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A genialidade minimalista de “Luca”

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Que a Pixar ganhou notoriedade por suas animações geniais que encantam e entretêm os pequenos e trazem lições de vida aos adultos, não é novidade. O estúdio se alterna entre criações de cunho existencial como o recente “Soul” e projetos, em tese, menos ambiciosos como “Luca”, que acaba de chegar diretamente ao Disney+ sem custo adicional – e talvez seja a última produção de grande orçamento a ter esse tipo de lançamento, já que a nuvem negra da pandemia parece estar começando a se dissipar.

Desde “Toy Story” (1995) quando vemos o logo da luminária, não esperamos nada menos do que algo arrebatadoramente brilhante, que chacoalhe nossas mentes e corações. O padrão Pixar de qualidade é garantido porque os roteiristas trabalham com afinco antes de qualquer imagem ser gerada nos computadores da empresa. E isso vale para todas as animações.

Não é porque “Luca” é aparentemente mais despretensioso que foi concebido com menos esmero. A história dos meninos monstros marinhos que aproveitam a forma humana para curtir na Riviera italiana tem camadas. A mais fácil de se identificar é a da libertação de amarras impostas. Inclusive isso rendeu especulações se a animação não seria uma metáfora gay sobre a saída do armário. Essa e todas as formas de luta por libertação encontram aqui sua alegoria.

Ali é possível enxergar Pinóquio, Fellini e o grande cinema italiano, o melhor dos Estúdios Ghibli, a cultura pop italiana dos anos 1960, tudo adornado com uma animação que cria uma simbiose do cartum com textura que lembra a de massinha e um realismo nos cenários, com suas luzes e texturas. Isso ligado ao carisma dos personagens (outra marca indelével da empresa) garantem o encanto.

O diretor Enrico Casarosa, que nasceu e cresceu na região de Gênova, encheu a narrativa de memórias de sua infância, como é de praxe nas produções da Pixar. Por mais profundos que sejam os longas, o mote sempre se origina do imaginário infantil ligado a memórias pessoais do cineasta e seus roteiristas. As aventuras de Luca e Alberto tem muito de autobiográficas, inclusive o cumprimento “Piacere, Girolamo Trombetta”, que Casarosa revelou ser uma brincadeira das crianças naquela área.

O pecado de “Luca” talvez seja não se revestir de uma genialidade escancarada, explícita como “Divertida Mente” e “Soul”. Seu brilho é sutil, mas é detectado facilmente pelos espectadores de maior sensibilidade. Vivemos em tempos em que o mínimo que se espera das obras é que proporcionem experiências avassaladoras. Com isso, o minimalismo é desvalorizado, ganhando a classificação de “obra menor”. Esse “Pixar menor” vem imbuído do mesmo espírito irreverente e abordando questões existenciais de suas contrapartes mais aclamadas. Apenas precisa ser degustado com a devida atenção para ir além da superfície.

Nota: Excelente – 4 de 5 estrelas

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