Stranger Things e o espírito dos anos 1980

Julho acabou e qual foi a melhor surpresa do mês? Anúncios foram noticiados, a batalha da DC vs Marvel na San Diego Comic Con, etc e etc. Mas com certeza, a melhor novidade foi a série da Netflix, Stranger Things, uma das novas séries originais que a provedora via streaming preparou para este ano, reunindo todos os requisitos para torná-la a revelação, ou mesmo a melhor, de 2016. Aqui no Brasil, virou febre, fazendo até que um dos criadores perguntasse: mas o porquê disso tudo?

Vamos em partes, ok? A série foi criada pelos irmãos Duffer, os gêmeos Matt & Ross, que, seguindo o exemplo de Steven Spielberg e George Lucas no inicio da carreira, fizeram filmes caseiros durante a puberdade, seguindo para Los Angeles, onde se formaram em cinema. Os jovens da Carolina do Norte começaram com curtas-metragens e algumas pontas na televisão, e lançaram um filme de terror sem expressão. Mas foi na 21 Labs, do diretor de “Uma noite no museu”, Shawn Levy, que enfim tiveram a chance de mostrar seu estilo que envolve sobrenatural, mistério e referências a outros filmes e seriados.

Os gêmeos escreveram todos os oito episódios ambientado numa cidadezinha do estado norte-americano de Indiana, Hawkins, e os mistérios que esconde. O desaparecimento e a eventual busca de Will, um garoto de oito anos, é mola mestra da série. Will provinha de uma família desestruturada, mas que não faltava atenção, apesar dos problemas de horário da mãe e do irmão no trabalho. O garoto pertence a um grupo da escola de nerds e foi após uma partida de RPG que desaparece. Sua família e amigos mobilizam a cidade para procurá-lo, enquanto eles passarão por momentos e descobertas que alterarão suas vidas, todo isso relacionado ainda com uma menina estranha que aparece na cidade.

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Cada um dos episódios tem quase uma hora de duração, perfeita para uma maratona. Eu, por exemplo, comecei de manhã, à tardinha já estava terminando. Conta com um elenco que soube dar forma aos personagens, que, por sinal, estão tão bem construídos, que conseguem sair da telinha, tamanha a identificação que eles passam aos espectadores. Assim, nos deparamos com uma Winona Ryder retornando após anos sumida. Ela interpreta Joyce Byers, uma mãe solteira, daquelas que corre atrás apesar dos problemas. É uma interpretação vigorosa por mostrar ao mesmo tempo fragilidade e determinação, sem muito da vaidade que cerca a atriz.

Está magnifico Matthew Modine com seu vilão caricato, o Dr. Martin Brenner, que apenas fala e só sua presença atemoriza. Os incríveis Noah Schnapp como Will e Millie Brown como Once, cujas interpretações brilham frente ao casting infantil da série, juntamente com Finn WolfhardCaleb McLaughlinGaten Matarazzo, respectivamente o Mike, o Lucas e o Dustin, que me fizeram lembrar minha turminha de amigos e primos, com nossas nerdices, amizade e brincadeiras durante os anos 1980. São interpretações tão ricas que emocionam. Não podemos esquecer de mencionar esse xerife a que David Harbour dá vida, determinado e um show de clichês a parte.

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A trama por trás do desaparecimento de Will leva os personagens a vias distintas que confluem na criação de três grupos: o dos adultos, o dos adolescentes e o das crianças, que tratam de achar as respostas aos mistérios que surgem em busca do objetivo de encontrar Will. E é nessa divisão que nós, espectadores, podemos ver nossos reflexos através dos personagens as distintas etapas da vida, precisamente na hora de tomar decisões.

Stranger Things traz o espírito da nostalgia e da diversão que temos dos anos 1980 e um pouco dos anos 1990, mas traz aquele clima aventuresco que a Amblin Entertainment fez em seus filmes, mas também traz pitadas de Stephen King e John Carpenter. Faz uma viagem a um tempo que a amizade, a família, o primeiro amor, as traições, as perdas, o medo do desconhecido, o sentimento de não estarmos sozinhos no Universo e o espirito aventureiro prevalecia… (lágrimas de saudade)… transportando muitos a nossa infância e mostrando a essa geração como éramos felizes com coisas tão simples.

Como uma Sessão da Tarde pela quantidade de homenagens, referências, citações, easter eggs ao cinema e a literatura da época, Stranger Things prende a atenção por tudo isso. O cenário de uma típica cidadezinha dos EUA habitado por pessoas normais que se veem obrigados a viver situações excepcionais, lembra muito Contatos Imediados de Terceiro GrauE.T, O Extraterrestre, Poltergeist mais com o espírito de aventura e mistério de Os Goonies, Uma noite alucinanteStarman só numa versão mais infantil de A Coisa e de outros roteiros de Stephen King, com todo aquele segredo envolvendo o governo, as investigações a la Twin Peaks e os mistérios que Arquivo X e Fringe traziam sobre universos paralelos.

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Mas é nos detalhes que a série oferece que conseguimos imergir nesta viagem ao tempo: através dos posters de Tubarão, a música de The Clash,  do Joy Division e do New Order, o RPG Dungeons & Dragons, o universo de Tolkien com O Senhor dos Anéis e O Hobbit, os X-Men quando o quinteto formado por Ciclope, Fera, Homem de Gelo, Anjo e Garota Marvel era substituído pelo grupo de Tempestade, Wolverine e companhia, os filmes da saga Star Wars… e ao mesmo tempo pela quantidade de referências, muita gente vai ter que assistir de novo para todas notá-las.

A série dos Duffer apesar de nascer dessa nostalgia, consegue fazer seu próprio caminho e não falha em seu desenvolvimento, apresentando um universo rico, que acredito que trará muito mais ao terreno da telinha, ao contrário de outras produções, como Super 8 de J.J. Abrams, que serviu mais como uma pequena, mas divertida experiência de volta à década de oitenta.

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Com as notícias da segunda temporada já inundando a rede, mas sem a confirmação oficial da Netflix, seus criadores já conversam que querem uma sequencia direta da primeira. A ideia inicial que os irmãos pensavam era de contar novas histórias a cada temporada, ao estilo de American Horror Story. Ao menos o que parece é que teremos ainda tudo sob o ponto de vista da turminha. E parece que esse espírito de retomada já está dando frutos, como a esperada adaptação de Spielberg para o cinema de Ready Player One e a série em quadrinhos Paper Girls de Brian K. Vaughan y Cliff Chiang. Porém vamos deixar isso pra depois, o que sei que Stranger Things é uma Gravity Falls sem precedentes, multi-referencial, complexa e mais que divertida.

 

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