Olívia de Amores canta em “Não é Doce” dualidades dos recomeços e amadurecimento

Empunhando sua guitarra e suas memórias, Olívia de Amores faz um som ao mesmo tempo delicado e sujo, com reflexões pessoais, sociais e urbanas que refletem as perdas e mudanças que guiam a vida adulta. Essa é a base para “Não É Doce”, disco com produção de Bruno Prestes e masterização do vencedor do Grammy Steve Fallone (Strokes, Tame Impala, Kacey Musgraves).

Como o nome e a capa do disco antecipam, o trabalho enfrenta o amargor da vida, como se fosse parte do que move as pessoas para o crescimento. Olívia ganhou reconhecimento na cena independente amazonense com o trio Anônimos Alhures, com quem tocou e cantou por 10 anos no começo dos anos 2000.

Vendo as canções que guardava na gaveta desde a adolescência, ela notou que tinha um caminho criativo diferente por vir. Tudo mudou no fim de 2016 e começo de 2017, quando a vida de Olívia virou de cabeça pra baixo. Ela passou por uma sequência de perdas: a morte da bisavó e uma das principais bases familiares, de uma amiga e o término de um longo namoro foram os impulsos para questionar seus rumos, se trancar em estúdio com Prestes, aprender novos instrumentos e começar a trabalhar em suas canções. Paralelamente, a compositora passou a traduzir as interpretações das músicas em imagem, exercitando atividades de direção e roteiro, com o produtor audiovisual Thiago Looney e a produtora Zenistesia.

O resultado é uma obra que caminha por diversos pontos do espectro emocional, apresentando facetas não românticas do amor em uma narrativa carregada de dor e esperança. “Amores não são – sempre – doces: envolvem luto, raiva e movem as pessoas a renascer, ressignificarem-se”, reflete Olívia. Durante a produção do disco, ela ocupou todas as frentes do processo criativo, tocando todos os instrumentos presentes e tratando da parte visual do disco, que já conta com 7 clipes lançados – e dirigidos pela artista -, um game para celulares para a música/clipe “Só Vamo” e um curta-metragem, que será lançado após o álbum musical.

“Não é Doce” coroa uma trajetória rica e mostra todas as facetas de Olívia – de compositora, instrumentista, intérprete, roteirista e diretora. O disco está disponível em todas as plataformas de streaming.

Olívia de Amores canta em “Não é Doce” dualidades dos recomeços e amadurecimento – Ambrosia
Crédito: David Martins

Ficha técnica:

Musicista/instrumentista: Olívia de Amores

Participações: chimbais e surdo em Post-it Leonardo Pimentel

backing/coro em Plano Baixo: Bruno Prestes e Érica Tahiane

Produção e mixagem: Bruno Prestes

Masterização: Steve Fallone

Capa: David Martins

Assistente de fotografia e maquiagem: Lilian Cavalcante

 

Faixa-a-faixa, por Olívia de Amores:

01) La Cancionera: é a expressão mais óbvia da influência latina no álbum, o ápice da diversidade enquanto artista. Um discurso menos rebuscado sobre amor, uma linguagem simples, coloquial e sincera, como é natural nos bregas nortistas. Ao mesmo tempo, uma agressividade feminina, traduzida no rock largado no refrão e solo.

02) Post-it: tem uma alma saudosista, uma característica que se relaciona com o synth e guitarra oitentista. “Não vai esquecer de mim” é um pedido desesperado, ao mesmo tempo que é uma afirmativa segura direcionada a alguém e, enfim, um apelo por amor próprio.

03) Segunda-feira: é a canção do disco. Simples e rotineira como dirigir pela cidade, lembrando de alguém enquanto toca uma música no rádio. Uma balada que nasce acústica, caminha pra uma pista de dança em um ambiente eletrorrock e termina em arranjos de guitarra shoegaze.

04) Plano Baixo: trata de um relacionamento na meia-idade, em que a paixão esfria e, para que resista ao tempo, há que se refletir sobre temas como fidelidade e liberdade. Voar em plano baixo é ser livre sem partir. Mas remodelar um relacionamento também é despedida, é deixar ir, como demonstra o vídeo dessa música.

05) SANKYU: é um consolo para quem perde um ente querido, especialmente os avós, que têm passagens rápidas e transformadoras em nossas vidas. Esse consolo se dirige em especial a pessoas que não têm crença religiosa e precisam de conforto, para além da espiritualidade. Por isso, argumentos científicos, pragmáticos e lógicos preenchem de esperança os refrões de SANKYU.

06) Só Vamo: a única música inteiramente feliz de Olívia de Amores, rápida como a adrenalina que acontece quando se apaixona.

07) Abisso: é um estado de espírito. É, primeiramente, notar sentimentos bizarros dentro de si e se perceber uma criatura que habita o abisso oceânico: feia, em meio a um ambiente inóspito e frio, sob extrema pressão. E, ao fim dessa experiência de autoconhecimento, emergir pra luz.

08) Mana: é sobre empatia, amizade, depressão e sororidade. Perder uma pessoa amada para a depressão inevitavelmente incute reflexões sobre como ser mais útil e presente para alguém que sofre ou, quando nada disso funciona, apenas entender a dificuldade de “sentir e ser”.

09) Janela Remota: é um roteiro musicado. Fala de alguém que, pela forma poética que trata o amor, é interpretado como um romântico. Aos poucos, revela-se a obsessão de um observador que enquanto fantasia amores inatingíveis por uma estranha, negligencia a companheira omitida na narrativa.

10) Brado Apocalíptico: Por que temer o fim do mundo, se cada um de nós viverá um apocalipse pessoal, uma morte em hora e local específicos? Um brado é um grito repetitivo mantido durante marcha, uma forma corajosa de caminhamos pro fim. Nesse percurso, nós atuamos nossas vidas, o que não necessariamente é ruim: “a atriz não mente, a atriz vive a ficção”. O que é ficção na tela e no palco, pode ser realidade para outras pessoas e, assim, a atriz chora e sente hipotéticas emoções. É difícil diferir as partes da nossa vida que a gente viveu e que a gente atuou. Ser valente, por exemplo, pode ser algo inato e espontâneo, mas, diante de uma situação em que alguém se sente incapaz de lida, também pode ser uma atitude atuada, um mecanismo de resistência – o que é igualmente válido e lindo.

Total
0
Links
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ant
Malik Mustache se une a Tau em “Dirty Town”

Malik Mustache se une a Tau em “Dirty Town”

A superação de um relacionamento em crise marca o clipe de “Dirty Town”, nova

Prox
As 12 composições mais épicas da Legião Urbana

As 12 composições mais épicas da Legião Urbana

Se fosse vivo, Renato Russo estaria completando hoje (dia 27 de março) 60 anos

Sugestões para você: