A Baú Editora, nova editora brasileira de mangás fundada em 2024, estreia com um lançamento impactante: As Viajantes do Fim (Girls’ Last Tour), obra escrita e ilustrada por Tsukumizu. Publicado originalmente entre 2014 e 2018, o mangá chega agora ao Brasil em abril de 2025, com o Volume 1 já disponível para pré-venda. E, diante de uma narrativa tão singular, é impossível não se perguntar: o que torna essa história tão especial em meio a um gênero já saturado de ação e violência?
Um Pós-Apocalipse Diferente

Enquanto obras como Attack on Titan e Mad Max exploram a sobrevivência através do conflito, As Viajantes do Fim opta por um caminho mais introspectivo. Acompanhamos Chito e Yuuri, duas jovens que perambulam por uma civilização em ruínas, não em busca de um inimigo a ser derrotado, mas de respostas — ou, pelo menos, de perguntas que valham a pena ser feitas. Acompanhadas por sua fiel moto Kettenkrad, elas exploram cidades em ruínas, buscando comida, combustível e qualquer esperança em meio ao vazio. Apesar das adversidades, as duas encontram conforto na amizade e nos pequenos momentos da vida.
Aqui, não há vilões ou batalhas épicas. A guerra já aconteceu, e o que resta é um mundo vazio, onde a humanidade se reduz a escombros e memórias fragmentadas. Tsukumizu constrói uma narrativa filosófica, abordando temas como religião, arte e a natureza humana, sempre sem respostas fáceis. As protagonistas, ignorantes sobre o passado, funcionam como espelhos do leitor: curiosas, confusas e, às vezes, desesperançosas, mas ainda capazes de encontrar beleza no caos.

O mangá alterna momentos de desolação com cenas surpreendentemente calorosas. Um dos capítulos mais memoráveis mostra Chito e Yuuri experimentando álcool pela primeira vez, resultando em uma sequência hilária, mas também melancólica — um breve instante em que escapam da realidade, mesmo que só por alguns minutos.
A adaptação para anime, lançada em 2017, amplifica essas nuances. A cena em que as protagonistas criam música com a chuva e detritos ganha vida através da trilha sonora, elevando a experiência emocional. No entanto, o mangá mantém sua força na simplicidade: os diálogos ponderados, os silêncios eloquentes e os traços minimalistas de Tsukumizu reforçam a solidão do mundo.
Vale a Pena Ler?
As Viajantes do Fim não é para todos. Se você busca ação frenética ou respostas concretas, pode se frustrar. Mas se está disposto a embarcar em uma reflexão existencial disfarçada de aventura pós-apocalíptica, essa obra é uma joia rara.

A Baú Editora acerta ao trazer esse título para o Brasil, oferecendo aos fãs a chance de conhecer (ou revisitar) uma história que desafia as convenções do gênero. Serão 3 volumes, cada edição 2 em 1, fizemos a leitura no material em inglês e esperamos que a editora traga um material físico de qualidade.

As Viajantes do Fim merece atenção — não apenas como um mangá, mas como uma experiência literária que permanece na mente muito depois da última página.
Nota: 8,5