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Clássico e polêmico, Sticky Fingers, dos Rolling Stones, completou 40 anos

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“Sticky Fingers” foi gravado durante a fase mais negra dos Rolling Stones, logo após o falecimento do guitarrista Brian Jones e o desastroso concerto em Altamont, no qual quatro pessoas morreram, uma delas assassinada pelos seguranças do evento. Lançado em 1971, foi o nono álbum de estúdio da banda e o primeiro produzido pelo selo dos próprios Stones, o que lhes garantia maior liberdade criativa. O lançamento provocou polêmica não só pelas citações a drogas que aparecem em várias faixas, mas também pela capa provocativa, concebida por Andy Warhol. Considerada obscena, a foto da capa foi censurada e substituída em alguns países, como a Espanha.

O clima do disco é sombrio, lúgubre. A devastação emocional causada pela vida desregrada, confusões amorosas e consumo exagerado de álcool e drogas é o tema implícito de quase todas as canções. Até a volúpia característica da música dos Stones aqui aparece de forma estranha, mais agressiva que de costume.

Capa original do disco.

A faixa de abertura é “Brown Sugar”, canção de trabalho típica dos Stones, com clima animadinho e um riff de guitarra parecido com dezenas de outros criados por Keith Richards. A letra confusa fala sobre tráfico de escravos e sexo, e está entre as piores já escritas por Mick Jagger, mas a canção possui um refrão grudento e tornou-se o maior hit de “Sticky Fingers”. O disco fica bem mais interessante a partir da terceira faixa, “Wild Horses”, balada de sotaque country, com os violões tocados por Mick Taylor criando uma textura delicada sobre a qual os solos da guitarra de Richards soam tristes e contidos, mas intensamente melódicos. Jagger parece cantar com o coração dilacerado e, para manter o clima depressivo, Charlie Watts toca sua bateria como se mal conseguisse suportar o peso das baquetas.

Como nos dois álbuns anteriores, “Beggars Banquet” e “Let it Bleed”, em “Sticky Fingers” os Stones buscam inspiração principalmente em ritmos tradicionais americanos. “You Gotta Move” é a regravação de um antigo blues, com o violão em primeiro plano tocado com habilidade e sentimento por Richards, e Jagger cantando com uma voz meio caricatural, como se tentasse imitar os velhos cantores do Delta do Mississipi. “I Got the Blues” é uma canção soul ao estilo da tradicional gravadora Stax Records, que tinha entre seus músicos mais famosos o cantor Otis Redding.

Capa bizarra com a a qual o disco foi lançado na Espanha.

“Bitch” abre o lado B (do vinil) com riffs de guitarra marcantes, como os de “Brown Sugar”, mas aqui o clima é mais tenso, a sonoridade é mais despojada e os solos de guitarra e arranjos de metais se encaixam com perfeição. A letra, sobre o esgotamento e a frustração provocados pelo amor, é cantada em um tom queixoso e com certa dose de raiva.

“Sister Morphine” é a composição mais sombria deste disco e talvez de toda a carreira dos Stones. A letra escrita por Marianne Faithfull narra a agonia de um viciado em um hospital. A canção começa com alguns acordes tristonhos do violão de Richards, tocados com uma batida seca. Logo entram os vocais, um fiapo de voz de Jagger, que vai crescendo ao longo da música até se tornar um lamento desesperado. Jagger canta sem afetação, sua emoção parece genuína, talvez porque soubesse que aquela pessoa implorando por morfina bem poderia ser ele próprio. Uma slide guitar tocada por Ry Cooder surge ainda na primeira parte da música, mais alta que o violão, com um timbre estranho e escuro. Jack Nitzche também participa da gravação, tocando um piano que soa fantasmagórico. “Sister Morphine” já havia sido lançada em um compacto de Marianne Faithfull em 1969, com alguns dos Stones tocando os instrumentos, mas a versão presente em “Sticky Fingers” é musicalmente superior e bem mais assustadora.

Perto do final do disco o clima fica um pouco mais leve. “Dead Flowers” é um country rock irônico que faz alusão ao uso de heroína e fala de um junkie pobretão que desdenha de uma mulher rica. “Moonlight Mile” encerra o disco de modo inesperado. Começa com uma melodia vagamente oriental tocada no violão por Mick Jagger, enquanto um arranjo de cordas vai se tornando suntuoso e dialoga com os sons delicados de um piano. Jagger fala com cansaço, mas também alívio, sobre voltar pra casa após um dia de trabalho exaustivo. Um final relativamente suave após uma seqüência de canções perturbadoras.

[xrr rating=5/5]

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