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Adeus ao carismático ator Dean Stockwell (1936–2021)

Dean Stockwell, após uma longa e variada carreira em Hollywood morreu aos 85 anos. A família do ator noticiou que ele morreu em sua casa de causas naturais, no Novo México, em 7 de novembro de 2021. Sua carreira de ator, que durou 8 décadas, começou nos anos 1940 e não terminou até 2015. Fizemos um apanhado geral de sua vida e legado, como uma homenagem ao ator.

Nascido em 1936, em Los Angeles, numa família de artistas; seu pai, Harry Stockwell (1902-1984), foi a voz do Príncipe Encantado no filme Branca de Neve da Disney. Foi ele, já separado da esposa, quando trabalhava na Broadway, que soube de um teste para atores mirins, Nina Olivette, a mãe de Stockwell levou ele e seu irmão, Guy para o teste e o dois ganharam o papel. Mas foi a partir daí, que Dean assinou um contrato com a MGM, com menos de dez anos.

Dean na época que assinou um contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer. Fotografia: John Springer Collection / Corbis / Getty Images

E logo foi escalado para uma pequena participação no melodrama O Vale da Decisão (1945): e o produtor Joe Pasternak (1901-1991) deu a ele um papel maior em Marujo do Amor (1945) ao lado de Frank Sinatra (1915-1998) e Gene Kelly (1912-1996).

Stockwell com Frank Sinatra no musical, Marujos do Amor. Fotografia: Getty Images

Com o sucesso do musical, a MGM o colocou em um papel fundamental em Anos de Ternura (1946), como um órfão católico irlandês que cresceu em uma casa presbiteriana escocesa. O resultado foi ainda maior e Stockwell já chamava a atenção dos demais estúdios de Hollywood.

Stockwell, retratado aqui com Jessica Tandy (1909-1994)

A 20th Century Fox o leva para Lar, Doce Tortura (1946) com Peggy Ann Garner (1932-1984) e Connie Marshall (1933-2001), o filme ficou em 4º em bilheteria no ano; e em 1947, já era coestrela em O Poderoso McGurk (1947) na MGM, com Wallace Beery (1885-1949).

Stockwell numa cena do filme Lar, Doce Tortura (1946)
Em O Poderoso McGurk

O garoto prodígio segue o ano de 1947, como coadjuvante em vários filmes: O Caso Arnelo, Reconciliação, A Canção do Acusados e A Luz é para Todos. Esse último, ganhou o Globo de Ouro 1948, como melhor ator juvenil. No entanto, Stockwell achou a experiência de ser um ator mirim difícil no geral, constantemente trabalhando, não tinha amigos, em entrevista disse que era “uma maneira miserável de criar um filho, embora nem meus pais nem eu a reconhecêssemos na época”.

Cenas que Stockwell contracenou com Frances Gifford (1920–1994) em O Caso Arnelo; com Janet Leigh (1927-2004), Van Johnson (1916-2008), Thomas Mitchell (1892-1962) e outros em Reconciliação; com Myrna Loy (1905-1998) e William Powell (1892-1994); e com Gregory Peck (1916-2003) em A Luz é para Todos.

Os trabalhos dramáticos continuaram, como O Órfão do Mar (1948) e em O Menino do Cabelo Verde (1948), filme que fez emprestado para a RKO Pictures para interpretar o papel-título, entre outros. Segundo o próprio ator, não gostava dos papéis sérios, queria se divertir, nada de choros.

Apesar de protagonizar a parábola anti-racismo O Menino de Cabelos Verdes, o filme foi um fracasso.
De volta à Fox, foi escalado como neto de Lionel Barrymore (1878–1954) em Capitães do Mar (1949).
Stockwell, Margaret O’Brien e Brian Roper em O Jardim Secreto (1949)

Os anos 1950 abrem espaço para outros gêneros, como o faroeste (O Testamento de Deus, 1950 ou O Estouro da Manada, 1951); a comédia (Era Sempre Primavera, 1950) e a aventura (Kim, 1950).

Stockwell, Ellen Drew (1914–2003) e Joel McCrea (1905–1990) em O Testamento de Deus (1950), um sucesso de bilheteria
Em Era Sempre Primavera (1950), como protagonista, John Humperdink ‘Dink’ Stover, um estudante incorrigível.

Em Kim, o jovem ator estrela o papel-título, no filme de sucesso baseado no livro de Rudyard Kipling, com Errol Flynn (1909–1959).

Ao lado de Joel McCrea (1905–1990) em um faroeste na Universal, Estouro da Manada (1951). Interpretou o filho mimado de um magnata das ferrovias perdido nas colinas desertas que leva uma lição de um caubói.

Hiato e retorno

Stockwell ao terminar o Ensino Médio, entrou na Universidade da Califórnia, Berkeley; entretanto abandonou os estudos, devido ao fato de que era “infeliz e não conseguia se dar bem com as pessoas”. E ficou vários anos fora da atuação, indo de um emprego para outro antes de relutantemente retornar em 1956, como ator convidado em várias séries de TV e no faroeste Arma para um covarde (1957) como coadjuvante.

Aos 21 anos, no faroeste, Arma para um Covarde, que explora a rivalidade fraterna entre três irmãos criadores de gado.

Logo, ganha um papel principal num melodrama adolescente de baixo orçamento, Se a Mocidade Soubesse (1957), fazendo par romântico com Natalie Trundy (1940–2019), foto abaixo:

Em 1957, estrela a adaptação na Broadway, Estranha Obsessão, baseado na história de Leopold e Loeb. Mesmo papel na versão cinematográfica de 1959. Ele com Orson Welles e Bradford Dillman, dividiram o Prêmio de Cannes de 1959 de Melhor Ator.

Diilman, Stockwell e Welles, os vencedores em Cannes por melhor atuação em 1959, por suas interpretações nesse noir drama de tribunal.

Stockwell continuou a trabalhar pesadamente em séries de TV, e no inicio dos anos 1960, casa-se com a atriz Millie Perkins (1938). No mesmo ano, interpretou um jovem artisticamente talentoso que vive numa cidade mineira unida e é inibido pela sua mãe emocionalmente manipuladora, no britânico, Filhos e Amantes. Ele continuou a trabalhar principalmente na televisão, em mais de 20 episódios de várias séries, entre elas Defensores e Além da Imaginação.

Premiado com o Oscar 1961 de Melhor Fotografia, Filhos e Amantes (1960) traz Stockwell e Wendy Hiller (1912–2003).

Em 1962, divorciou-se de Perkins e posteriormente apareceu em uma adaptação de uma peça, Longa Jornada Noite Adentro, com Katharine Hepburn (1907–2003), que segundo o ator foi “uma experiência tão intensa e gratificante”. Stockwell ganhou seu segundo prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes, por esse filme. E fez várias participações especiais em séries, e um arco na série dramática médica, Dr.Kildare (1965).

Nasce uma mulher (1965), com Patricia Gozzi (1950), seu último filme nesse período, antes de abandonar o show business.

Durante o resto dos anos 1960, os fãs do ator o viram aparecendo com menos frequência na tela grande e na televisão. Ele passou muito tempo explorando drogas e bebendo, vivendo o estilo de vida hippie; “A experiência daqueles dias me proporcionou uma visão ampla e panorâmica da minha existência que eu não tinha antes. Não me arrependo.” Ele fez amizade com o músico canadense Neil Young, Dennis Hooper, Jack Nicholson, e Eric Clapton nessa época.

Voltando a atuar

Depois de alguns anos fora, ele voltou a atuar, apenas para descobrir que seu tempo fora levou os agentes de elenco de Hollywood a esquecê-lo. Entrou em Busca Alucinada (1968) onde retrata um hippie desaparecido, por causa de Jack Nicholson;.e segue fazendo pontas em séries e filmes para a TV.

Em 1970 faz um longa de terror, O Altar do Diabo, como um jovem estudioso de ocultismo. Colega do período hippie, Dennis Hopper o convidou para filmar O Último Filme (1971) no Peru, um filme experimental e controverso. Segundo o autor “Estava à frente de seu tempo (…) ganhará respeito com o passar dos anos”.

Sandra Dee e Stockwell no filme de terror, O Altar do Terror, vagamente baseado no conto de HP Lovecraft.

Continua participando de episódios de séries televisivas, como em Missão Imposível, The F.B.I ou Galeria de Terror, entre outras. Stockwell foi o protagonista em um filme de motociclistas, The Loners (1972), que chamou de “uma bagunça” e na comédia de terror O Lobisomem de Washington (1973), cujo roteiro disse “era satírico, político, engraçado, espirituoso e maravilhoso”, mas o diretor Milton Moses Ginsberg estragou tudo, segundo Stockwell.

Em O Lobisomem de Washington Jack Whittier (Stockwell) é um jornalista político que viaja para a Hungria, onde é mordido por um lobisomem. Sem saber, ele volta para casa e assume um novo emprego como secretário de imprensa da Casa Branca.

No restante da década continuou participando de pontas em várias séries e filmes de TV, como também em alguns filmes que não fizeram sucesso, como Won Ton Ton, o Cachorro que Salvou Hollywood (1976) ou Tracks (1976). Ele parou de atuar novamente em 1980, mudando-se para o Novo México para vender imóveis

Um ator cansado e endividado, mas que atingiu o auge na década de 1980

Em 1981, Stockwell casou-se com sua segunda esposa, Joy Marchenko, que conheceu em Cannes em 1976, quando ele trabalhava como corretor de imóveis. Uma especialista em têxteis que trabalhava no Marrocos, que em 1983, dá à luz ao seu primogênito, Austin. Nessa época, Stockwell havia se mudado para o Novo México, e estava deprimido com o estado de sua carreira, voltando-se para o mercado imobiliário para pagar as contas.

Seu velho amigo da época hippie, o cantor Neil Young o convida a dirigir e atuar em uma ideia de filme, Human Highway (1982). O roteiro é uma loucura, estamos no último dia na Terra em um pequeno restaurante  em uma cidadezinha localizada próximo a uma usina nuclear. Depois empreende em mais um fracassos: Alsino e o Condor, um filme da Nicarágua, que se tornou um marco pelo retorno do ator.

Em 1984, ele apareceu no aclamado Paris, Texas  de Wim Wenders, interpretando o irmão de Harry Dean Stanton. O roteiro de Sam Shepard apresenta um homem (Stanton) que vagueia pelo deserto após uma ausência de quatro anos. Seu irmão (Stockwell) o encontra e, juntos, voltam para Los Angeles para reunir o homem com seu filho.

No mesmo ano, depois de uma década de papéis na TV e filmes fracassados, Stockwell apareceu em Duna, ao lado de Patrick Stewart e Kyle MacLachlan no épico de ficção científica de David Lynch; baseado no romance de Frank Herber. E ainda, Matar um Estranho (1984), com Angélica Maria, sobre um crime de estupro em um país latino americano.

o incontestável Ben de Veludo Azul (1986), sujeito que dubla a canção Candy-colored Clown para aclamar os nervos do não menos icônico personagem de Dennis Hopper.

Em O Tira da Pesada 2

Entre 1985 e 1987, foi um ator ocupado, aparecendo em mais de 10 filmes : A Lenda de Billie Jean (1985), Viver e Morrer em Los Angeles (1985), Procura-se Rapaz Virgem (1985), Papai era um pregador (1985), Veludo Azul (1986), Jardins de Pedra (1987), Um Tira da Pesada II (1987), O Guardião do Tempo (1987), entre outros. Nesse período, sua filha nasce, Sophia

O líder da cidade temporal no scifi O Guardião do Tempo (1987).
Com Michelle Pfeiffer em De caso com a máfia, uma comédia de Jonathan Demme.

Em 1988, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação como o chefe da máfia, Tony “the Tiger” Russo, De Caso com a Máfia.

Dublou o Dr. Duke Nukem na animação Capitão Planeta

Foi Howard Hughes em Tucker: Um Homem e seu Sonho (1988); um mafioso em Encontro com a Máfia (1988); um detetive em A Hora da Compra (1988); o chefe do caminhoneiro Jorge, um Brasileiro (1989); outro mafioso em Atraída pelo Perigo (1990); um militar no filme que trata da invasão da Nicaragua em Sandino (1990); a voz do Dr. Duke Nukem de Capitão Planeta (1990-1992); e um agente em O Jogador (1992).

As séries de sucesso

Depois de atuar como ator convidado em diversas séries, Dean finalmente entrou para o elenco fixo de uma, Quantum Leap, ou melhor, Contra Tempos (1989 e 1993), a série se tornou um cult, com cinco temporadas, Stockwell foi indicado quatro vezes ao Emmy de melhor ator coadjuvante em uma série dramática por este trabalho; nunca ganhou um Emmy, mas ganhou um Globo de Ouro em 1990. Seu papel de contra-almirante fumante e mulherengo o levou a fazer vários outras figuras militares dale em diante.

Após o fim da série, em vários filmes para a TV, como Na Linha de Fogo – Rastros de Violência (1994), Uma Loira Em Apuros (1994), Evidência (1994), Madonna – A Inocência Perdida (1994); além de papéis em séries como o editor-chefe do Metropolis STAR, Preston Carpenter (Lois & Clark – As Novas Aventuras do Superman) ou na minisérie Fenda no Tempo. Tentou outra série regular, Street Gear (1995), mas durou apenas 13 episódios.

Capt. Wallace B. Binghampton em Marujos Muito Loucos

Fez pontas em The Commish (1995), Snowy River: The McGregor Saga (1995), Um Homem Sem Passado (1996) e Ink (1997), entre outras. Participou da comédia Deu tudo errado (1996), do scifi Almas Nuas (1996), com Pamela Anderson; no filme de ação Vivendo em perigo (1997) e na comédia Marujos Muito Loucos (1997).

Força Aérea Um, 1997 como o Secretário de Defesa Walter Dean, com Spencer Garrett e Glenn Close no thriller político estrelado por Harrison Ford.

Segue o scifi The Shadow Men (1997); o drama de tribunal O Homem Que Fazia Chover (1997), como o vilão em Sinbad: The Battle of the Dark Knights (1998) e Stockwell teve um papel regular no The Tony Danza Show (1998), que exibiu apenas 14 episódios.

O coronel Grat no episódio Detidos de Jornada nas Estrelas: Enterprise

O suspense Relações Perigosas (1999), como o advogado DJ Farraday em Vidas Ocultas (1999), a voz de Tim Drake em Batman do Futuro: O Retorno do Coringa (2000); Guerreiros Buffalo (2001); na série First Monday (2002) foi um senador, papel que seguiu por mais tempo na série JAG: Ases Indomáveis (2002-2004); num episódio de Jornada nas Estrelas: Enterprise fez um vilão, o coronel Grat (2002), ponta que também fez em Stargate SG-1 (2002), como o Dr Kieran.

Em 2004, fez uma pequena participação em Sob o Domínio do Mal (2004) e em várias outras séries, mas o papel mais célebre nesse período foi o vilão de Battlestar Galactica, John Cavil (2006-2009), a réplica humana feita pelos alienígenas cilônios.

Após essa fase, diminuiu suas atuações, mas ainda apareceu em Perseguido e Terror na Escuridão, além de uma participação na série NCIS: Nova Orleans, todos em 2014. Sofreu um derrame que o levou a se aposentar da carreira de ator em 2015. Ao se afastar, dedicou-se à sua outra grande paixão: a arte, organizando exposições pelos Estados Unidos.

Que descanse em paz.

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