Há quem questione se o Måneskin é de fato a “salvação” do rock. O mesmo ocorreu com Nirvana, Oasis, Strokes, Greta Van Fleet, ou seja, nos últimos 30 anos, quando uma banda nova se projeta é logo laureada pela imprensa musical como a salvação do rock para logo chegarem os céticos (e detratores) colocando o título em xeque. No caso do quarteto italiano formado em Roma, em 2016, que se destacou vencendo o Eurovision 2021, alguns menosprezam seu condão para criar hits sólidos, uma vez que seu maior sucesso, ‘Begging’, é na verdade um cover do The Four Seasons. Entretanto, essa dúvida já pairou até sobre os Rolling Stones em seu início, banda para qual o Måneskin já fez abertura. Mick Jagger não se furtou a declará-la a maior banda do mundo na atualidade. Se o líder da maior instituição do rock diz isso, quem somos nós para contestar?
E essa discussão é irrelevante para a massa que compareceu ao Qualistage na noite de ontem (1º), no Rio de Janeiro, para conferir o primeiro show no Brasil da RUSH! World Tour. Pouco mais de um ano após a apresentação no Rock In Rio, em que se apresentou abrindo para o Guns N’ Roses, precisando ganhar a adesão da plateia que e m sua maioria estava ali para ver Axl Rose, Slash e Duff, agora eles tiveram a oportunidade de jogar exclusivamente para a sua torcida.
Às 22h03, com um atraso de apenas três minutos, o que se pode considerar ainda dentro da pontualidade, as luzes da casa se apagaram e sob gritos quase ensurdecedores dos fãs foram adentrando o palco o guitarrista Thomas Raggi, o baterista Ethan Torchio, a baixista Victoria De Angelis e o vocalista Damiano David. A faixa do novo disco “RUSH!”, ‘Don’t Wanna Sleep’ abriu os trabalhos, cantada a plenos pulmões pela plateia majoritariamente jovem (com alguns roqueiros veteranos curiosos na pista), dando o tom do que viria a ser a noite. A música seguinte, ‘Gossip’, também faz parte do novo trabalho e tem participação de Tom Morello na gravação. Fechando a trinca de abertura, a primeira do setlist da fase do estouro do quarteto, ‘Zitti e Buoni’, estremeceu a casa de shows da Barra da Tijuca.
Era nítido como as músicas do novo trabalho como ‘Gasoline’, ‘Bla Bla Bla’ e ‘The Loniest’ já estão na ponta da língua dos fãs. ‘Mamamia’ e ‘Supermodel’ já podem ser consideradas cavalos de batalha. Com o público na mão, o quarteto pôde se dar ao luxo de executar seu grande hit antes da metade do show. ‘Begging’ foi a sétima do repertório, acompanhada com entusiasmo até pelos recém-chegados.
Uma das principais características do show do Måneskin é a interação com os fãs, e no Rio não foi diferente. Os músicos por diversas vezes desciam ao pit para ter um contato mais intenso com a plateia, eventualmente até se jogando sobre o público (com o suporte da segurança, é claro). No meio da apresentação, Damiano e Thomas passaram pelo meio do público da pista premium – alguns incrédulos com a ousadia, ainda que houvesse escolta dos seguranças – e se dirigiram a um palco instalado no meio da plateia. Ali, bem próximo de quem estava na pista comum, tocaram ‘Vent’Anni’ (que não estava prevista), com o guitarrista no violão. Em seguida, surpreenderam a plateia com um cover de ‘Exagerado’, de Cazuza, tocado na guitarra elétrica por Thomas e cantado em um português bastante digno de Damiano, que se desculpava por não falar o nosso idioma, tão próximo do italiano, e se dirigir ao público em inglês. E quem achava que a aproximação com o público ficaria por aí, na música ‘Kool Kids’, última antes do bis, eles convidaram várias garotas para subirem ao palco, no melhor estilo Iggy Pop.
O setlist trouxe como novidade ‘Livid Sui Gomiti’, que ainda não havia sido tocada nessa turnê. O show se encerrou com uma reprise de ‘I Wanna Be Your Slave’, em versão mais longa. Não precisava, a banda tem repertório suficiente para não recorrer a repetição de música. Em cena, os quatro se mostram maduros e completamente confortáveis com o status que alcançaram. Thomas é o virtuoso, enquanto Damiano se reveste de todos os requisitos de um frontman, com presença de cena, transmitindo sensualidade e entono. Mas sabe que divide a atenção dos holofotes com Victoria, que conquista os fãs com seu talento no baixo, carisma e beleza. Não era difícil observar diversos clones da moça na plateia e entre as felizardas que se juntaram à banda no palco. E Ethan se mostra um baterista competente ao vivo e presenteou os fãs com baquetas ao fim da apresentação.
O primeiro show solo do Måneskin no Rio de Janeiro serviu para mostrar, de forma ainda mais assertiva que no último Rock In Rio, no que se fundamentaram as considerações sobre a banda como a salvação do rock. Seguem a cartilha do que fez o gênero se tornar o mais influente do século passado (a rebeldia, a sensualidade e o apelo visual) com um frescor pronto para consumo da nova geração. A vibrante e potente performance vista na noite de ontem deixou aliviados aqueles que temiam pela sobrevida do gênero.
Setlist:
DON’T WANNA SLEEP
GOSSIP
ZITTI E BUONI
HONEY (ARE U COMING?)
SUPERMODEL
CORALINE
Beggin’ (Cover de The Four Seasons)
THE DRIVER
FOR YOUR LOVE
GASOLINE
Acústico:
VENT’ANNI
Exagerado (Cover de Cazuza)
Set 2:
I WANNA BE YOUR SLAVE
MAMMAMIA
LIVIDI SUI GOMITI
IN NOME DEL PADRE
BLA BLA BLA
KOOL KIDS
Bis:
Solo de guitarra
THE LONELIEST
I WANNA BE YOUR SLAVE (Extended version)
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