Outlander, Cursed, Kingdom … séries históricas com um toque de fantasia parecem ocupar cada vez mais espaço nas nossas telas.
La Revolution, uma produção francesa segue esse caminho. A ideia ambiciosa de Aurélien Molas e François Lardenois; os criadores da nova série da Netflix; foi reimaginar a Revolução Francesa a partir dos eventos “esquecidos” de dois anos antes, quando a dor do assassinato de uma camponesa causou a centelha que se acendeu o Reino da França numa rebelião sem precedentes na história do país.
O roteiro, escrito por Gaïa Guasti, nos mergulha dois anos antes dos acontecimentos da Bastilha. Em 1787, o médico Joseph Guillotin – que propôs a guilhotina como método de execução – investiga uma série de assassinatos na França de 1787.
Logo descobre um novo vírus que se espalha rapidamente pela aristocracia. O chamado “Sangue Azul” faz com que os nobres ataquem violentamente os mais pobres, e isso será a causa de uma insurreição popular sem precedentes.
La Révolution não traz a complexa teia de causas que levou à Revolução Francesa , mas encontra sua força no simbolismo de sua narrativa que revisita a história francesa ao imaginar o rei Luís XVI como uma figura mefistofélica tecendo um plano nefasto para desafiar Deus e a morte, chamando para sua corte as doze principais famílias aristocráticas da França com a promessa de imortalidade e de mudar o mundo.
A forma antagônica que a epidemia chega é bem interessante. A ameaça da doença coloca em luta o sofrimento dos humildes, sem nome, subjugados e explorados contra os poderosos, super-homens ‘zumbis’ de sangue azul que agora se alimentam de verdade do povo.
A produção francesa pinta com sangue a ganância, a depravação e a luxúria da monarquia francesa absoluta e do Antigo Regime, responsável pelo estado de desigualdade e pobreza e pelo sofrimento dos submissos.
Por meio de uma narrativa envolvente e uma cenografia com um trabalho de câmera e tecnicismo muito a frente do aspecto narrativo, mas que evita evita habilmente o campo de sequências de combate coral, La Révolution ganha nesse aspecto, o visual.
Além disso também aproveita o jovem e talentoso elenco, em especial Marilou Aussilloux (Elise de Montargis), Lionel Erdogan (Albert Guillotin), Isabel Aimé González-Sola (Katell) e Julien Frison (Donatien de Montargis), a excelência do design de produção (figurinos, maquiagem) e a trilha sonora do compositor e produtor de música eletrônica francês Saycet.
Tratando dos personagens, a série compõem bem o papel dos vilões, mesmo caricatural suscitam desprezo, sobretudo ao sádico chefe da polícia Edmond de Pérouse (Dimitri Storoge) e o já citado Julien Frison que interpreta o odioso e escandaloso Donatien, um conde depravado que se mancha com os piores crimes contra o povo e sua própria família.
Um mash-up, que reimagina um momento, tomando a liberdade narrativa, criando uma metáfora contextual intrigante, embelezada com sutilezas como a “história verdadeira” do nascimento da bandeira francesa e momentos visualmente impressionantes. Vale conferir.
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