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"Cosmogonias", de Otto Leopoldo Winck

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Raramente um livro de poemas tem o que podemos considerar como unidade perfeita em sua composição. Muitos poetas costumam compor seus livros como uma espécie de antologia dos melhores trabalhos em determinado período ou escritos que casem com um tema qualquer. Não pensam no conjunto. Erro crasso que é alimentado pelo descaso de muitos editores que tocam para frente o projeto a despeito do que seria adequado: melhor polir o produto final. Esse equívoco é mais comum em poetas jovens, loucos de desejo de serem publicados, sonhadores com a fama e com saraus em que serão cobertos de aplausos.

Otto Leopoldo Winck foge desse perfil. Passa longe de ser um amador ou escritor afoito. Anteriormente agraciado em alguns dos principais prêmios literários do país, Otto é dos raros escritores que dominam a linguagem escrita em sua totalidade.

Em 2005 foi vencedor do Prêmio da Academia de Letras da Bahia com o romance Jacob (2006/Editora Garamond); em 2008 recebeu uma bolsa da Biblioteca Nacional; em 2010 ganhou outra bolsa de criação literária, desta vez da Funarte, tendo produzido um romance e uma novela nesse período. Em 2012 foi vencedor do Prêmio Governo de Minas Gerais na categoria poesia.  

Com toda essa bagagem e conhecimento teórico – Winck é Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Cosmogonias (2018 / Kotter Editorial), seu novo livro, conseguiu ter uma perfeita costura.

“Cosmogonias” é resultado de um trabalho de edição e diagramação quase perfeitos. Com uma capa lindíssima – seguramente é um dos cinco melhores trabalhos de capas nos livros recentes de poemas no Brasil -, interior com algumas páginas em uma bela cor marrom; só peca exatamente pela cor de mesma tonalidade – marrom – escolhida para a impressão dos poemas.

Um tanto opaca, a combinação cor da fonte X cor da página dificultou um pouco a leitura de alguns poemas. É, porém, pela grandiosidade de sua capa, um objeto de arte. E não apenas por ela, que fique claro. Pautado pela busca de personalidade do poeta em meio à uma sociedade transfigurada, o seguir em frente é uma constante na poesia de Winck. E como seguir? Em que cenário?

“Há um interstício

entre o que eu sou

e o que sonho, o que penso

e o que sinto. No meio,

bem no meio,

eu estou: pleno e vazio”

Aos poucos, “Cosmogonias” segue aterrissando em um platô diletante de dúvidas e conflitos do seu condutor, onde o que vale é o risco:

“Após tantas lidas,

deslindes e vindas,

constatamos pasmos

que a procura em si

foi melhor que o encontro,

o convite, então,

superior à festa,

e o sonho maior.

que a posse esperada…”

Winck é dos raros poetas brasileiros que conseguem fazer construções políticas sem que fiquem marcadas pela naftalina da mesmice panfletária. O seu “Rosa da Palestina” é de uma beleza cortante. Merecia ser traduzido imediatamente para o árabe e figurar nos muros entrecortados de tiros do dilapidado território palestino

Otto Leopoldo Winck (divulgação)

“Sobre os escombros

do que foi a casa de Zahwa

– que até esses dias

brincava aqui na frente –

nasceu

essa manhã

uma flor:

estúpida e inválida

Não importa,

é uma flor

– a mais linda de Gaza”

“Cosmogonias” é um livro de angústias e incertezas. De maturação plena da escrita de Otto Winck, reafirmando-o como um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea. Equívoco irreparável se Winck não vencer algum prêmio literário com este belíssimo livro.

O caminho está posto, as fichas lançadas.

“(Não existe

direção

quando não

se dispões

a caminhar…)”

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