Infância, peça baseada na obra de Graciliano Ramos, faz curta temporada no Teatro Sérgio Cardoso

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O grupo rodateatro se apresenta no Teatro Sérgio Cardoso, na capital Paulista, o espetáculo Infância – baseado na obra de Graciliano Ramos. A temporada estreia no dia 12 de agosto e faz sessões sábados e domingos, às 19h.

“A obra de Graciliano Ramos sempre tão fundamental para o entendimento do país, agora chega ao Teatro Sérgio Cardoso para que possamos conhecer um pouco mais da origem, dos medos e angústias do escritor”, diz Glaucio Franca, diretor-geral da Amigos da Arte. “A peça tem muito de poesia, mas é também muito popular e cumpre com uma das missões do próprio Teatro Sérgio Cardoso, que é a formação de público”, conclui.

Infância é uma obra cênica e musical criada a partir do livro homônimo de Graciliano Ramos, publicado em 1945. O alagoano, reconhecido como um dos principais escritores brasileiros, traz à tona seus primeiros anos de vida até o despertar da puberdade vividos no interior dos estados de Alagoas e Pernambuco. Em meio à dura vivência com a família, marcada também por uma difícil alfabetização, surge uma criatura interessada nos vários personagens à sua volta e no mundo das letras.

As diferentes idades do pequeno Graciliano Ramos e a perspectiva de sua vida adulta são exploradas na adaptação que retoma a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades vividas pelo escritor na alfabetização.

Pesquisa

Em dezembro de 2021, Ney Piacentini (ator que também pertence a Companhia do Latão de São Paulo) e Alexandre Rosa (músico da Osesp [Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo], principal conjunto sinfônico da América Latina), foram até o sertão de Pernambuco e Alagoas em busca dos espaços onde se dão os episódios de Infância e de seu mundo sensorial.

Lá, passaram por Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE) e conheceram a aridez e a pulsação da gente do sertão e da Zona da Mata nordestinos. Visitaram as ruas citadas no livro, as casas em que Graciliano viveu e puderam conviver e conversar com a populaçao local. Além dessa viagem de imersão e da leitura das obras completas do autor, a pesquisa contou ainda com quatro palestras proferidas por especialistas como Ieda Lebensztayn, Ivan Marques, Leusa Araujo e Luciana Araujo Marques.

Encenação

Conhecido por seu estilo “seco”, Graciliano se utiliza apenas das palavras e frases essenciais, o que inspira também a direção da encenação. A montagem é simples, porém inventiva: a cenografia é feita de objetos imprescindíveis ao palco, com sofisticados instrumentos musicais que se transformam, por meio de sugestões indiretas, na indumentária do projeto. O trabalho está planejado de modo a facilitar a adaptação às condições materiais dos espaços, e não o contrário.

O programa engloba a encenação de 60 minutos seguida de uma conversa sobre o universo de Graciliano Ramos. Entram em debate os conteúdos, as formas, as demais obras do autor, sua inserção no panorama da história e literatura brasileiras, além de outros aspectos de interesse da plateia.

Haverá ainda a apresentação do processo de construção do espetáculo, especulando sobre como Ney Piacentini (ator) e Alexandre Rosa (músico) deram vida cênica ao Infância. Trazer ao palco um dos livros mais importantes de Graciliano Ramos tem a intenção de estimular a leitura e a formação de público na conjugação entre literatura, teatro e música.

Ficha Técnica

Autor: Graciliano Ramos
Idealização e adaptação: Ney Piacentini
Concepção e direção e interpretação: Ney Piacentini (ator) e Alexandre Rosa (músico)
Assistente de direção e iluminação: Elis Martins
Fotos e vídeos: João Maria Silva Jr.
Programação visual: Paulo Fávari.

Serviço

Infância
Local: Teatro Sérgio Cardoso – R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01326-010
Datas: De 12 de agosto a 03 de setembro | Sábados e domingos, às 19h
Ingressos: R$40,00 (inteira) R$20,00 (meia-entrada) | Sympla
Duração: 60 minutos
Classificação etária: 10 anos

Graciliano Ramos

Primeiro de dezesseis filhos, nasceu na pequena Quebrangulo, interior de Alagoas, na tarde de 27 de outubro de 1892. Três anos depois, seu pai compra uma fazenda em Buíque, sertão pernambucano que, mais tarde, será o cenário de Vidas secas (1938). Essa mudança da família, a propósito, figura no primeiro capítulo de Infância. Numa escola que servira de pouso para a viagem, o menino ouve um senhor de barbas longas entoar um bê-a-bá único e que restará cravado em sua lembrança. Em 1899, seguem para Viçosa, Zona da Mata alagoana, marcando a passagem da vida rural para a de uma pequena vila, onde o pai se estabelece como pequeno comerciante.

Graciliano surge como romancista em 1933 com a publicação de Caetés, estreia que se dá tempos de depois de seus relatórios como prefeito de Palmeira dos Índios terem caído nas mãos de um editor. Nesse mesmo ano é nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas (cargo equivalente ao de secretário de Educação) e, no seguinte, publica São Bernardo. Em março de 1936 é preso sem qualquer acusação formal no dia em que entrega os originais do romance Angústia à datilógrafa de confiança. Levado para o Rio de Janeiro, é confinado em diferentes prisões, conforme conta em Memórias do cárcere, publicado em 1953, ano de sua morte. Entre outros de seus livros de contos, crônicas e os infantis estão A terra dos meninos pelados, Histórias de Alexandre, Insônia, Viagem, Linhas tortas e Viventes das Alagoas.

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