O título Somos Quem Somos já presume em si uma pergunta e uma resposta, o que para o universo do cineasta Luca Guadagnino, sempre interessado em observar relações de dentro para fora, ou seja, pelo que refletem mutuamente, não necessariamente pela narrativa que os constrói, é um prato cheio para que sua série da HBO alcance a mesma complexidade emocional de seus filmes.
Passado nos meses em torno da eleição de Donald Trump, em 2016, acompanhamos dois adolescentes, Fraser e Caitlin, interpretados pelos ótimos Jack Dylan Grazer e Jordan Kristine, que estão no ápice do descobrimento de suas identidades. Ambos moram com suas famílias numa base americana na Itália.
Fraser acaba de chegar no lugar, vindo de New York, já que sua mãe (Chloe Sevigny, madura) será a nova comandante do lugar. Vindo de um lugar e seio familiar progressistas (a mãe é lésbica e com casamento sólido), ele logo se conecta com Caitlin e seus amigos, jovens que vivem o prazer hedonista de serem a quebra de paradigma daquele ambiente militar teoricamente controlado.
Em seus oito episódios, Luca se estabelece como um voyeur daquelas relações que se entrecruzam e estimulando o tempo inteiro um paralelo entre eles e o momento político do país pelas circunstâncias que estão.
O diretor, nascido no início da década de 70, parece encantado em observar a geração 2020 em sua constante fluidez. Esse encantamento abraça seus personagens. Não espere muita objetividade narrativa dessa série. É um exercício voyeurístico sem julgamento e intromissão. Talvez não seja para todo mundo mesmo. Mas o que We Are Who We Are propõe está além de mais uma história de “romance de formação” ou “perda da inocência”.
Assim como seu último filme Me Chame Pelo Seu Nome, a proposta será sempre chegar no limite do demasiadamente humano do que um diretor do calibre de Guadagnino pode criar.
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