O Fingidor

A transposição da vida e obra de Fernando Pessoa para o teatro se justifica com o título O Fingidor: extraído do seu poema Autopsicografia.

A peça retrata os últimos dias da vida do poeta e ironicamente, a questão da diferença entre vida e a obra do artista é ridicularizado pelo próprio poeta, autor de uma obra consistente, se disfarça de datilógrafo de seu crítico, que por sua vez separa, sujeito de objeto. Uma denúncia ao aprisionamento das grifes e assinaturas que interrompem o sonho de fazedores.

A peça instaura a poesia do personagem poeta vivida pela jocosidade de Hélio Cícero.

Fernando Pessoa disfarçado de Jorge Madeira no ofício de datilógrafo para o José Américo (Douglas Simon), vive a esquizofrenia do poeta e suas criações, dialogando com seus heterônimos.

Alberto Caieiro sabe-se que é o mestre entre os outros por causa de seus escritos da tendência do homem de transformar o que vê em símbolos, sem saber o que significa assim a presença do ator Fernando Trauer como Alberto Caieiro mantém-se como observador, calado, deixando aos outros heterônimos e decorrer do plano real da peça intervirem na vida de seu autor.

O mais provocativo é Álvaro de Campos (Fause Haten), convoca Fernando Pessoa a cada decisão na peça, contrapõe o bem estar e a situação das coisas como estão.

Há um momento que Álvaro de Campos declama, Poema em Linha Reta, para evidenciar em plano de surto, enquanto mantêm as aparências, pode-se subverter tal status com a força extrema da sensação da urgência de ser o tudo, com força e energia de um cosmopolita do progresso. Um pouco a respeito das posições sociais que determinam o cidadão, o poeta consagrado disfarçado de datilógrafo provoca um conflito no seu alter ego Álvaro de Campos.

Mas a realidade da cena o convoca a voltar, de espírito de embate existencial de Fernando Pessoa com seus heterônimos, há uma quebra na intenção física de sério para cômico, quando cai na real de modo concreto, seu corpo desenha o farsesco João Madeira.

A platéia exerce um papel muito importante na interação do poeta com suas criaturas, pois é o único que sabe das aparições dos heterônimos do poeta, como um segredo compartilhado, o restante é farsa.

Mas ainda há sua irmã Henriqueta Madalena (Gabriela Flores) no cuidado com sua saúde, reconhecimento de prestígio do irmão, contraposição a essa farsa de datilógrafo impulsionando ao âmbito profissional, nas relações com o editor de uma revista literária.

Enquanto datilógrafo aproxima-se da governando de seu crítico literário por quem estabelece uma relação afetiva despertada pela despretensão estilística que determina sua personalidade complexa.

Ricardo Reis (Luiz Eduardo Frin), outro heterônimo de Fernando Pessoa, aparece para desmontar muitos mitos acerca do artista. Dominado pela paixão, tem um caráter conformista da qual prefere recusar um amor a ter desilusão.

A renúncia é a maior doação no espetáculo, a um público cúmplice de Fernando Pessoa, a cada passagem deixa um pouco de si, mas Ricardo Reis funda o desfeito, enquanto os pronomes possessivos servem de indicativo de presença pessoal dos atores. A trajetória do personagem Fernando Pessoa é diferente de qualquer linha que sustente um protagonista, pois ele é imbuído de seus três heterônimos e como poeta uma cerveja cairia bem.

Entre painéis que deslizam de Marisa Rebolo, ora servem para o ambiente realista que se desenvolve a ação ora na aparição de personagens fictícios, ficam transparentes revelando outro plano.

Ficha técnica Espetáculo: “O Fingidor”

Texto e direção: Samir Yazbek

Elenco:Helio Cicero (Fernando Pessoa e Jorge Madeira), Daniela Duarte (Amália Conceição), Douglas Simon (José Américo), Fause Haten (Álvaro de Campos), Fernando Oliveira (Afonso Camargo), Fernando Trauer (Alberto Caeiro), Gabriela Flores (Henriqueta Madalena), Luiz Eduardo Frin (Ricardo Reis) e Marcelo Cozza (Miguel Escudero).

Dramaturgia Maucir Campanholi

Direção original de movimento:Dani Hu

Cenografia:Marisa Rebolo

Figurino:Elena Toscano

Concepção de luz original:Celso Marques

Montagem e operação de luz:Gabriela Araujo e Guilherme Trindade

Sonoplastia:Raul Teixeira

Assistência de direção e operação de som:Izabel Hart

Programação visual original:Diego Spino

Finalização de arte e desenvolvimento de app:Bluesman Design Studio Fotografias

cena: Fernando Stankuns

Vídeo:Daniel Lopes

Assistência de produção:Marília Yazbek

Produção executiva:Marcela Sanchez

Direção de produção:Silvia Marcondes Machado

Administração:Mecenato Moderno

Apoio cultural:Porto Seguro

Realização:Companhia Teatral Arnesto nos Convidou Site:www.arnesto.art.br/ Facebook:facebook.com/arnestonosconvidou

Serviço Local:Tucarena www.teatrotuca.com.br Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes/SP(entrada Rua Bartira). Tel: (11) 3670-8455 Temporada: Sexta (às 21h30), sábado (às 21h) e domingo (às 19h) -Até 17/05 Ingressos: R$ 50,00(inteira); R$ 25,00 (meia); R$ 10,00 (estudantes, professores e funcionários da PUC-SP). Antecipados: www.ingressorapido.com.br (4003-1212). Grupos: (11) 5571-1407 Duração: 1h40 – Gênero: Drama cômico – Classificação etária: 14 anos Capacidade: 170 lugares – Ar condicionado – Acesso universal Estacionamento conveniado: R$ 14,00 (Pier Park, R. Monte Alegre, 835, tel. 3120-5052) Reestreia: 7/3/2015

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