A alma do Poeta está na botina onde o lenhador anda mil léguas para derrubar a árvore que bloqueia o caminho. A árvore é tão importante para o lenhador, embora seja politicamente incorreto derrubá-la mesmo que seja para fazê-la de pinguela para atravessar o rio. A poética de Leonardo Marona usa tais instrumentos rurais e pagãos como a botina, o machado, a forquilha por quais o lenhador corta pensando em fazer um estilingue para fazer mira em alguma coisa, nos seus focos de incêndios no meio da mata (achados poéticos). E o rio seria esta instrumentalização tão bem manejada por Leonardo, que é a fluidez e a passagem da sua corrente literária que é só sua. Não havia lido um livro de poemas do Leo, e vejo esta edição da Oficina Raquel; o seu novo livro de poemas, Óleo das horas dormidas – muito bem editada com esmero e capricho desde a capa, similar a folhagens pagãs onde o lenhador se camufla até a sábia divisão dos poemas do livro em sono leve e sono pesado.
A natureza do homem que sai do seu círculo natural para a construção de um uma política humana é muito bem azeitada através de um molde alegórico ao Cinema Alemão de Fassbinder, “Depois de Fassbinder” onde as gestões são agora festivas através de suas conglomerações, seus arte\fatos lúdicos, onde a política histórica-dialética dá margem ao valor do sufoco pessoal ainda eivado de boas temperanças. Em outro poema “Cair de amor”, Leo como um lasca de madeira daquelas que o machado pega de jeito fala à nós também – homens lenhadores que rastreiam pelas estradas em busca de um amor puído e fugidio; Bruto, se foste duro com seus sentimentos és a hora de pensar nestes versos “É preciso cair de amor, é mais que tempo que seja uma terrível queda, uma intolerável queda de amor”.
Marona resgata o solo íntimo da América; da raiz do acolhimento\abnegação, da busca do outro sonho perdido em algum recanto desta vasta fundação que não passa de uma terra perdida; de um território não margeado pelo reconhecimento de si na terra, como andar à margem de si não seria uma forma de não se reencontrar mais na sua terra íntima. Mas não é apenas nas escolha do magma textual que o poeta faz seu braço de lenhador cair encima de algum freixo, há que lembrar o trabalho meticuloso de carpintaria literária-ourivesaria que Leo vai construindo em cada sucessão de poema (é quase um trabalho caminhante com a palavra) depois que poeta-lenhador passou o rio e encontrou um jardim com milhares possibilidades estéticas da palavra, cada qual com um aroma, um perfume, uma fragrância e o leitor entre as ramagens de sons e sentidos vai se desvanecendo em cabeceios sensoriais, aonde existe cada suspense para uma clave, uma trave ali colocada para escorar o alicerce da sua carpintaria que nos faz cúmplices e admiradores de sua escrita.
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