Música

Dado e Bonfá encerram a turnê em clima de “pais e filhos”

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Fotos: Patrícia Moura

Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, remanescentes da Legião Urbana, encerraram na noite do último domingo (dia 18), no Circo Voador, a turnê Legião Urbana XXX Anos. A turnê, iniciada em 2015, comemorava os 30 anos do disco de estreia, que levava o nome da banda. Seriam, a princípio, duas noites na casa localizada na Lapa carioca. Porém, a procura por ingressos forçou a abertura de uma terceira data (também esgotada). Normal em se tratando de Legião Urbana, que, em sua derradeira turnê há 22 anos, também teve lotação esgotada e datas extras em várias cidades brasileiras (inclusive aqui no Rio).

Para os puristas, vale ressaltar que não se trata de uma “volta” da Legião. A Legião Urbana era Renato Russo. Dado e Bonfá estavam ali por que ele sonhava desde a adolescência em ser vocalista de uma banda. Negrete (falecido em 2015) entrou como baixista porque Renato cortara os pulsos em uma tentativa de suicídio, ficando impossibilitado de tocar.

Hoje Dado e Bonfá são os guardiões do legado da Legião e o fazem muito bem. Como a data extra ocorreu em um domingo, o Circo decidiu realizar a festa em um horário de “matinê”, à sete e meia da noite (as apresentações na casa costumam ocorrer à meia-noite às sextas e sábados). E foi permitida a entrada de crianças e adolescentes com seus pais, proporcionando uma experiência para pais e filhos, como no título do grande sucesso da banda do disco “As Quatro Estações”.

O show se divide em duas partes: a primeira é a execução na íntegra do disco Legião Urbana, que traz os sucessos ‘Será’, ‘Teorema’ e ‘Por Enquanto’. Nessa primeira parte, André Frateschi assume os vocais (Dado e Bonfá também fazem as honras) e a iluminação do palco remete aos shows da Legião nos anos 80 e 90. Projeções de slides fazem referência ao contexto do país na época (não tão distante da realidade atual). Na segunda parte, o palco ganha lâmpadas incandescentes (uma tendência em shows hoje em dia) e começa o Greatest Hits.

Se o jogo já estava ganho, chega a hora da goleada. Nessa parte ficou bastante claro que Frateschi não é “o” novo vocalista da Legião, pois alternou o posto com Dado, Bonfá e convidados. Dado abriu os trabalhos do segundo ato com uma eficiente versão de ‘Tempo Perdido’. Frateschi voltou retornou em ‘Daniel na Cova dos Leões’. Depois ‘Há Tempos’, começou o segmento “karaokê” do show.

Primeiro subiu ao palco o ator Wagner Moura, fã confesso da Legião, que havia feito shows com Dado e Bonfá em 2012 e 2013. Muitos o criticaram na época por seu desempenho irregular. Acertava em algumas músicas e deslizava em outras. Dessa vez, as duas escolhidas foram justamente as que estavam entre seus acertos no tributo de 2012: ‘Sereníssima’ e ‘1965 (Duas Tribos)’.

O segundo convidado foi Jonathan Doll, que fez suas versões de ‘Fábrica’ e ‘Tédio (com um T bem grande pra você)’, com direito a uma descida no meio da plateia. Buscou compensar de forma performática a falta de técnica vocal. Não a toa escolheu duas músicas de pegada punk para não correr riscos. Já a terceira convidada, Marina Franco, foi o elo fraco das participações especiais. Sua versão de ‘Dezesseis’ (única música de “A Tempestade” no setlist) deixou a desejar, assim como seu dueto com Frateschi em ‘Meninos e Meninas’.

Bonfá surpreendeu trocando de lugar com Frateschi e assumindo a dianteira em ‘Pais e Filhos’. As crias dos dois legionários subiram ao palco tocando guitarra (de base, claro), em plena comunhão com o perfil da plateia, formada, em boa parte, de pais acompanhados dos filhos. Mas vale lembrar que, como tantas outras letras de Renato, o cunho é muito mais sombrio do que se supõe. A música é sobre suicídio. Quando o vocalista retoma o posto, tem sua melhor performance da noite em ‘Angra dos Reis’.

Na música seguinte, ‘O Teatro dos Vampiros’, quem fica a cargo dos vocais é Dado. Sua interpretação fica bastante aquém da do colega Bonfá no tributo à Legião do Rock In Rio de 2011. ‘Índios’ encerra a parte regular do show. A alternância do trio principal nos vocais surtiu um bom resultado.

Na volta para o Bis, Dado pergunta se a plateia, que que se manteve indócil até a volta da banda, ao palco estava preparada para 9 minutos. É a deixa para o épico ‘Faroeste Caboclo’. Frateschi bem que se esforçou, mas ficou claro ali que só Renato Russo era capaz de narrar a saga de João do Santo Cristo com a grandiosidade devida. Encerrando a apresentação, veio a inflamada ‘Perfeição’ e o hino ‘Que País é Esse?’, que, além do já tradicional “é a porra do Brasil”, contou gritos de “Fora Temer!” da plateia.

O que fica da apresentação é que acima do cunho comercial que (obviamente) existe, está o respeito de Dado e Bonfá pelo legado de Renato e pelo público. Os músicos de apoio Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo) e Roberto Pollo (teclado) ajudavam a dar estofo ao som. Se a ideia era proporcionar uma experiência que se aproximasse dos shows da Legião dos anos 80 e 90, a dupla foi bem sucedida. O peso, a emoção e alma estavam ali. Foram duas horas e meia e ainda faltou hit. Em alguns momentos podia-se até sentir a presença de Renato no palco. E ele merece esse tributo.

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