AcervoCríticasQuadrinhos

Brian K. Vaughan e o seu Paper Girls, uma Stranger Things com viagem no tempo e entregadores de jornais

Compartilhe
Compartilhe

Após Stranger Things colocar na moda o revival dos anos 1980, algo que comentei em meu artigo sobre a série da Netflix e o fato desta retomada, temos firmado nos quadrinhos com Paper Girls que Brian K. Vaughan e Cliff Chiang um pouco desta temática.

A nova série é um verdadeiro delírio que traz a ambientação da década com viagens no tempo e dinossauros. Sabemos que Vaugham não limita sua imaginação, a partir de uma ideia simples converte em um cenário fascinante e alucinante, um mundo novo surge todo com novas regras e novos paradigmas. Um mestre em desenvolver seus personagens de maneira fantástica, se quiser criar um robô cuja cabeça seja um televisor e que uma galáxia se divida entre uma espécie de conflito como a dos Montecchio contra os Capuleto, só que a diferença está em quem possui ou não chifres, ele cria. Foi assim em Saga e agora decide que um punhado de meninas entregadoras de jornais viagem ao futuro, onde encontram pessoas ou algo que parece, cavalgando em dinossauros. 

Essa vontade de fazer com que a narrativa oitocentista se aproxime de uma narrativa sci-fi é o principal mote desta série. Com um montão de personagens fascinantes como a Erin, a protagonista deste Paper Girls, e, o mundo que a rodeia, cheia de gente estranha (alguns estranhos, deformados, outros com aspecto de ex-hippies crescidos, e o que parece serem soldados com suas armaduras como de cavaleiros andantes, montados em algo que parece pterodáctilos). Tudo isso começa em um dia qualquer do ano de 1988, quando Erin entra no grupo de meninas que entregam jornais em Stony Stream, que acabam descobrindo em um porão um dispositivo que irá mudar a vida delas completamente.

Ao acionar um bar de botões sem querer e tudo ao redor muda. Uma enorme tapeçaria é tecida por Vaughan, o quarteto se encontrará com algo totalmente inesperado, que levará a narrativa a uma reviravolta e tanto, mudando por completo a percepção da série e das histórias que irão surgir. E sem dúvida, o autor mereceu os prêmios Eisner 2016 de Melhor Nova Série e Melhor Desenho/Cores e Harvey 2016 de Melhor Nova Série e Melhor Escritor, pelo desenvolvimento de uma série diferente que demonstra, uma vez mais, que há outras possibilidades além da Marvel e DC.

As Paper Girls

Em qualquer caso, fiquei mais uma entusiasmado por este primeiro arco e pela ambientação dos anos 1980, lembrar as corridas de bicicletas, os walkman, como também as roupas, cortes de cabelo e de filmes como  E.T – O Extraterrestre (1982), de Steve Spielberg, Os Goonies (1985), de Richard Donner e De Volta para o Futuro (1985), de Robert Zemeckis.

Em relação à parte gráfica, o traço/desenho de Cliff Chiang é, sensivelmente, perfeito. É certo que Vaughan faz parceria, sem exceção, com desenhistas que sabem exatamente o que ele quer e como quer.  Porque os argumentos de Vaughan reclamam para um tipo de desenho, e nesse sentido, Chiang está próximo do que Fiona Staples fez em Saga, tão próximo que parece que ambos estudaram em uma escola para desenhistas de histórias de Biran K. Vaughan. E como é este desenho? Possui esse ar retrô, juvenil que permite acontecer o que vem na cabeça do escritor. De algo tão prosaico como a vida num subúrbio Chiang transforma em um mundo estranho, mas ao mesmo tempo num mundo pós-apocalíptico fascinante. O artista joga com a montagem da sucessão das cenas, imprimindo ritmo televisivo à narrativa, construindo o entorno perfeito para o mistério.

Matt Wilson, o colorista da série,  ajuda em muito o trabalho da construção do cenário. O uso da luz crepuscular do amanhecer é básico para entender as intensões de Vaughan e Chiang neste início, e se não fosse pelo uso inteligente da luz, o efeito de certas cenas não teria a mesma força visual. Acredito que o que Wilson fez foi garantir a identidade marcante de Paper Girls como distinto artístico. Tenho que lembrar da capa produzida por Jared K.Fletcher, um claro exemplo de minimalismo, uso da cor, da força de um desenho que abre uma bela narrativa eficazmente, como um pôster de uma boa propaganda. Parabéns pela Devir, neste caso, que soube recapturar como todas as suas publicações do material original.

Não podemos prever o futuro da série, mas em meio às especulações fantasiosas que sua narrativa traz, Paper Girls ganhou minha atenção como leitor, e fico na expectativa nas possibilidade que acontecerão na série. Recomento a leitura.

Compartilhe
Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasFilmes

Mufasa mostra o que poderia ter sido o “live-action” de O Rei Leão

“Mufasa: O Rei Leão” é já previsível manobra da Disney de continuar...

CríticasFilmes

Kraven é a despedida melancólica do Sonyverso

Ninguém acreditava que “Kraven, O Caçador” seria qualquer coisa distinta do que...

CríticasSériesTV

Comando das Criaturas: sangue, humor e lágrimas

James Gunn deixa claro que o novo Universo DC está em boas...

CríticasGames

Edge of Sanity – assusta ou frustra?

Edge of Sanity é um jogo de terror psicológico em 2D que...

CríticasSériesTV

Como Água para Chocolate: uma deliciosa primeira temporada

Não é o asco dos norte-americanos às produções em outras línguas que...

CríticasGames

Mais Pedras e Puzzles em SokoMage

SokoMage é um jogo de quebra-cabeça estilo sokoban com uma temática de...

CríticasGamesRPG

Necro Story Comedy Club

Necro Story é um RPG que se destaca pela sua abordagem inovadora...