American Vampire: De volta ao Status Quo

American Vampire: De volta ao Status Quo – Ambrosia

Em agosto do ano passado o mestre Gaiman concedeu uma entrevista à Entertainament Weekly (traduzido aqui) no qual discorria a respeito desta febre vampiresca que assola as diferentes mídias do mainstream na atualidade. O escritor britânico declarou que o fenômeno se propagava em ondas e que suas representações caracterizavam-se como sendo um estilo atemporal, porém mutável. Como últimas palavras, Gaiman previu que estava chegando a hora dos vampiros voltarem à obscuridade para a mitologia se renovar, e como consequência, renascer em um novo ciclo. Quando olho para esta representação do vampiro de American Vampire, sabe o que eu penso?

American Vampire: De volta ao Status Quo – Ambrosia

Neil Gaiman é mesmo um gênio…

Você vê algum vampiro glamoroso e engomadinho? Passível de exibir traços de sensualidade atrelados a penteados desajeitados, barba por fazer e tez esbranquiçada? Não. Nós vemos uma aberração, um monstro. Vemos… um vampiro! Gaiman estava certo, o universo dos chupadores de sangue está voltando a seu status quo.

American Vampire, como já havíamos anunciado recentemente aqui, é uma nova série da Vertigo lançada em março deste ano, e que terá para suas cinco primeiras edições, duas histórias por volume. O plot principal é escrito por Scott Snyder e, em uma narrativa de flashbacks que esclarecerão questões para o enredo principal, temos ninguém menos que o mestre do terror literário Stephen King, estreando nos quadrinhos. A arte fica a cargo do brasileiro Rafael Albuquerque.

American Vampire: De volta ao Status Quo – Ambrosia

A história de Snyder gira em torno de Pearl, uma jovem aspirante à atriz de Hollywood, e tem início no longínquo 1925. A moça participa de uma produção de cinema como atriz coadjuvante, até que em uma de suas atuações consegue encantar o protagonista do filme, que a convida para uma festa na casa de um dos produtores do longa, BD Bloch. Snyder é extremamente feliz ao conseguir transmitir com clareza a personalidade de Pearl mesclando um caráter meigo junto a um singular e contraditório comportamento arredio. Ela é uma típica jovem de cidade do interior, com grandes sonhos de prosperidade na cidade grande. Entretanto, o autor peca pelo estereótipo. A narração é simples e propositalmente lenta, distribuindo peças de um quebra-cabeça que só irá se completar após desvendarmos o passado de alguns personagens na narrativa de King. Em especial, um ser que transita com ar misterioso em ambas as histórias: Skinner Sweet. Skinner aparece na primeira história como um “vagabundo”, dando declarações a esmo, aparentemente sem qualquer importância. E é exatamente isto que Pearl capta, o que a faz ignorar os conselhos do homem.

A história de Stephen King conta o passado de Skinner, com destaque para o fato de este ser o primeiro vampiro da América. O enredo se passa em 1880 e é narrado por um escritor chamado Will Bunting. A parte que concerne o argumento de King transparece com brilhantismo as características dos maiores westerns dos anos 60. A atmosfera da história lembra muito vagamente sua septologia A Torre Negra, por misturar conceitos fantásticos com o ambiente desértico e o visual dos caubóis do Velho Oeste. Como o mestre do terror participará apenas das cinco primeiras edições, é razoável supormos que as narrativas se encontrarão ao fim do volume cinco.

American Vampire: De volta ao Status Quo – Ambrosia
À direita, Skinner Sweet

A arte de Rafael Albuquerque está soberba e acaba por se destacar em meio a narrativa um tanto simplista deste primeiro volume. Seus traços já exibem um estilo único e conseguem retratar de maneira extremamente competente, as atmosferas dos ambientes nos Estados Unidos dos séculos XIX e XX. Aqui, sua arte ganha vida própria e se distancia cada vez mais de suas inspirações nas obras de Jack Kirby da década de 70, como podemos perceber em seus trabalhos anteriores, como em Blue Beetle. Junto às cores de Dave McCaig, a arte consegue se adaptar aos tempos das duas linhas narrativas, retratando de forma exuberante o vestuário, a arquitetura e as formas, os penteados femininos e todas as demais singularidades visuais da época; exibindo texturas nítidas em quadros de cores vivas e brilhantes – na história de Snyder – e linhas mais soltas e paletas amarronzadas na história de King.

Apesar das inúmeras qualidades – tanto artísticas quanto narrativas – descritas aqui, existem duas questões que intrigam o fã de quadrinhos desde que American Vampire foi anunciado em outubro do ano passado. “Será que Stephen King se sairá bem em outro tipo de mídia?” e “Vampiros? Mas de novo? Não chega não?”. Bem, King não foi nada brilhante. Teve apenas uma participação razoável para atrair leitores e alavancar vendas. Aqui, não vemos absolutamente nada que o definiu como um dos mais importantes e famosos escritores de nosso tempo. Quer conhecer ESSE Stephen King? Então procure um livro dele. E vampiros? Bem, eles sempre existirão na ficção. Mesmo que no momento, a indústria de entretenimento esteja saturada das criaturas da noite, a idéia de transportá-los para um tempo passado e retratá-los de forma que as características humanas e animais se misturem, deixando aflorar o aspecto monstruoso destes seres, é interessante e se difere da idéia de vampiro do século XXI, justificando portanto, a leitura da obra. 😀

Se ainda não está convencido, abaixo vão algumas páginas da primeira edição:

O jeito é importar ou esperar o lançamento nacional em breve.

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Comentários 4
  1. Motivos para não perder American Vampire:

    Stephen King, Vampiros "não-Cullen" (com tudo o que isto significa). Albuquerque e seus desenhos excelentes. Western classicão. E sangue!

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