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Com “Meia Noite em Paris” Woody Allen dá vida a seu viés reacionário

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Woody Allen é um gozador. Não espere simplificações de sua “estética”. Ou mesmo variações de uma conceituação já estabelecida sobre ele. O cara, dentro de seus paradigmas, é um subversor, até mesmo para sua plateia tão devota.

Meia-Noite em Paris, seu novo filme (e que vem se tornando seu maior sucesso até aqui) é a comprovação dessa dimensão, onde seu público, com homeopáticas informações sobre a trama, entre na sessão do filme de uma forma, e sai de outra, diametralmente oposta, e (garanto) bem mais enriquecedora.

A trama é uma espécie de realismo fantástico verborrágico, isso bem a cara do cineasta. Owen Wilson – alter-ego um tanto vertiginoso de Allen – interpreta Gil, um roteirista do mainstream hollywoodiano, que está em férias, com a esposa fútil (Rachel McAdams, solar) e os endinheirados sogros, por Paris. Saudoso dos agitados anos 20, que sempre povoou seu imaginário, encontra na Cidade da Luz ambientação perfeita para sua imaginação romântica. Até que, certa noite, ele “entra” nesse sonho, conhecendo (e encantando-se) personalidades como Pablo Picasso e F. Scott Fiztgerald.

A grandeza específica desse filme novo de Allen reside na “peça que ele prega” em seu enorme e tradicional número de fãs: buscando ressonâncias em Rosa Púrpura do Cairo e sua glamourização do passado como ideário de perspectivas, o público é surpreendido por um arrojamento desse discurso levando às últimas conseqüências o paradigma do cineasta de que o presente é um norte a ser seguido, para além de um passado a ser idealizado.

Allen trafega faceiramente sua espirituosa criticidade pelo pseudo-elitismo dos “inteirados da arte” demonstrando uma vitalidade impressionante ao tomar por discurso a dessacralização dos anseios pessoais em favor de uma amplitude maior e muitas vezes bem mais simples.

Pode ser que seja um grande relato pessoal, ou apenas um discurso direto de Allen para que o mundo (e o meio) não se leve nada a sério. Sob essa ótica, o filme é de uma revolução conceitual (dentro do universo do autor) impressionante. E a comprovação de que Woody Allen talvez seja dos cineastas mais antigos, o mais moderno e iconoclasta do cinema atual.

[xrr rating=4.5/5]

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