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“Belas Maldições”, a comédia do fim do mundo por Terry Pratchett e Neil Gaiman

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De acordo com as justas e precisas profecias de Agnes Nutter, o mundo vai acabar em um sábado. No sábado que vem, para falar a verdade. Pouco antes da hora da janta…

Quando dois escritores reconhecidos por suas ótimas narrativas unem seu talento e escrevem uma história, coisa boa iria aparecer. E em Belas Maldições de Neil Gaiman e Terry Pratchett temos um exemplo de uma parceria que deu certo, e agora que foi publicado em uma nova edição, pela editora Bertrand Brasil precisamos aproveitar a leitura e o novo acabamento editorial.

Não que tenham lido muitos livros do Gaiman, mas Lugar Nenhum O mistério da estrela são dois que gostei muito, sem falar do Deuses Americanos. Já com Pratchett, ainda mais em especial com o seu universo: o Discworld e é um dos meus escritores favoritos. Devido a ter lido mais livros de Pratchett que de Gaiman, claramente pude identificar o humor de Terry quando escrevia, e, no caso, do lado mais soturno de Gaiman. Se alguém falasse que foi escrita somente por Pratchett, eu acreditaria e se aparecesse alguém tratando que Gaiman era quem escrevia também admitiria. mas estamos falando de dois grandes escritores e a parceria chega a perfeição. A história não é afetada de forma nenhuma com o estilo de cada um dos escritores e o que é sensacional que eles tentam imitar um ao outro.

Entrando no que se trata a narrativa, tratarei de dar um pequeno resumo sem revelar importantes partes para não afetarem a leitura: onze anos do fim do munido nasceu o Anticristo, que seria levado para uma família que o influenciaria a despertar seu potencial maligno quando chegasse o momento certo. Mas um anjo e um demônio não estavam muito contentes com a ideia de ver destruído o lugar em que viveram tantos séculos e decidem tramar algo que possa evitar o apocalipse. Assim colocam em ação um plano de se encarregar da educação da criança, para que na hora certa o Anticristo faça uso do livre arbítrio. Porém uma adepta de Satã troca o menino por outro e o verdadeiro anticristo acaba numa pequena cidade londinense em uma família de classe média, vivendo uma infância como deve ser.

Muito tempo antes disso tudo, houve uma bruxa, Agnes, que escreveu algumas profecias, não vendeu nenhuma cópia, mas surpreendentemente, foram muito precisas ao longo do tempo. E uma delas vaticina que o fim do mundo será no próximo sábado. E o anjo Azirafel e o demônio Crowley descobrem que perderam o Anticristo.

Os diversos personagens possuem o encanto de tantos outros que Pratchett e Gaiman construíram, e há aqueles que logo de início chegamos a se identificar bem, alguns mais que outros, mas para um volume de páginas, é incrível o elenco construído. Azirafel é um anjo que em seu tempo livre administra uma livraria. Seu melhor amigo, Crowley, é um demônio que conduz um Bentley e dedica sua vida a fazer coisas más —ou não tanto— como desconectar o sistema de telefonia de Londres durante 45 minutos. Ou, fazer que uma das ruas mais transitadas da capital britânica tenha um formato de um símbolo demoníaco… tudo isso, com a clara intenção de ganhar almas para seu amo.  Fato divertido: Azirafel era um dos querubins que cuidava da entrada do jardim do Eden e Crowley a serpente que tentou Eva…

Tenho uma preferência por livros de fantasia, mas não tinha lido esse, só ouvia falar, e quando comecei a leitura, sabia que iria gostar. O humor é a via para narrar a história, não piadinhas infantis, mas uma linguagem humorada. Pode parecer confuso, pela quantidade de histórias paralelas que ocorrem desde o início. Mas ao longo da leitura, creio que o leitor se acostuma, pela maneira que os autores desenvolvem a história. A narrativa tem um ritmo ágil e enquanto o humor, em alguns momentos,se torna tão absurdo, que me vi rindo. Há cenas tão bem ambientadas, e críticas no meio, que muitas vezes nos envergonhamos da humanidade que se encerra nelas.

A aparição dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse (Fome, Guerra, Morte e Poluição) é a parte mais crítica a nossa sociedade: ao fast-food dos dia de hoje, à estupidez das guerras, às usinas nucleares. E o humor negro da Morte são intervenções brilhantes. No caso da Peste, sucumbiu anos antes e a Poluição tomou seu lugar. Mencionar o Dramatis Personae do princípio do livro, que apresenta a maioria dos personagens, é uma verdadeira aventura. Mas a peculiaridade do humor inglês pode ter sido perdido com a tradução para o português, pois alguns chistes e referências não podemos captar em sua totalidade. Contudo, as notas de rodapé conseguem ajudar compreender alguns deles.

Belas Maldições é excelente, divertido e habilmente narrado, com personagens geniais, um pouco confusa em alguns momentos, mas não é um grande problema para a leitura. E o melhor, há demônios, alienígenas, uma bruxa louca, satanistas, viúvas vodu, motos que voam, um anjo que ama livros. E muito humor e referências irônicas às coisas que vão mal no mundo. E se o fim do mundo fosse como os contadores de histórias, Pratchett e Gaiman, nos contam aqui…

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