O Call The Police deu o pontapé inicial da sua nova turnê pelo Brasil (e América do Sul) na última quinta-feira (29/08) no teatro Oi Casagrande, no Rio de Janeiro. A essa altura, os fãs de The Police já sabem bem do que se trata. É o projeto que une o agora ex-Barão Vermelho Rodrigo Santos e João Barone dos Paralamas do Sucesso para fazerem um tributo à banda inglesa com um convidado especialíssimo: o guitarrista Andy Summers, um dos vértices do triângulo composto também por Sting e Stewart Copeland. Juntos fazem um show eletrizante que vem conquistando cada vez mais adeptos, haja vista a lotação de mais de mil lugares praticamente esgotada.
A coisa mais legal do CTP é proporcionar um clima festivo, no qual palco e plateia comungam o amor pela banda inglesa. Certamente isso dá ao homenageado uma sensação especial, tanto que essa ação entre amigos está ganhando vida mais longa do que a própria volta do Police, que se limitou a uma turnê entre 2007 e 2008. Até porque aqui não há pressão de gravadora, patrocinadores multinacionais, advogados determinando o percentual que cada um irá embolsar, essas amarras por trás de praticamente todas as grandes bandas internacionais, sobretudo no que tange a reuniões. Nessa empreitada com os brasileiros, é como se Summers pudesse experimentar novamente aquele despojamento prazeroso do qual as bandas acabam se afastando assim que chega o almejado estrelato.
Bastante à vontade, foi o guitarrista o responsável por fazer as honras saudando o público após as duas primeiras músicas da noite, ‘Synchronicity II’ e ‘Driven To Tears’. Mas em inglês, desculpando-se e alegando ainda ter dificuldades com o português, apesar de não ser nenhum novato na terra brasilis. Se estreia de turnê pode gerar um certo nervosismo, na noite de quinta-feira era só descontração. Até o erro na introdução de ‘Spirit In A Material World’ foi contornado com leveza e bom humor, como se fora proposital para quebrar a timidez da plateia sentada, já que o local é um teatro com poltronas – um show de rock pede mesmo uma pista, mas a excelente acústica compensou.
O trunfo do Call The Police é que a fidelidade na execução das músicas não anula a personalidade. Embora Rodrigo emule com perfeição a voz e o baixo de Sting, há um tempero diferencial, o mesmo da parte de Barone, que faz as vezes de Copeland procurando encaixar, mesmo que sutilmente, uma malemolência só nossa na condução da bateria. É sem dúvida um combustível para Summers revisitar os clássicos de sua antiga banda. E muito compreensível a empolgação de Rodrigo ao comandar, junto com o colega e o ídolo, hits indeléveis como ‘Roxane’, ‘Walking on the Moon’ e ‘King of Pain’. A reverência que ele fez a Summers quando este abriu os acordes de ‘Every Breath You Take’ – uma das introduções mais marcantes da música pop, apesar da (ou talvez pela) simplicidade – só corrobora o regozijo.
Ainda houve uma bela homenagem a João Gilberto, já na volta para o bis, para a qual Summers chamo ao palco Roberto Menescal. Foi a forma do guitarrista inglês retribuir a receptividade dos brasileiros toda vez que vem aqui. A história é divertida. Menescal revelou que Summers ligou para ele e disse que queria agradecer ao Brasil fazendo uma homenagem ao baiano, falecido em julho desse ano. No banquinho e violão, bem ao estilo de João, tocaram ‘Chega de Saudade’. “No Japão, quando a gente toca essa música, só é preciso a primeira estrofe, o restante a plateia canta direitinho. Vocês aqui tem que cantar no mínimo igual aos japoneses”, brincou Menescal. No final da canção, foram efusivamente aplaudidos de pé.
A banda retornou ao palco e Rodrigo pediu para que todos permanecessem de pé. Nem precisava. Finalizando, vieram mais hits: ‘So Lonely’ e ‘Every Little Thing She Does Is Magic’. A atual turnê deve ganhar um DVD. Fica a torcida pois o show do Call The Police merece um registro. A turnê continua pela América Latina, mas com robustez para se estender a outras partes do mundo.
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