Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

O Cão Tinhoso da Literatura

O cão tinhoso da literatura – ambrosiaÉ importante ler os sete contos que compõem “Nós matamos o Cão Tinhoso!”, do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana, obra que chegou ao Brasil nos anos de 1980 e agora é republicada pela Editora Kapulana com o adicional do conto inédito “Rosita, até morrer”, porque traça o panorama de Moçambique antes da independência dos colonizadores portugueses. O livro cumpre uma das funções da Literatura enquanto estudo histórico/antropológico, pois os contos abarcam, em totalidade ou particularmente, aspectos culturais, política, economia, relações de poder e esperanças de um povo enquanto colônia.

Literatura e independência, “Nós matamos o Cão Tinhoso!” é um livro árido em totalidade. Luís Bernardo Honwana capta cenas infestadas pelo fantasma (por vezes nítido), da escravidão e subserviência colonial. Os personagens frutos da terra são quase sempre desesperançados, humildes e resilientes. Contudo, sobrevivem. Como sobrevivem? Por que sobrevivem? São os questionamentos levantados pelo autor e, enquanto buscamos essas respostas, somos fisgados pela empatia e lirismo das histórias.

No primeiro conto (que dá nome ao livro), crianças conduzem a narrativa. O Cão Tinhoso é o cão que perambula ao redor de todos, está sempre ali e quase ninguém gosta dele, contudo ele ainda assombra, delimita, afasta. Matá-lo não será fácil. Os adultos devem matar o Cão Tinhoso, mas preferem passar a tarefa às crianças, ainda indecisas quanto a puxar o gatilho e matar o animal pútrido. O conto se desenvolve em um misto de medo, ousadia e individualidades. Os meninos querem demonstrar valentia, domínio nas armas, mas têm medo que o padre os excomungue ou que os pais os punam. Uma história essencialmente metafórica com toques de violência infantil e preconceito. Impactante ao leitor desavisado.

Outro conto que desejo destacar é “As mãos dos pretos”. Novamente com um narrador infantil, a criança procura uma resposta exata para o motivo de as mãos dos pretos serem mais claras que o resto do corpo. A dúvida rende respostas que narram racismo e preconceito como se fossem coisas naturais à ordem dos homens. Contudo, em nenhum momento o narrador se agarra ao que escuta. É somente em casa, quando ouve a resposta da mãe, que ele é acalentado com uma sabedoria não-preconceituosa. Outro conto metafórico, é um misto de linguagem simples com imagens filosóficas que perpassam pela Doutrina Cristã e a relação de escravo-senhorio.

O cão tinhoso da literatura – ambrosia
O escritor luís bernardo honwana foi preso após a publicação do livro, em 1964

A relação das pessoas com a terra também é importante ao longo do livro. Luís Bernardo Honwana traça belíssimas paisagens moçambicanas em todos os contos e, a partir disso, o autor explora a relação das pessoas com o campo. O drama existe na análise das pessoas que sobrevivem diariamente à violência do trabalho; homens corajosos que têm consciência do absurdo da colonização e tentam, cada qual a sua maneira, lutar contra a condição de escravos dentro do próprio país. Os contos “Dina” e “Nhinguitimo” têm essas características.

Por fim, “Nós matamos o Cão Tinhoso!” não é só um marco da literatura moçambicana, mas um grito da literatura mundial contra o autoritarismo e opressão impostos pelos colonizadores portugueses. Cabe destacar que a nova edição da Editora Kapulana está maravilhosa, como se fosse um palco para destacar o brilho do texto. Livro mais do que recomendado.

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

Matheus Torreão lança músicas inéditas em session

Próxima publicação

George Lucas está impressionado com Star Wars: Os Últimos Jedi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir
Ambrosia Receba as novidades em primeira mão!
Dismiss
Permitir notificações