Uma semana após o fim do festival e longe das emoções e adrenalina dos sete dias de música, fazemos um resumo da experiência no festival.
Uma semana do fim do Rock in Rio. Depois de um fechamento totalmente feminino (relembre no fim desse texto), fica a impressão de uma edição marcada por altos e baixos.
Já distantes da adrenalina de uma cobertura cansativa e de muitas horas de música de todo tipo e qualidade, é possível destacar o que funcionou, o que pode ser melhorado e o que não deve ser repetido.
A infraestrutura
Transporte
Um evento do tamanho do Rock in Rio, que recebe milhares de pessoas todos os dias, realizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio – distante da maior parte do resto da cidade e com poucas opções de transporte -, sempre é um desafio logístico.
O primeiro deles é conseguir montar um esquema que permita as pessoas chegar e sair da Cidade do Rock – a imensa estrutura onde ficam todos os palcos, brinquedos e lojas – com alguma agilidade e conforto.
Este ano, por conta dos problemas enfrentados pelo BRT – ônibus articulados e que trafegam por faixas exclusivas – no Rio, a organização e a prefeitura decidiram que o serviço seria interrompido na área do festival e no seu lugar foi criado o Rock Express.
O Rock Express – uma linha de ônibus especial para o evento – deveria ser a principal escolha do público, para evitar os engarrafamentos e facilitar o escoamento das pessoas.
Não funcionou muito bem. No primeiro dia do evento, o trânsito deu um nó e mesmo os ônibus tiveram problemas para chegar perto do local do evento. Cada viagem durava horas.
Na volta, a falta de integração entre o Rock Express e as linhas regulares de BRT fez com que muita gente esperasse mais de 4h para chegar em casa.
Nos outros dias, o esquema de transporte teve altos e baixos.
A conclusão é a de que até pode melhorar, mas o Rock Express deve mesmo ser substituído por um transporte público de qualidade, mesmo que com algumas modificações pontuais por conta do evento.
Outra conclusão é a de que táxis e carros de aplicativo não são uma boa opção em nenhum cenário.
A Cidade do Rock
Um espaço enorme com vários palcos, lojas, espaços, brinquedos e muita gente todos os dias.
Parece que depois de um hiato de três anos a organização do Rock in Rio ficou um pouco “enferrujada”.
Houve problemas com o som (principalmente nos dois palcos principais) e o público sofreu com a má sinalização (principalmente durante a noite), os preços abusivos cobrados pelas lojas e restaurantes, e com o sinal de internet totalmente instável (em todas as operadoras).
Os palcos
Como citado anteriormente, o som dos palcos Sunset e Mundo foi muito criticado (com razão). Na maioria das apresentações (destaque para o Sunset) o som foi baixo e embolado.
A apresentação de Avril Lavigne, uma das mais esperadas e com maior público, foi tão prejudicada que muitos fãs saíram antes do fim da apresentação, que teve o som da última canção cortado por conta do início do show no Palco Mundo.
Definitivamente, é preciso verificar o que aconteceu nesta edição.
A programação
Palco Mundo
Apesar do nome, o Rock in Rio já não é mais sobre rock faz tempo. A programação desta edição foi, provavelmente, a mais plural de todas até hoje.
Porém, algumas coisas precisam ser repensadas. A “noite do metal” (que abriu o evento), por exemplo, teve um público apenas razoável e talvez esteja na hora de rever algumas escalações.
Nomes como Iron Maiden (que fez um ótimo show), Guns N’ Roses e Ivete Sangalo, podem (e devem) não serem escalados tão cedo.
Uma atitude também inteligente seria reavaliar “atrações de peso” que já não entregam bons shows – Billy Idol e Guns N’ Roses, para citar os dois casos mais gritantes – e reorganizar as atrações pop e com maior apelo aos jovens.
Outra atitude inteligente seria organizar uma noite retrô com nomes que possam interessar o público mais maduro.
Também é preciso entender que alguns shows, independente da qualidade dos artistas, não funcionam no palco principal. Djavan e Alok se encaixam na descrição.
Palco Sunset
O grande destaque do festival (para o bem e para o mal), Palco Sunset teve algumas atrações que mereciam estar no Mundo e outras que ainda pareciam “cruas” ou deslocadas.
Para falar dos pontos altos, tivemos a já citada Avril Lavigne, Maria Rita, Macy Gray e Ludmilla. O Sunset também se mostrou um bom espaço para shows homenagem.
Apesar dos elogios, também tivemos algumas escalações bastante equivocadas.
Os outros palcos
New Dance Order, Espaço Favela e Rock District, para falar só dos com maior apelo popular, foram bem, com shows que agradaram na grande maioria das vezes, apesar de serem sempre prejudicados pelo menor público por conta do horário (sempre mais cedo que nos palcos principais).
Conclusão
Foi ótimo ter um Rock in Rio depois desses anos de pandemia. Também é ótimo saber que a edição de 2024 tem tudo para ser muito melhor em questões de infraestrutura (principalmente transporte) e na questão do som das apresentações.
Outro ponto que deve ser melhorado é a escalação dos palcos, principalmente em relação aos veteranos no festival e aos veteranos por tempo de carreira.
No fim das contas, o saldo foi positivo, merecendo uma nota 7,5.
Lembrança: o último dia do festival
O último dia do Rock in Rio (domingo, 11 de setembro) teve uma escalação feminina.
O Palco Sunset recebeu Liniker, Majur, Agnes Nunes, Caio Prado, Mart’nália, Gaby Amarantos e Larissa Luz, fazendo homenagem a Elza Soares, Macy Gray e Ludmilla. Tudo foi mais que bom.
Se o tributo para Elza Soares (chamado “Power! Elza Vive”) foi bom, o show de Macy Gray foi espetacular (digno de Palco Mundo) e Ludmilla mostrou que é uma potência entre os jovens. Ela também abriu caminho para o Palco Mundo.
Aliás, Ludmilla ainda teve as participações de Tasha & Tracie, Majur e Tati Quebra Barraco. Sucesso total de público.
Macy Gray levou sua voz rouca e soul para uma plateia que ouviu sucessos da carreira e algumas ótimas covers – “Take Me With You” (Prince) e “Da Ya Think I’m Sexy?” (Rod Stewart).
Palco Mundo consagra Dua Lipa
Ivete Sangalo, Rita Ora, Megan Thee Stallion, e Dua Lipa. Com essa escalação, o Rock in Rio se despediu da edição 2022 no Palco Mundo.
Ivete, a veteraníssima do festival (foram 17 apresentações) manteve a tradição de levantar o público que parece (e deve) sempre se renovar.
Ficou claro que a baiana sabe contagiar uma plateia e que seu show é muito bem pensado, mas 17 vezes? Sinceramente, tá na hora de variar um pouco a escalação, produção.
Rita Ora, a segunda atração da noite, atacou com um setlist onde canções como “I will never let you Down” e “How to be lonely” se destacaram.
A inglesa ainda teve a participação de Pabllo Vittar na canção “Amor de Que”. Uma surpresa que agradou o público.
Megan Thee Stallion fracassa
No show mais fraco de uma noite boa, Megan Thee Stallion chegou vestida de rainha de bateria e não emplacou. Músicas cono “Simon says” e “Freaknasty” podem ser conhecidas, mas a apresentação não decolou.
O que deu errado? Muitas coisas, mas os principais erros foram subir ao palco sem banda (só com um DJ) e demorar uma eternidade tirando selfies e dançando com fãs no palco (por eternidade entenda-se quase 15 minutos).
Ainda bem que a maioria do público estava ali por causa da próxima atração.
Dua Lipa divide com o Coldplay o título de melhor show do festival
A londrina Dua Lipa não deixou dúvidas das razões de ser uma das maiores estrelas da música na atualidade.
Com um pop perfeito, uma produção caprichada, muita dança e boa voz, a artista (uma mistura de Cher, Madonna e Lady Gaga) arrebentou.
Teve até um dueto virtual com Elton John no recente sucesso “Cold Heart”, um enxerto de canções do veterano hitmaker.
Mas foi mesmo o álbum “Future Nostalgia”, lançado em 2020, que dominou o setlist (foram 13 canções do disco), fazendo todo mundo dançar.
Teve troca de figurinos e coro, mas o que hipnotiza mesmo é a figura (nem tão bela) da cantora.
Um fim de festival pra lá de bom. Juntamente com o Coldplay, Dua Lipa fica com o troféu de melhor show do festival.
Até 2024!
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