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Samir Murad personifica, para olhos atentos e críticos, o mítico Padre Cícero

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Em cartaz no teatro Maria Clara Machado, na Gávea, o espetáculo “Cícero , a anarquia de um corpo santo”, com a direção precisa de Daniel Dias da Silva, é idealizado e produzido pelo ator Samir Murad, que também assina o texto e atua encarnando com brilho, competência e suor o mítico Padre Cícero, “maior santo” brasileiro não canonizado. O espetáculo é obrigatório. Seja pelo desvendar da incrível história da “padim” Cícero, nascido em Crato, no Ceará, em 1844, e falecido em 1934, aos 90 anos, em Juazeiro do Norte, seja pela oportunidade de ver em cena um herói da resistência como Samir.

Num ato de coragem, em tempos não muito favoráveis, ele brinda seu público com esse personagem, exibindo grande vigor em cena e trabalho braçal, a ponto de apresentar aos presentes um pouco de butoh, dança japonesa surgida no pós 2ª Guerra, na composição e expressão corporal de Cícero.

O texto de Samir, fruto de pesquisas em livros, de diversas visitas à Juazeiro do Norte, e de alguma licença poética, que ficcionaliza um pouco da biografia ora apresentada, defende a ideia de que Cícero, a quem não se chegou a atribuir nenhum milagre efetivo, pendia entre ser um padre político ou um político padre, numa época, tal e qual atualmente, em que religião e política se misturavam para além da conta.

“Mistura muito perigosa”, como pontuou o ator ao final da sessão de domingo, 14/07, num debate do qual participou também a professora e pesquisadora Muna Omran. O debate, aliás, é um prolongamento da peça, na qual Samir deixa perguntas e dúvidas no ar. Como no episódio, narrado no espetáculo, do suposto milagre atribuído mas nunca comprovado a Cícero, que era verdadeiramente um homem de fé.

Cicero foi também um sacerdote simpatizante das ditas ciências ocultas. Talvez, por isso também, a Igreja Católica, tão ciosa de seus sacramentos, tenha punido-o, pois ter um padre à frente de seu tempo, que era capaz, como até hoje é, de arregimentar milhares de devotos e fiéis, e de formar massa pensante, não lhe era um bom negócio. Enfim, o teatro artesanal de Samir Murad é obra para olhos atentos e críticos. O minimalismo do cenário, que traz apenas pedaços de pano espalhados pelo chão, e do figurino, dão o tom do recado de Samir: ao menor estímulo, maior reação. Fica em cartaz até o dia 28 de julho. Não perca!

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