O livro “Menos que um”, da autora brasileira Patrícia Melo, é um romance ambientado nas ruas do Brasil, em descrições cruas sobre a realidade brasileira. Logo no primeiro capítulo somos apresentados à uma cena na qual um homem, que trabalha no serviço de limpeza da rua, joga jatos de água pelas calçadas de São Paulo.
Nesse processo, compreendemos que o homem fora instruído à não molhar os moradores de rua, mas que não fazia mal que os jatos de água acabassem por levar os pertences deles. Ou seja, já somos apresentados á uma das maiores problemáticas levantadas pela obra: a indiferença humana, pois nas ordens recebidas pelo homem, os moradores de rua deveriam ser poupados de serem atingidos pela água, mas tudo o que havia em volta deles (os seus poucos pertences) estariam sujeitos a serem levadas pela correnteza.
Preserva-se a vida, mas tira-se o que a sustenta. E o homem da limpeza é claramente descrito como alguém que reconhece toda essa situação, mas que aprendeu a ser indiferente a todas essas mazelas sociais que acometem o seu local de trabalho.
Menos que um é uma obra que apresenta a luta de diversas pessoas para alcançarem seus sonhos, lutando contra essa indiferença que permeia toda a sociedade e a normalização das desigualdades sociais. Com admirável realismo, Patrícia consegue nos tirar dessa indiferença e sentirmos tocados nessa trajetória literária, que envolve temas como pobreza, drogas e identidade, onde sonhos são enterrados em entulhos urbanos, pois os indivíduos são tratados como menos que um ser humano.