O longa-metragem O Caso Collini (Der Fall Collini, dirigido por Marco Kreuzpaintner) requer atenção total do espectador pois diferentemente do que acontece nos chamados “filmes de julgamento” a que estamos acostumados a assistir dentro da indústria hollywoodiana, este filme alemão não entrega os segredos da trama de maneira rápida e nem se utiliza de diálogos expositivos para explicar seus mistérios. Cabe ao espectador desvendar a história junto com o protagonista, aos poucos, preenchendo as lacunas por conta própria.
O filme conta a história do advogado recém-formado Caspar Leinen (Elyas M´Barek), que está iniciando sua carreira na defensoria pública e recebe seu primeiro caso: um assassinato. É somente depois da primeira audiência preliminar, realizada às pressas, que Caspar descobre que a vítima do caso é o grande empresário alemão Hans Meyer (Manfred Zapatka), o mesmo homem que o acolheu quando criança, pagou seus estudos e o incentivou a se tornar advogado.
Inicialmente o jovem reluta em aceitar defender o assassino de seu mentor, principalmente porque também mantém um envolvimento amoroso com a neta e herdeira do empresário. Porém ele acaba aceitando seguir no caso, colocando sua carreira acima dos interesses pessoais. O acusado pelo crime é Frabrizio Collini (Franco Nero), um pacato cidadão italiano que tem todas as evidências contra si e em nenhum momento as contradiz ou alega inocência; pelo contrário, ele permanece em silêncio durante a investigação e o julgamento. Sua postura causa estranheza e interesse no advogado, que decide investigar as motivações de Collini por conta própria.
O diretor Marco Kreuzpaintner optou por construir uma história na qual vamos junto com o protagonista descobrindo uma rede de intrigas que envolve seu antigo mentor e sua família. O que torna essa trama tão interessante são os pequenos detalhes da história, apresentados de maneira sutil e delicada pelo roteiro: o envolvimento de Caspar com a família de Meyer, uma criança de origem turca deixada com uma família rica alemã que cuidou de sua educação formal e de seu encaminhamento profissional; como a neta de Meyer usa a ajuda que sua família deu à Caspar contra o advogado quando percebe que ele irá até o fim para defender seu cliente; e até mesmo o preconceito em relação à origem turca do protagonista, que apesar de não ser mencionado claramente, transparece na sutileza na qual o filme é construído.
Os poucos flashbacks utilizados durante o filme são pontuais, usados para explicar ao público como era a relação de Caspar com o resto da família Meyer e qual era a relação de Collini com sua vítima. O diretor optou por utilizar poucas falas nessas cenas, sem cansar o espectador com diálogos expositivos, e apostando na força das imagens para que o público entenda as questões levantadas.
O cineasta não tem pressa em apresentar a virada da trama, ao contrário, ele constrói muito bem o suspense, deixando o espectador ansioso pelo que está por vir. O único fator que pode atrapalhar essa sensação é a campanha publicitária do filme, já que o cartaz divulgado nas plataformas cinematográficas entrega de bandeja a virada da história, o que pode estragar a experiência para os mais atentos.
Como curiosidade do longa, temos a participação do veterano ator italiano Franco Nero, conhecido principalmente por ter interpretado o Django original, no filme dirigido por Sergio Corbucci em 1966.
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