Gloria é um nome já consagrado na história do cinema pelo belo trabalho de John Cassavetes, de 1980. Nesse novo filme chileno, cuja trama é completamente diferente, duas coisas se mantêm em comum: o título e a força da protagonista.
Gloria (Paulina García) é uma mulher de 50 ou 60 e poucos anos, mãe de dois filhos crescidos e divorciada há 12 anos, que vive sozinha, trabalha e mantem uma vida social ativa.
Como muitas mães, sente falta de seus filhos, que como muitos, telefonam pouco. Mas sobretudo, mais do que qualquer outra característica que possa caracterizá-la, se destacam dois momentos: quando canta no carro em voz alta músicas bregas de amor e de abandono e quando sai para dançar.
Toda semana, Gloria vai a um salão de dança, onde muitas pessoas de sua faixa etária sentam em mesas e se convidam para “bailar”. Apesar de ser charmosa e apreciar os flertes casuais, é uma mulher independente e segura, que pergunta se pode se sentar numa mesa com outras pessoas e que não tem problema algum em dançar sozinha. Sua destreza na pista de dança e seu sorriso contagiante atraem vários candidatos. Um deles é Rodolfo (Sergio Hernández), um homem recém divorciado que se encanta por Gloria e lhe telefona, alguns dias depois de uma apaixonada noite de sexo.
Os dois começam um namoro, regado de poesias, almoços com vistas privilegiadas e bungee jumping no Parque que pertence a Rodolfo. O único problema, que apesar de único, é recorrente, parece ser as filhas e a ex mulher de Rodolfo, que não sabem de seu relacionamento e telefonam constantemente pedindo dinheiro ou sua presença, deixando à Gloria a impressão de um caso mal resolvido e de estar sendo propositalmente mantida como segredo.
Os detalhes das idas e vindas do casal não interessam tanto nessa resenha, mas sim a força e a independência dessa mulher, que apesar de altos e baixos e situações difíceis, continua sempre com a cabeça erguida, na certeza de que dias melhores virão e que as músicas de amor estarão sempre lá para nos confortar ou expurgar nossas tristezas, e que não aceita ser tratada pior do que merece pelo medo de ficar sozinha.
Gloria, que poderia se passar por mais um filme trivial, por uma banal representação de uma mulher de meia idade pertencente à classe média chilena, ou um filme de costumes em que o dia a dia dos personagens em nada acrescentam nosso gosto estético, surpreende os olhos do espectador pelo sensacional trabalho da atriz chinela, Paulina García, que não à toa, foi premiada no Festival de Berlim do ano passado por esse trabalho, e pela sensibilidade e coragem do diretor Sebastian Lelio, por dar voz a uma incrível personagem, que apesar da ocasional solidão ou dos possíveis estigmas da idade, exala exuberância e insiste em viver intensamente.
Lindo filme! Inspirador e instigante. Tem uma crítica sobre ele em
http://www.artigosdecinema.blogspot.com/2014/02/gloria.html