Mariano Marovatto atualiza “Funeral de Um Lavrador” em releitura crua

O cantor, compositor e instrumentista carioca Mariano Marovatto segue revelando sua interpretação para grandes composições do cancioneiro nacional que irão formar um EP de releituras. Após singles onde reimagina Sérgio Sampaio (“Filme de Terror”) e Itamar Assumpção (“Sutil”), o artista se debruça sobre a intensa “Funeral de Um Lavrador”, canção de Chico Buarque originada de um poema de João Cabral de Melo Neto. A faixa narra uma história trágica que muito se assemelha à do Brasil de 2021.

Mariano Marovatto recebe dois representantes da nova e efervescente geração de músicos cariocas de renome internacional para contextualizar “Funeral de Um Lavrador” para os tempos atuais. Ricardo Dias Gomes e Thiago Nassif, elogiados por veículos como The Wire e Pitchfork, constroem essa sonoridade onde o descalabro se traduz em crueza. A mixagem e a masterização do single foram feitas na Patagônia pelo produtor argentino Martin Scian, responsável pelo som de álbuns como “Blam!Blam!” (2015), de Jonas Sá, e “Little Electric Chicken Heart” (2019), de Ana Frango Elétrico – ambos indicados ao Grammy Latino.

A gravação diz respeito ao envelhecimento dos ideais utópicos do Brasil do século XX. “Funeral de um Lavrador” possui ainda os mesmos versos de Cabral e a harmonia de Chico, mas sua sonoridade é saturada, suja e obstruída. O mesmo processo de deterioração está presente na capa (uma foto do sertão nordestino, anônima, velha e pixelada). A arte é de autoria do artista gráfico e cineasta paulista Pedro Colombo.

O trecho do poema “Morte e Vida Severina” que transformou-se nesta canção de Chico Buarque narra o enterro de um trabalhador de eito, um plantador, testemunhado por Severino, o retirante nordestino que é personagem principal do texto. Em 1965, o jovem Chico Buarque, a pedido do grupo teatral paulista TUCA, musicou o extenso poema de Cabral para o palco. A canção se tornaria icônica na obra dos dois autores.

Não por acaso, “Funeral de um Lavrador” foi escolhida por Marovatto para interpretar músicas de décadas passadas que ainda ressoam com o Brasil da atualidade.

“A arrancada neoliberal radical fascistóide à brasileira – na qual o neoliberalismo não é apenas um modelo econômico, mas também modelo de vida e de ‘gestão de sofrimento psíquico’ (conforme afirma Christian Dunker) – destituiu de vez a utopia moderna de país, projetada pelas gerações de Cabral e de Chico. Sob a sombra da pandemia, versos como ‘não é cova grande, é cova medida’ e ‘é a parte que te cabe deste latifúndio’ ganham atualidade no Brasil de 500 mil novas e evitáveis sepulturas”, resume Mariano.

De volta ao Brasil depois de uma temporada de três anos em Portugal – onde lançou o álbum folclórico experimental “Selvagem” (2016), seu terceiro trabalho solo -, Mariano Marovatto faz uma reconexão com as suas raízes brasileiras. Artista múltiplo, publicou livros como “Estirâncio” (7Letras, 2019), e “Vinte e cinco poemas”, em parceria com Chico Alvim (Luna Parque, 2015), além dos discos “Aquele amor nem me fale” (Bolacha, 2010), “Praia” (Maravilha 8, 2013) e “Selvagem” (Embolacha, 2016).

Recentemente organizou “Doutor Caneta”, reunião de contos do poeta e compositor Cacaso (Companhia das Letras, 2020), e a versão em português de “Silêncio”, o grande livro do compositor norte-americano John Cage (Cobogó, 2020). Doutor em literatura brasileira pela PUC-Rio, Mariano foi também apresentador e roteirista do programa musical Segue o Som na TV Brasil entre 2009 e 2016.

Durante a quarentena, o artista começou a trabalhar em uma série de canções autorais e versões para expandir suas fronteiras. O EP de releituras, “Canções para a Juventude”, será lançado em julho reunindo, além dos três singles, outras duas canções – uma de Bartô Galeno e outra de Odair José. O artista reserva a outra metade de 2021 para o lançamento de seu próximo disco, ainda sem título. Enquanto isso, é possível ouvir “Funeral de um Lavrador” nas principais plataformas de streaming.

 

 

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