Strange Tales II é uma coletânea de HQs criadas por autores de quadrinhos alternativos, utilizando heróis e vilões da editora Marvel. São 34 artistas de estilos distintos e com total liberdade para fazer o que quiserem com os personagens da editora.
Dois autores brasileiros participam da coletânea: Rafael Grampá apresenta um Wolverine extremamente violento, mas que se mostra sensível e vulnerável por um instante. A técnica narrativa da HQ é bem eficiente e a qualidade da arte está muito acima do que se costuma ver em quadrinhos de super-heróis. Grampá seria muito bem sucedido trabalhando em qualquer um dos principais títulos da Marvel, mas neste volume talvez esteja um pouco deslocado. Seu estilo é tradicional demais para uma coletânea que se propõe de quadrinhos alternativos ou underground. Eduardo Medeiros, o outro brasileiro em Strange Tales II, também se sai muito bem, com um estilo de desenho simples e divertido.
Gene Yang, autor de O Chinês Americano, apesar de não ter um traço muito original, fez uma das HQs mais divertidas do livro, criando um herói que usa sua incrível falta de habilidade como uma arma para vencer os vilões.
Os irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, criadores da revista Love and Rockets, optaram por homenagear as clássicas e ingênuas aventuras dos primórdios da Marvel. Na HQ de Gilbert vemos o Homem de Ferro usando seu primeiro uniforme (aquele que parecia um robô dourando), contracenando com Toro (parceiro do Tocha Humana nos anos 1940) e O Líder (antigo inimigo do Hulk). Os desenhos de Gilbert, mais claros e precisos que de costume, combinados com as cores escolhidas por Jim Campbell, resultam em uma das mais belas artes da coletânea. Jaime, desenhista de traços perfeitos, narra as hilárias trapalhadas de um vilão que tenta a todo custo entrar de penetra em uma festa de super-heroínas.
Tony Millionaire, autor das tiras Maakies, coloca Thor trabalhando como vendedor em uma barraca de parque de diversões. O enredo de sua HQ é absurdo e engraçado, com um tipo de humor que remete mais aos filmes do Monty Python que a uma aventura de super-heróis. Seus desenhos retorcidos parecem querer ocupar cada milímetro dos quadrinhos, e seu uso ostensivo de hachuras faz cada página parecer uma delirante combinação de gravuras antigas com arte pop. Mais uma vez as cores de Jim Campbell complementam a arte com perfeição.
Outros autores, como Dash Shaw, Kate Beaton e Jeffrey Brown participam com histórias interessantes, mas a quantidade de autores inexpressivos e histórias medíocres presentes na coletânea é grande, e acaba baixando consideravelmente a qualidade geral da obra.
Outra característica negativa é o pouco espaço reservado para cada HQ. No volume anterior de Strange Tales foram incluídas duas ótimas histórias escritas por Peter Bagge, cada uma com 24 páginas. Parecia um sinal de que a editora Marvel se arriscaria a investir em obras que fugiam dos clichês das histórias de super-heróis. Nesse aspecto, Strange Tales II é um retrocesso. A maioria das HQs deste novo volume possui entre 2 e 6 páginas, muito pouco para que se desenvolvam idéias mais elaboradas. Os autores devem ter adorado a oportunidade de ganhar algum dinheiro homenageando ou satirizando super heróis, mas o livro está longe de mostrar o potencial dos quadrinhos underground. Proporciona uma leitura divertida, mas bem ligeira, do tipo que não fica muito tempo na memória. Quem quiser ler boas HQs alternativas deve procurar obras mais extensas, como Mundo Fantasma, Love and Rockets New Stories n.3 e Acme Novelty Library 20. Ou buscar nos sebos a ótima coletânea Comic Book, lançada aqui no Brasil pela editora Conrad, nos anos 1990.
No site Comics Alliance podem ser vistos diversos rascunhos e artes originais feitos para Strange Tales II.
Título: Strange Tales II
Editora: Marvel Books
Ano de Edição: 2011
144 páginas
[xrr rating=3/5]
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