As minisséries do Canal Brasil costumam prezar pela qualidade. Além disso, são ideais para maratonar e dar uma força para o audiovisual brasileiro. Isso já aconteceu com minisséries como a ótima “Chuva Negra”, além das boas “Notícias Populares” e “Chabadabadá”. Mas para toda regra há exceção. O caso desta vez: “Suíte Magnólia”. Tendo estreado em 2024, só agora voou sob meu radar… e eu preferia que isso não tivesse acontecido.
No ano de 2018, Olívia (Chandelly Braz) herdou um palacete construído nos anos 60, onde ela passou sua infância e adolescência. Mas não é a única herdeira: Galdino (Álamo Facó) também tem direitos sobre o imóvel, e junto à sua sócia, Minelava (Lena Brito), quer restaurá-lo e abrir um pequeno hotel. Olívia é voto vencido. No ano de 1984, o pai de Olívia, Jeronimo (George Sauma) perdeu o palacete num jogo de cartas para o pai de Galdino, que depois se casou com a nova governanta do local, Josefina (Luíza Lemmertz). É uma verdadeira ciranda de gente.
Eles abrem o hotel Oásis de Damasco com apenas uma suíte funcionando, a Suíte Magnólia, onde, muitos anos antes, a avó de Olívia morrera no parto, e depois vão abrindo mais quartos. Recebem todo tipo de gente: políticos inescrupulosos que dão festas regadas a sexo e drogas, músicos procurando inspiração e um cantinho para compor, uma idosa escrevendo suas memórias e o tipo de pessoas que minha mãe chamaria de “gente alternativa”.

Nos anos 80, o palacete era também local de “desbunde”, estilo de vida que incluía o uso de drogas e o amor livre. Isso não vinha sem seus percalços: Sulamita (Marina Provenzzano) acaba casada com um homem ciumento e violento, e Rubem (João Pedro Zappa) contrai AIDS, que naquela época era uma sentença de morte.
Encontramos no correr da série ecos daquele ano difícil que foi 2018. Sem citar nomes, as personagens comentam sobre a prisão de Lula, o despontar de candidatos que atacam os direitos das mulheres e, de modo mais direto, sobre as manifestações marcadas pela hashtag #EleNão – e Minelava lê “Chão de Ferro” de Pedro Nava, sobre a gripe espanhola no Rio de Janeiro, servindo como um prenúncio dos tempos pandêmicos que viriam. Nas cenas que se passam em 1984, há comentários sobre as Diretas Já, com um personagem sugerindo que esqueçam o passado, ao que outro responde que, se isso acontecer, “daqui a alguns anos vai ter um bando de maluco pra falar que a ditadura foi maravilhosa”.
“Suíte Magnólia” foi criado, dirigido e co-escrito por Hamilton Vaz Pereira, que em 2024 celebrou cinquenta anos de carreira e declarou que a série é uma homenagem à sua juventude. Ele assina o roteiro junto a Flávia Amaral. Cada episódio é formado por três atos bem divididos e salpicado de frases de impacto. Há muita metalinguagem, em especial nos episódios finais, nos quais se fala muito sobre uma segunda temporada, que aparentemente, e graças a Deus, não virá.

As falas, sobretudo de Minelava, saem forçadas e com impostação de escola de atuação. As tentativas de humor são um fracasso, como quando Galdino fica preso pelado na Suíte Magnólia com um casal em lua-de-mel: pura vergonha alheia. São muitas as “peripécias”, para usar um termo da minissérie, para tentar criar um clima de “quirky”, aquele estranhamento fofinho personificado por Zooey Deschanel. Pena que fique só na tentativa.
NOTA 2 de 10








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