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“Les Rencontres d’Arles”: A arte da francesa Noémie Goudal

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Depois de uma intensa semana em Arles, eu volto pra contar um pouco sobre a experiência.

A primeira exposição que vi foi na Igreja des Trinitaires, no espaço 5 da programação, com o conjunto de trabalhos da artista francesa Noémie Goudal intitulado “Phoenix”. 

A exposição se divide em três momentos. Um primeiro com grandes fotografias de mais ou menos 1 metro e meio a 2 metros de altura retratando palmeiras e outras paisagens entrecortadas em listras que vão criando camadas. 

Em um segundo momento, duas telas enormes projetam um vídeo cada uma. No primeiro, vemos uma paisagem de floresta tropical, com um rio e muitas árvores e vegetações. Aos poucos, imagens impressas em tamanho real de outras espécies de árvores começam a surgir de dentro da água e se mesclar com a paisagem.

De alguma maneira, mesmo que nós saibamos que aquelas imagens são artificialmente colocadas ali, mesmo que saibamos que é um efeito ilusório, intensificado ainda mais pelo som de correntes pesadas que estão realizando a operação, as camadas parecem simplesmente se encaixar perfeitamente e de um momento a outro não sabemos mais distinguir o que é real e o que está camuflado. E pouco depois, quando o olhar já está bem acostumado, os falsos elementos das paisagens voltam mais uma vez para a água. O vídeo fica assim, em loop.

Já o segundo vídeo começa por uma paisagem também de natureza selvagem que aos poucos começa a pegar fogo. Mas não é a paisagem em si e sim uma gigantesca impressão fotográfica que está a queimar. Por trás das folhas ardentes, outra paisagem. Por um momento, você, enquanto espectador, se pergunta, não seria irresponsabilidade colocar fogo em uma enorme impressão em meio a uma floresta? E antes mesmo que você tenha tempo de responder às questões ético-ambientais, a segunda paisagem também começa a pegar fogo, revelando uma dupla camada de “falsas impressões”.

Finalizando a exposição, um pequeno projetor lança sutis movimentos de luz diante de uma impressão fotográfica de mais ou menos 60 x 90 cm de uma rocha dentro de uma gruta. O ambiente retratado na imagem é escuro e denso, mas os pequenos focos de luz gerados pela projeção delineiam o espaço com tanta precisão, parecendo dar relevo às texturas, criando um forte efeito ilusório de que aquela imagem na verdade seria um vídeo. Isso é ainda mais acentuado quando um pequeno trilho de água surge por entre as rochas. Por alguns instantes, você se pergunta se aquilo é mesmo apenas uma fotografia. 

Toda a exposição brinca com essa ideia de camadas, de sobreposições e de ilusão de ótica, mas sempre sedo extremamente franco com o espectador. 

Eu, particularmente, adoro pensar a fotografia e a arte, de modo geral, como esse lugar que interpõe a realidade com a nossa percepção, tornando evidente a fragilidade das nossas certezas diante do mundo.

Um pouco mais de contexto sobre a Obra de Noémie

Phoenix é resultado de uma pesquisa que a artista vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos em torno da paleoclimatologia, o estudo dos climas desde tempos antigos até hoje, através dos quais cientistas tentam identificar as tendências naturais das mudanças climáticas em um longo período de tempo.

Noémie busca através da história da Terra e das inúmeras transformações pelas quais passou, como chegamos às paisagens que hoje existem. Em um vídeo de apresentação que está no site oficial do evento, https://www.rencontres-arles.com/en/expositions/view/1046/noemie-goudal , ela ressalta esse intuito de manter aparente a operação do dispositivo e os elementos de construção por trás da ilusão, criando uma oscilação entre a realidade e a ficção gerada pelo cenário.  No mesmo link, há também um vídeo de Making Of que mostra um pouquinho dos bastidores de criação de suas obras. Vale a pena conferir. 😉

Se você por acaso for a Arles ainda este ano, não perca a oportunidade de ir ao festival, que estará acontecendo até o dia 25 de setembro. 

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