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“Reza a Lenda” rende na ação, mas fica no terreno do mero passatempo

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No Brasil, nos últimos tempos, não há muitos filmes lançados em grande escala que fujam do esquema que privilegia mais do mesmo, como as comédias estreladas por astros da TV. Por isso, é muito bom ver uma produção nacional que procura trazer algo diferente para as massas, num gênero não muito explorado como o de ação. Somente por isso, “Reza a Lenda” (Idem, 2016) merece seu reconhecimento por suas qualidades técnicas, além de buscar dialogar com o grande público com sua linguagem pop. Só que poderia desenvolver melhor alguns elementos essenciais, como o roteiro, para que o seu resultado final fosse bem mais satisfatório do que acabou realmente se tornando.

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Ambientada no sertão nordestino, a trama é centrada numa gangue de motoqueiros religiosos liderada por Ara (Cauã Reymond), que busca encontrar algum sentido para a miséria que infesta a região.

Ele e seus companheiros decidem roubar a estátua de uma santa, que todos acreditam ter poderes para acabar com a seca e trazer liberdade e justiça para o povo. Só que o roubo desperta a fúria do poderoso fazendeiro Tenório (Humberto Martins), que coloca todos os seus homens no encalço do grupo para recuperar a escultura, numa caçada alucinante pelas estradas. Durante a perseguição, Ara acaba resgatando a jovem Laura (Luisa Arraes), que sobrevive a um grave acidente e se junta ao bando, já que não tem muita escolha. Só que Severina (Sophie Charlotte), amante de Ara, não gosta nada da novidade e a situação vai ficando ainda mais complicada para a equipe, que faz de tudo para cumprir a sua missão.

Foto: Marcos Camargo

Com uma inspiração clara, tanto nos figurinos quanto nas cenas de ação, nos filmes da franquia “Mad Max”, “Reza a Lenda” chama a atenção com boas cenas de ação, fotografia e edição interessantes e eficientes efeitos especiais.

O diretor Homero Olivetto, em seu primeiro longa-metragem, foi feliz em criar um sertão com uma ambientação semelhante à de produções apocalípticas, misturado ao clima dos faroestes. O cineasta também teve ideias interessantes, como uma luta entre dois personagens usando facões, que só peca em ser curta demais e, por isso, perde um pouco do impacto que poderia proporcionar.

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Porém, se por um lado “Reza a Lenda” funciona bem no quesito diversão, o filme tem sérios problemas em contar bem sua história. Assim como na maioria das produções nacionais, o calcanhar de Aquiles está no roteiro, escrito por Olivetto, Patrícia Andrade e Newton Cannito, que não desenvolve bem algumas partes da história, deixando alguns furos fáceis de perceber até mesmo para espectadores pouco atentos. Além disso, alguns personagens são mal construídos, prejudicando bons atores como Jesuíta Barbosa, que vive o esquentado Pica-Pau, um dos integrantes da gangue, ou Julio Andrade, que interpreta o enigmático Galego Nosso, líder de uma estranha seita.

Outra questão envolve cenas que não fazem muito nexo, como as que envolvem nudez, que parecem desnecessárias para o andamento da trama, mas estão lá para agradar uma parte do público.

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O elenco é irregular, mas não chega a prejudicar o filme. Cauã Reymond não se sai mal como o protagonista cheio de conflitos, porém não faz nada muito diferente do que já tenha mostrado em outros trabalhos. Sophie Charlotte, depois de uma boa estreia no cinema em “Serra Pelada”, volta a provar que tem um grande potencial como atriz, tanto na caracterização quanto na forma que mostra o lado agressivo de Severina, quase como uma versão tupiniquim da Imperatriz Furiosa de “Mad Max: Estrada da Fúria”. Luisa Arraes pouco tem a fazer como a “mocinha” Laura, já que o roteiro não consegue torna-la tão interessante.

Quem aproveita bem a chance de brilhar, no entanto, é Humberto Martins, que faz um Tenório bem ameaçador e, ao mesmo tempo cômico, com suas analogias a respeito de elementos de festas juninas para justificar seus atos cruéis, o que pode gerar risos nervosos dos espectadores. Além de Jesuíta e Júlio, é uma pena que Sílvia Buarque também seja desperdiçada com o fraco papel da esposa do vilão.

Foto: Marcos Camargo

Com uma trilha sonora interessante, que conta com elementos de música eletrônica e canções de rock de artistas como Pitty, “Reza a Lenda” vale ser descoberto apesar das falhas que apresenta. O filme é, no fim das contas, um passatempo inofensivo que não deve entrar na lista de melhores do ano, mas não deve aborrecer boa parte de seu público-alvo. Mas poderia render muito mais.

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