Chegou a hora de voltar a tirar férias na rede de resorts mais azarada do mundo. Nos hotéis The White Lotus, tudo o que pode dar errado acontece e logo de cara tiros interrompem o descanso dos hóspedes, desta vez na Tailândia. O que acontece depois, ou melhor, o que aconteceu antes disso é uma montanha-russa de emoções que serão descortinadas ao longo de oito episódios.
A atriz Jaclyn Lemon (Michelle Monaghan) pagou a viagem para duas amigas de longa data, Kate (Leslie Bibb) e Laurie (Carrie Coon). A jovem Piper (Sarah Catherine Hook) quer entrevistar um monge budista para sua tese, e para isso arrastou a família toda para a Tailândia. Rick (Walton Goggins) está acompanhado da namorada bem mais nova, Chelsea (Aimee Lou Wood), mas tem segundas intenções com a viagem. Todos passam por um detox digital durante a estadia, e a partir de testes biométricos recebem uma programação de atividades.
Voltando de temporadas passadas temos Belinda (Natasha Rothwell), que conhecemos no The White Lotus do Havaí. Ela encontra na Tailândia um velho conhecido que lhe faz uma proposta difícil de recusar. Mas ela precisará dos conselhos do filho para completar sua jornada.

As amigas Jaclyn, Laurie e Kate representam os diferentes estilos de vida em suas respetivas cidades, Los Angeles, Nova York e Austin, Texas. Num sentido mais amplo, representam também amizades falsas, de elogios vazios e fofocas constantes pelas costas. Por outro lado, Piper representa a busca por uma nova versão dentro de uma família que – sem ela nem ninguém desconfiar – está à beira da ruína.
Um dos trunfos da série é apresentar ao mundo atores oriundos dos locais de gravação. Se na temporada passada tivemos um trio italiano brilhando, nesta temos o vigia Gaitok (Tayme Tapthimthong) e a concierge Mook (Lalisa Manobal), além da cantora Sritala (Patravadi Mejudhon), proprietária do hotel. Todos os três têm carreiras pregressas, e Patravadi é comumente chamada de “a Judi Dench tailandesa”, acumulando sucessos como atriz, produtora, dramaturga e professora de atuação. Manobal é cantora exitosa e Tayme, nascido na Grã-Bretanha, já fez pequenos papéis em vários filmes. Entre as personagens, é comum haver falas em tailandês, devidamente acompanhadas de legendas.
É interessante olhar para o personagem de Patrick Schwarzenegger – sim, filho de Arnold. Saxon trabalha com o pai e colocou, como ele mesmo diz, todos os ovos numa cesta: se acontecer algo com a empresa familiar dos Ratliff, ele está perdido, não lhe restará mais nada, pois ele não tem outros hobbies ou um plano B. Patrick também de certa maneira fez isso seguindo os passos do pai na atuação e, apesar do talento um pouco limitado, interpreta bem a jornada de seu personagem. Aliás, “jornada” descreve bem aquilo por que todos os personagens passam durante a estadia.

Uma polêmica se delineou perto do fim da temporada quando o compositor Cristobal Tapia de Veer anunciou sua saída da série. O criador, roteirista e diretor Mike White resolveu provocar o artista insatisfeito, que havia declarado que sua saída fora causada por “diferenças criativas”. Enquanto White disse que Cristobal “não o respeitava”, o compositor não ficou satisfeito com a mudança da já clássica música de abertura – que também desagradou muitos fãs da série. O ego de Mike White parece ter se inflado com todos os prêmios e elogios que sua obra obteve, e ele não tem papas na língua para rebater críticas. Mesmo assim, é uma questão na qual vale a pena ouvir os dois lados.
A cada temporada, a série de antologia “The White Lotus” só fica melhor. Começando com seis episódios na primeira temporada, sete na segunda e agora oito na terceira, ela não para de surpreender, e de fato tem história suficiente para não criar momentos de pura enrolação. Na verdade, tem até mais história do que mostra: o diretor Mike White gravava episódios de 90 minutos de duração, que diminuía na sala de edição – junto ao editor e também produtor da série, John M. Valerio – para 60 e poucos minutos para caber na grade de programação.
Através da arte, temos a possibilidade de viajar sem sair do lugar e viver aventuras extraordinárias do conforto de nossos lares. “The White Lotus” é prova irrefutável desse poder da arte – mais um entre tantos.