CríticasQuadrinhos

O Novo Pesadelo em “Samuel Stern”, de Gianmarco Fumasoli e Massimiliano Filadoro

Compartilhe
Compartilhe

“Samuel Stern” é um fumetti (como são chamadas as revistas em quadrinhos italianas) e a primeira HQ do gênero terror da Graphite Editora. Conta a saga de um livreiro e demonólogo em sua luta contra os demônios que habitam o ser humano. E como uma novidade já carrega uma bagagem de responsabilidade e dúvidas.

Em primeiro lugar, porque representa a grande aposta da italiana Bugs Comics, que se destaca por reviver antologias dos anos 1990 e que agora aposta em quadrinhos. E concorrendo com outras produções no país, a editora dá um passo importante, em termos de tamanho e história, categorizando quem sabe um novo nicho.

Além disso, a HQ de Gianmarco Fumasoli e Massimiliano Filadoro, traz um terror protagonizado por um “caçador de demônios” ambientado na Grã-Bretanha e não podemos deixar de comparar ​​com Dylan Dog, com toda a cautela. Um termo de comparação trivial, mas inevitável, até porque o elenco de autores anunciado se baseia fortemente nos trabalhos da Sergio Bonelli Editore.

E, de fato, por trás de uma bela capa de Maurizio Di Vincenzo, decididamente impactante, a aparência geral não parece se desviar do modelo Bonelli.

Samuel Stern é um demonologista e tem o poder de ver as manifestações malignas que se infiltram na alma humana até que se tornem concretas e se tornem posses reais.

Ao seu lado o padre O’Connor, que neste primeiro número tem o papel instrumental de interlocutor em uma série de diálogos que fornecem informações sobre o protagonista e pistas sobre seu passado, seu método de “trabalho” e sua natureza.

Esses são os pontos mais fracos da narrativa, que tenta tornar uma série de “grandes explicações”, por um lado, necessárias, por outro, um pouco forçadas por sua própria natureza. O próprio Stern é um protagonista ainda não totalmente desenvolvido, e os conflitos pessoais que se mostram não são suficientes para caracterizá-lo por completo.

Voltando às dúvidas de que falávamos no início, a impressão é que Dylan Dog não é a referência mais próxima: Samuel Stern na verdade se afasta do personagem criado por Tiziano Sclavi para abordar um ramo do gênero terror – em particular aquele que fez sucesso graças ao estúdio Blumhouse, portanto atividades paranormais, possessões, assombrações, presenças demoníacas – mas também por uma atitude mais direta e menos poética, sem espaços de empatia com o diferente, o outro, parte fundamental da poética de Dog, e também sem a ironia e o gosto por citações pop.

A semelhança mais próxima é com a série Outcast, de Robert Kirkman e Paul Azaceta, com a qual compartilha vários aspectos (as qualidades particulares do protagonista, seu uso relutantemente, o ombro sacerdote) e obviamente centrado em possessões demoníacas; na HQ norte-americana, a narrativa leva a casos individuais que fazem parte de algo maior que fornece a trama entre os episódios individuais, enquanto em Samuel Stern não segue essa linha por enquanto.

Em grande parte da HQ, escrito por Fumasoli e Filadoro, temos um desenvolvimento claro que não deixa margem para dúvidas ou passagens ambíguas.

Alguns problemas emergem na gestão do tempo, com passagens que parecem precipitadas, como o “confronto” entre Samuel e o grupo de bandidos no final, sacrificados para dedicar mais espaço às partes dedicadas à possessão ou àquelas dedicadas ao drama do passado do protagonista. Precisamente estes últimos talvez possam ser adiados para lançamentos futuros.

Os desenhos de Luigi Formisano certamente contribuem para tornar o quadrinho familiar aos leitores bonellianos, com linhas marcadas, páginas muito brancas nas quais o preto entra claramente criando sombras e o chiaroscuro que infunde a atmosfera, um traço marcadamente realista e expressivo que consegue administrar com equilíbrio os muitos diálogos e mudanças de planos e que retrata os momentos de verdadeiro horror, especialmente na representação de manifestações demoníacas.

Resta ainda lembrar a resolução do caso evita um final feliz e termina com um golpe baixo por parte dos roteiristas, o que mostra a vontade de ousar um pouco. O que vale a leitura deste primeiro volume de Samuel Stern.

Nota: Muito Bom – 3,5 de 5 estrelas

Compartilhe
Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasFilmes

A Perfect Love Story: filme bósnio se perde na metalinguagem

A onipresença de Hollywood, nas salas de cinema, serviços de streaming e...

CríticasGames

O que Sucedeu em Next of Kin?

Em agosto de 1990, Thomas Anderson e sua esposa Martha decidiram se...

CríticasGames

Rage of the Dragons Neo valhe as bolhas nos dedos!

Houve um tempo, ainda que curto, em que os jogos de luta...

CríticasFilmes

A Guerra dos Rohirrim confirma a vastidão a ser explorada no universo de Tolkien

Depois da monumental versão cinematográfica de “O Senhor dos Anéis” empreendida por...

CríticasFilmes

A Favorita do Rei: luxo e luxúria na corte francesa

Depois de Maria Antonieta, a mulher mais lembrada no contexto da Revolução...

CríticasFilmesInfantil

Genérico, Moana 2 é um pálido arremedo do antecessor

“Moana 2” teve seu anúncio para o cinema nos 45 minutos do...

CríticasFilmes

Redenção: e se fosse com você?

O cinema é ferramenta para, entre outras coisas, catarse: em mais ou...