Alguém vai protestar pelas Pussy Riot?

Alguém vai protestar pelas Pussy Riot? – Ambrosia

O mundo está cada vez menor. Esta é a máxima propagada por todos por causa da internet de alta velocidade, pelos celulares de última geração e os equipamentos que encantam pela facilidade de armazenar e acessar os mais diversos arquivos digitais. Ora, se o planeta esta menor em suas distâncias, os acontecimentos também voam na mesma velocidade. Hoje a informação, útil ou não, nos chega de várias formas e em diferentes lugares. Vejo tudo isso com alegria e espanto, e me pergunto: ‘Por que afinal de contas o problema das Pussy Riot não chegou até aos nossos artistas?”

Só pra relembrar: as Pussy Riot são três garotas de uma banda punk russa que tiveram a coragem (e um pouco de ingenuidade) de bater de frente com o todo-poderoso Presidente Putin, ditador não-confesso mas simpatizante de países comandados por regime autoritários. Uma delas já foi liberada, ficando as outras duas com sua sorte indefinida nas máos do governo russo e com a sombra da igreja a atemorizar o futuro.

Pela Europa toda, artistas lançaram protestos, até a rainha-do-marketing-fajuto Madonna se mostrou chocada com a prisão e suposta condenação das meninas.

Alguém vai protestar pelas Pussy Riot? – Ambrosia

Já os músicos brasileiros não colocaram uma notinha no jornal! Não fizeram um minuto de silêncio no lançamento de seu novo, e aguardadíssimo CD sobre coisa alguma. Sim, estão todos envolvidos em causas sociais, fazendo canções que tratam do mensalão, grupos de extermínio, metrópoles à beira do caos ou a tão propalada desigualdade social. Claro que eu to de brincadeira. Os artistas de nossos país vivem num oba-oba e abastecem com besteiras românticas ou idiotices dançantes a indústria de TV, Rádio e Cinema onde a máxima dos Césares (Se não tiver pão, dê-lhes circo”) foi empobrecida para uma versão cada vez mais suja: “Caso falte algo, dê-lhes qualquer coisa”. Palavras fortes pra exemplificar esta letargia sufocante que foi feita pra ludibriar o cidadão comum e levá-lo a consumir lixo como se fosse artigo de luxo.

Assim vamos caminhando em meio às pequenas tragédias cotidianas e consumindo música da pior qualidade. Alguém pode até argumentar que isso acontece no mundo todo, sem saber o que fala e tentando minimizar esta mediocridade que é a atual música brasileira, onde se salvam meia dúzias de artistas relevantes. E eu continuo a me perguntar: “Por que ninguém ainda falou das Pussy Riot ?”

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Comentários 1
  1. Infelizmente, a maioria dos músicos prefere tocar o que o público espera deles. Poucas pessoas se importam com causas sociais, e a maior parte delas não quer ir a um show ouvir estrofes que denunciem a truculência policial, a desapropriação de moradores para dar lugar a um projeto esportivo mundial megalomaníaco, e toda a sorte de injustiça social livremente praticada neste país. É como ocorre com a, cada vez mais evidente, “involução” do teatro brasileiro que, apesar de ter dado alguma voz à temática social, geralmente o fazia com a importação, ou apropriação da ideia vinda de outros países. O público, em geral, sempre demonstrou predileção pela comédia, como via de ignorância da sua realidade social. E hoje esse aspecto é tão forte que o espaço teatral é majoritariamente direcionado pro gênero da comédia obscena, avacalhada e ofensiva. O que também se aplica ao espaço musical, na qual tendência da produção de cunho social deriva na maior parte daqueles que vivem uma realidade desfavorável, das minorias sem voz que por meio da música tentam reverberar seus ideais de humanização. O maior exemplo que vejo disso no Brasil é o punk que na própria música, estendendo-se também para o movimento (mas mantidas as devidas variações), tem em sua base o ato de contestar, publicar materiais de cultura independente, propagar críticas sociais no propósito de acordar a sociedade que escolheu viver no modo de torpor em sua zona de conforto conservadorista anti-pobres, negros, indígenas, gays, feministas, dentre outros. Benjamim Constant, no início do séc. XIX, já criticava a realidade da época na qual o avanço da indústria e do comércio no Brasil não permitia mais que as pessoas dispusessem de tempo para se dedicar às questões sociais, pois agora o que se busca é a felicidade individual, num campo de interesse limitado apenas a si mesmo, onde todos se vêem desresponsabilizados pelo social (dever delegado ao Estado e somente a ele), reservando sua grandiosa participação político-social para o pleito, a cada 4 anos…
    Gostaria muito de estender a discussão, mas reconheço que este é um espaço direcionado à opiniões, e creio que já concluí essa parte aí acima. Enfim, espero ter reforçado a reflexão proposta pelo texto.

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