Lendo "Monstress: Despertar", de Marjorie Liu e Sana Takeda – Ambrosia

Lendo "Monstress: Despertar", de Marjorie Liu e Sana Takeda

Não é todo ano que uma série vence cinco prêmios Eisner, num período que outras obras poderiam ter levado o prêmio de forma também merecida. Monstress conseguiu bater Black Hammer de Jeff Lemire, já premiado, a Hawkeye, uma das melhores séries da Marvel Comics, com o Gavião Arqueiro, a laureada The Wicked + The Divine, e a Giant days serie aclamada pela crítica, e não é só isso, há várias outras séries que poderiam entrar nesta categoria sem problemas.
Mas o resultado deste ano é merecedor, o trabalho por detrás de Monstress é importante em todos os aspectos, criação, desenho, narrativas, diálogos, performance e originalidade na hora de mesclar estilos. Uma HQ merece nossa atenção, não só por ser premiada, mas pelas razões que iremos apresentar nesta resenha.

A série Monstress foi publicada originalmente pela Image Comics em 2015, escrita por Marjorie Liu e ilustrado/co-escrita por Sana Takeda. As duas autoras não tinham uma longa carreira no meio, e Monstress era sua primeira chance de uma série própria dentro de suas carreiras. Takeda começou desenhando para a SEGA, e entrou para os quadrinhos por convite do atual editor chefe da MarvelC. B. Cebulski. E foi ali que conheceu Liu, na série X-23.
Por outro lado, Liu era uma escritora que entrou para trabalhar com os mutantes da Marvel, onde ofereceu ótimas histórias nas séries dos filhos do Wolverine, Daken e X-23 (o biológico e a adotiva). Podemos até entrelaçar semelhanças de Laura Kinney, com a protagonista de Monstress, Maika Halfwolf, entretanto a similitude fica só na maneira de afrontar os seus problemas.

Lendo "Monstress: Despertar", de Marjorie Liu e Sana Takeda – Ambrosia
Capa da edição brasileira, lançada pela Pixel.
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A narrativa nos leva a um cenário imaginado mesclando o oriente com o ocidente tradicionais. Há uma estrutura interna de poder que lembra os reinos europeus, com uma centralidade nas cidades, mas com um halo cultural e um tratamento mágico que nos leva a pensar que estamos na China medieval. Os desenhos dos personagens menos humanos tomam como referência ao mangá, e arte de Takeda é sentida, pelos detalhes e pela capacidade de alternar paisagens naturais com cenários urbanos, calabouços e salões luxuosos, os seres desenvolvidos são totalmente distintos, com desenhos bonitos quando tem que ser e horríveis no momento certo.
As cidades seguem um tom Steampunk, como tambem Tecnofantasy que é visto nas capas e que, a priori, se destaca, entretanto avançando na leitura da HQ, podemos ver campos e partes rurais que também merece atenção, pela maneira que a artista usa as cores.

Não podemos deixar de lado a ação, temos um desenvolvimento de cenas, cujo movimento é uma das especialidade de Takeda, que distribui quadros e vinhetas de tal forma que quando olhamos uma página em geral não é necessário ler uma palavra para ter uma ideia do que está ocorrendo. E Liu desenvolve os diálogos, entre o passado do que ocorre e o pretérito do que ocorreu, um trabalho em dupla impressionante que se prescinde entre o texto e a arte.

Lendo "Monstress: Despertar", de Marjorie Liu e Sana Takeda – Ambrosia
A escravidão é um dos temas recorrentes em Monstress
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A história de Liu e Takeda tem um plano de fundo reivindicativo, deixando bem claro desde as primeiras páginas ao trazer as práticas inumanas de um bando para com o outro, a intenção antirracista e antixenófoba. Monstress tem em si um ar igualitarista e a ambientação se situa anos depois de uma grande guerra entre duas raças, os humanos e os arcânicos, afastando-se dos clássicos modelos maniqueístas para colocar em um mundo pós-guerra onde mais se perde do que ganha.  O fim da guerra trouxe mais miséria do que fortuna para todos e os humanos se dedicam a capturar os arcânicos para infligir torturas e mutilações de terríveis maneiras e assim retirar a magia que perderam, mantendo presos em campos de concentração.

O mundo de Monstress é um mundo rico, que segue o que encontramos em Avatar: A Lenda de Aang ou em O Senhor dos Anéis, mas também bastante cruel, como em Game of Thrones. O personagem protagonista é Maika Halfwolf, uma arcânica com aspecto humano, mas sem um braço, cuja estética e personalidade lembram, como já citado, um pouco da X-23.. Uma personagem misteriosa, que guarda segredos obscuros, e que protegendo os seus, abusa da violência extrema.
Liu e Takeda bebem de fontes diversas e o resultado bastante bom e original, mas que tem ressalvas. As ideias são liberadas rapidamente, há muitos nomes, muitos eventos, muita informação, tão densos que pode oprimir um pouco o leitor. Monstress é uma HQ para quem tem um certo estado mental para enfrentá-la e uma segunda leitura lhe convém para aprofundar seus nuances, que com certeza não é um defeito, mas um ganho para nossa leitura. Uma série original, interessante, visualmente atrativa, tão digna dos Eisner como os demais nomeados.

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