A mais nova tentativa de se adaptar um videogame clássico para os cinemas ganha uma versão muito bela, cheia de efeitos especiais bonitos, um elenco razoavelmente bom, porém, como era de se esperar, sem conteúdo, dinâmica e história.
Começamos nossa jornada crítica pelo enredo. Existe um problema em tentar contar uma história totalmente ficcional e obrigar o público a engolir que ela pode ter acontecido. Os primeiros minutos do filme são basicamente isso, falando sobre o Império Persa e criando a mitologia a respeito de Dastan, um jovem de rua que é adotado pelo Rei da Pérsia para ser seu filho devido a sua bravura, coisa que nunca aconteceu na realidade.
Dastan cresce e vira Jake Gyllenhaal, o mesmo príncipe de sempre, que dá notas de ser um beberrão biscateiro, mas como o filme é da Disney, isso fica implícito. Antes de continuar, devo começar meus protestos contra a política de censura da produtora. Durante o filme não há sequer uma cena digna de nota em que se vê sangue sendo derramado profusamente, apenas arranhões ou machucados. Dastan é o típico guerreiro desvairado que prefere fazer suas acrobacias e passar a espada no povo. Pergunta se voa sangue em algum momento? Nada!
Voltando, o irmão do rei, Nizam (Ben Kingsley), descobre através de seus espiões que a cidade sagrada de Alamut está forjando armas e as vendendo para seus inimigos. O rei chama o conselho de seus três filhos, entre eles Dastan, que é contra atacar a cidade, mas não se impõe, o que provoca o cerco à cidade e o eventual combate vencido graças a ele, claro.
Na cidade, eles encontram a princesa Tamina (Gemma Arterton) que tenta fazer com que uma adaga seja levada para fora de seus domínios. Dastan pega ela sem saber o porquê, e fica com ela para si. O rei acaba sendo assassinado com um manto envenenado que o queima ???!! e Dastan é culpado pelo crime. Ele foge com Tamina e ela tenta o matar para pegar a adaga, mas ele aperta um botão no cabo dela e o tempo volta e salva sua vida.
Novamente eu paro o resumo da ópera para reclamar. Essa tal Gemma Arterton deve ser irmã do Nicholas Cage. Não há qualquer expressão facial, apenas aquela “eu acho que sou gata, me adore”. Mesmo irritada, ela mal muda a expressão e o roteiro não ajuda em nada. Afinal, ele até cria momentos de tensão e humor, mas cadê a expressão facial para caracterizar isso? Ela só serviu para ser modelo do belo cartaz do filme no qual ela figura, só.
O diretor Mike Newell de Harry Potter e o Cálice de Fogo não pode ser culpado pelas falhas do roteiro, mas ainda assim, é sua obrigação colocar os atores no mesmo ritmo que este tenta impor. Isso é bem nítido com o ator Ben Kingsley, que sempre foi tido como bom e normalmente é elogiado, mas acaba virando mais um no meio de tamanha confusão. A prova de que o ator é bom está em um filme que passou no começo deste ano chamado A Ilha do Medo, de Martin Scorcese. Naquele filme, percebe-se a importância do diretor em permitir aos atores que usem um bom roteiro para criar seus personagens.
Ben Kingsley é o vilão do filme, isso tá na cara em todos os cartazes. Desde o começo percebe-se o olhar de gênio do mal atuando, ainda assim, tenta-se passar a impressão de que o vilão é na verdade o irmão mais velho e ele é só um tio bonzinho. Mas alguém teve a idéia de tentar fazer ele ser uma pessoa que aparentemente todos gostavam? Não, esqueceram de ensinar os roteiristas como criar cenas de interação entre os personagens para que eles tenham uma empatia tanto entre si, quanto com o público.
Em Príncipe da Pérsia, o que vemos é um roteiro travado por falas cheias de clichês e cenas coreografadas à exaustão. O resultado é um filme sem emoção, sem amor, apenas com ação, ação e ação com base um roteiro fraco, ou seja, um pornô com persas britanizados. Isso se vê quando começa a participação do sempre fantástico Alfred Molina, como um Sheik que salva Dastan e começa sendo um vilão, com algumas tiradas de humor. Sem mais nem menos, vira bonzinho, repetindo a mesma frase sobre a raça de um de seus seguidores pelo menos cinco vezes durante o filme até a cena fatídica do porquê da exaustão do uso da frase.
Claro que não vou continuar falando muito mais, afinal, se você chegou até aqui, já percebeu para onde estou indo. A fraqueza no roteiro é tentar fazer um filme que tem um plot totalmente falho, com diversos buracos e ainda assim, tentar forçar o espectador a assistir aqueles buracos esperando por uma cena de ação que faça eles ficarem no esquecimento. A todo momento em que Tamina e Dastan começam a ter um climão entre si, surge uma cena de ação para cortar tudo, é quase um coitus interruptus.
É até triste de dizer, mas Transformers é um filme com mais emoção do que Príncipe da Persia. Faltou um pouco de geekness para atrair os jogadores e, ao mesmo tempo, um roteiro mais fechado que não fosse salvo por uma coisa tão óbvia. Se você gosta dos jogos, fique com eles, a história lá é bem mais profunda e trabalhada do que aqui.
J.R. Dib











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