos mundos distintos também é utilizada, e ambos os personagens contam com seus conflitos de idéias e de mentes, ponto que Masello constrói com uma sutileza ímpar.

Embora tenha um bom estilo para uma narrativa de terror, Sangue e Gelo está mais para sci-fi, no melhor estilo Richard Matheson (I Am Legend) ou Brian Stlabeford (The Empire of Fear). Mesmo com a previsibilidade cativante, podemos notar que uma vez revelados os segredos, a trama perde o foco e se dirige a um insatisfatório final. Por fim, vale a leitura, pela descrição de uma história em um cenário tão insólito. Ressalto ainda, o olhar perdido da mulher na capa, assusta de longe. O livro poderia ter sido melhor, mas consegue entreter.

[xrr rating=3/5]
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