As conturbações que envolvem a criação de um disco por conta de pressões contratuais, criativas e rotineiras podem provocar resultados marcantes, e “marcantes” pode ser entendido como algo positivo ou negativo dentro do mercado da música, constatando a clássica regra-exceção de que “não existem regras”. Foi assim também com o Pink Floyd, que começava a viver um período de bizarrices internas e externas após o término da turnê do álbum Wish you were Here, com os integrantes David Gilmour, Nick Mason e Rick Wright acreditando que já tinham atingido um nível de sucesso impossível de ser superado por si mesmos – mas não era assim que Roger Waters pensava e, por volta de 1976, ele já trabalhava no novo álbum da banda.
Animals é realmente um divisor de águas na carreira do Floyd pelos motivos mais diversos possíveis. Neste ano a banda enfrentava a popularidade absurda como só os Beatles haviam alcançado e, ao mesmo tempo, o ódio proveniente do movimento punk – para quem não sabe, ou não se lembra, o produtor Johnny Rotten, um dos grandes ícones do punk, usava uma camiseta com os dizeres “I HATE PINK FLOYD” – mas independente disso o trabalho de Water já havia começado a composição do novo álbum. Na verdade, as primeiras músicas já existiam, de forma bem crua, sendo tocadas na turnê anterior. Elas se chamavam Raving and Drooling (que depois se tornou Sheep) e Gotta be Crazy (que se tornou Dogs), mas foram melhor arranjadas e acabadas para o vindouro novo álbum.
Roger Waters já tomava na banda o lugar de líder dela, e suas brigas com os outros integrantes começavam a surgir pesadamente, principalmente com Rick Wright, tecladista do Floyd. Sua base para composição de Animals foi o livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell, que foi utilizado não só como grande fonte de inspiração, mas também combinava muito com os pensamentos do baixista sobre a sociedade, fazendo com que ele exteriorizasse suas opiniões em formas de letras e das músicas mais agressivas da carreira da banda. Todo o sistema capitalista é criticado de forma extremamente ácida, bem como o governo de ferro de Margaret Thatcher e até Mary Whitehouse, moralista inglesa e inimiga assumida da banda.
[veja aqui as letras traduzidas do álbum]
Animals foi o primeiro álbum em que apenas uma música é cantada e composta por Waters e Gilmour; todo o restante é apenas de Waters.
A Turnê – In the Flesh
A estratégia de marketing do Pink Floyd para a turnê In the Flesh foi uma das mais agressivas da história da música, preenchendo páginas inteiras de veículos como o The New York Times e a revista Billboard. Durante os shows, Waters começou a exibir mais e mais seu comportamento agressivo, se relacionando abusivamente com o público que não parava de gritar durante o intervalo de cada música nos shows. Somando esses fatores com a impaciência do baixista com relação a todo o restante da banda, sua personalidade estava impossível de se lidar, culminando numa situação muito bizarra em Montreal em 1977, no último show da turnê.
O que aconteceu com Waters foi o excessivo cansaço e a constante falta de vontade do restante da banda constatada durante a gravação, promoção e turnê deste álbum, fatores que foram se somando à sua personalidade que se tornava cada vez mais egocêntrica, até por sua postura como líder absoluto do grupo. Isso tudo foi colocado num recipiente incendiário quando o público berrava e soltava fogos de artifício em meio aos shows em acessos de loucura e êxtase nunca vistos antes, fazendo com que, neste famigerado show de Montreal, o baixista cuspisse na cara de um fã ensandecido. Esse evento foi o clímax de toda a falta de paciência dele com seu trabalho, e foi a semente que gerou, anos depois, The Wall.
Mesmo que o álbum Animals não tenha sido comercialmente tão bem sucedido quanto os outros dois anteriores, a banda conseguiu lotar estádios de capacidades maiores que 95 mil pessoas, um feito inédito para a época. O palco também era o mais bem produzido daquele momento da história da música, sendo referência até hoje: ele se abria como grandes portas, era altíssimo e rodeado de bonecos de animais gigantes, com muitas luzes (sendo que algumas se andavam pelo palco com sistemas programados), um telão imenso com imagens projetadas
Abaixo vocês podem ver dois vídeos das poucas cenas filmadas desta turnê com algumas fotos em altíssima qualidade [Nota: é perceptível que Waters faz pouquíssimo caso do público em vários momentos]:
https://youtu.be/7rtEEiWXbME
https://youtu.be/RLlJcH1DNXg
Mas mais que um álbum marcante, denso e perturbador, e mais que uma turnê mundial sem precedentes e culminada num evento bizarro e conturbado, Animals foi o alicerce do maior muro já criado no mundo artístico: ele foi o primeiro passo para a criação e composição de The Wall.
Set list da turnê:
Set I – Animals:
- * “Sheep”
- * “Pigs on the Wing 1”
- * “Dogs”
- * “Pigs on the Wing 2”
- * “Pigs (Three Different Ones)”
Set II – Wish You Were Here:
- * “Shine On You Crazy Diamond (Parts I–V)”
- * “Welcome to the Machine”
- * “Have a Cigar”
- * “Wish You Were Here”
- * “Shine On You Crazy Diamond (Parts VI–IX)”
Encore:
- * “Money”
- * “Us and Them”
- * “Careful with that Axe, Eugene” (tocada uma vez em Oakland, Califórnia)
- * “More Blues” (tocada uma vez em Montreal, Canadá)
PQP Animals é foda demais, mais ainda prefiro o Dark Side Of The Moon
Eu piro com Money e The Great Gig In The Sky.