É com espanto que terminamos de assistir ao monólogo Sidarta, com criação e atuação de Angel Ferreira, espetáculo livremente inspirado na obra homônima de Hermann Hesse. O espanto se dá por essa riqueza teatral que Angel aglutina: a impressionante concentração do início ao fim da peça, o fôlego de abarcar todos os personagens através da voz e dos gestos, a entrega ao teatro, a atuação dos personagens e suas diferentes características ao longo da jornada de Sidarta, a corporificação dos movimentos e cenários, de modo que, por exemplo, uma volta que um personagem dá para se certificar de algo pode ser encenada com a volta completa do pescoço somada à ênfase da descrição, e tantos outros movimentos corporais/vocais que permitem que o palco, que só tem Angel, um tapete e, inicialmente, um cotoco de vela, pareçam repletos e não careçam de mais nada. Isto é, o teatro pobre que, como se sabe, é pleno, que dá conta de objetos, emoções e situações, e que, para tal, depende de um esmerado trabalho de ator. A supervisão artística é de Beth Martins e de Renato Livera, este último assinando com João Gioia a iluminação, tudo isso chegando ao resultado que temos a oportunidade de acompanhar.

Foto: Philipp Lavra
Foi há anos que li Sidarta e lembro da grande impressão que causou em mim: efetivamente uma obra literária inspiradora, dessas que fazem a gente efetivamente pensar na própria vida. Que, de algum modo difícil de identificar e precisar, nos alimentam. Na história, em que o personagem Sidarta, que tem o mesmo nome de Sidarta Gautama antes do despertar que o torna Buda (o desperto), tenta encontrar um sentido e uma compreensão espiritual de sua vida, buscando se despojar de apegos e dedicando-se à prática do jejum, do pensamento e da espera, enquanto se depara com personagens variados em sua caminhada e reformula suas próprias condições de vida, se necessário. É bastante interessante como o monólogo é igualmente inspirador, afinal, não são banais os diálogos e as reflexões do personagem. A própria prática da espera, esse antônimo da trivialidade e que é algo que o personagem menciona quando lhe perguntam, em alguns momentos, o que é capaz de fazer, quais são suas habilidades: ora, Sidarta diz saber esperar, e a espera é tudo o que parece mais difícil de se encontrar nos tempos atuais, nos corres contemporâneos. Repousar na espera, e também não desistir de uma procura, dos lados de um mesmo ímpeto.
O monólogo nos conta uma história e nos encena uma história, e não há, em nenhum momento, excessos. O fôlego é constante e também a beleza do texto. Não há, efetivamente, outro adjetivo para descrever Sidarta: bastante inspirador, como uma recompensa que a vida nos traz, de leve.
FICHA TÉCNICA
Criação e Atuação: Angel Ferreira
Livremente inspirado no livro homônimo de Hermann Hesse
Supervisão Artística: Beth Martins e Renato Livera
Diretora Assistente: Thatyane Calandrini
Interlocução Dramatúrgica: Walter Daguerre
Direção de Produção: Marcela Casarin
Iluminação: João Gioia e Renato Livera
Colaboração Artística: Lavinia Bizzotto
Fotografia: Philipp Lavra
Produção: Mãe Joana Produções
Assessoria de imprensa: Ligia Lopes
SERVIÇO
Temporada: De 7 de março a 27 de abril
Quintas, sextas e sábados às 20h
Domingos às 19h
Teatro: Poeirinha (Rua São João Batista, 104, Botafogo – RJ)
Ingressos: R$ 80,00 (inteira)
Disponíveis no Sympla ou na bilheteria do teatro
Lotação:
Duração: 100 min.
Classificação Etária: 18 anos
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