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"Alemão" mantém a tradição de bons filmes policiais brasileiros

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Símbolo maior do programa de pacificação implementado pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro a partir de 2010, logo após a confirmação pelo Comitê Olímpico Internacional de que as Olimpíadas de 2016 acontecerão na Cidade Maravilhosa, o Complexo de Favelas do Alemão foi alvo de uma grande operação, que envolveu as polícias Civil e Militar, além das Forças Armadas, com o objetivo de acabar com o domínio dos bandidos da região, que mandavam e desmandavam impunemente. A imprensa cobriu essa operação como se fosse um grande evento midiático, onde todos puderam assistir pela TV, no conforto de seus lares, todos os detalhes do que estava acontecendo, minuto a minuto, a implementação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que prometia mais segurança e uma vida melhor aos moradores daquela comunidade. A partir deste acontecimento, o produtor Rodrigo Teixeira resolveu criar um argumento sobre algo que teria acontecido antes da pacificação. O resultado é “Alemão”, um filme policial que surpreende pelas boas cenas de ação e suspense, além de parecer ter custado mais caro do que realmente foi.

Na trama, escrita por Gabriel Martins, os policiais Samuel (Caio Blat), Danilo (Gabriel Braga Nunes), Doca (Otávio Muller), Branco (Milhem Cortaz) e Carlinhos (Marcelo Mello Jr) trabalham infiltrados no Complexo do Alemão para elaborar o plano de invasão das forças de segurança, que resultará na instalação da UPP. Mas, às vésperas da ocupação, suas identidades são descobertas pelos bandidos, que são liderados pelo traficante Playboy (Cauã Reymond). O grupo se reúne na pizzaria de Doca, instalada na comunidade como parte do disfarce e tentam descobrir quem os entregou, ao mesmo tempo em que elaboram um plano de fuga. O problema é que não é possível entrar em contato com as autoridades porque a transmissão dos celulares foi bloqueada. Do lado de fora da favela, o chefe da operação, o delegado Valadares (Antonio Fagundes), pai de um dos policiais, fica de mãos e pés atados. Para piorar a situação, um incidente acaba incluindo Mariana (Mariana Nunes), moradora do Alemão e ex-amante de Playboy ao grupo na pizzaria, o que vai aumentar a tensão entre os oficiais, que sabem que os criminosos podem chegar a qualquer momento dispostos a matar todo mundo.

O diretor José Eduardo Belmonte, de filmes como “Se Nada Mais Der Certo” e “Billi Pig” mostra uma surpreendente mão firme para conduzir cenas de ação e suspense, com um orçamento de apenas R$ 5 milhões, baixo até mesmo para filmes brasileiros com maiores ambições, como é “Alemão”. A tensão maior é sentida especialmente nas cenas passadas no interior da pizzaria de Doca, que lembram um pouco o que aconteceu em “Cães de Aluguel”, o primeiro filme de Quentin Tarantino. Isso fica bem notório especialmente nas sequências em que os policiais se acusam de traição, sem saber se podem confiar um no outro, durante o seu confinamento, e também durante os tiroteios que acontecem na parte final da história. Outro bom momento da direção de Belmonte está na cena em que Playboy é saudado pelos moradores da comunidade, que foi totalmente improvisada, já que as pessoas foram ver o ator Cauã Reymond, que estava totalmente entregue ao seu personagem.

O roteiro de Gabriel Martins procurou criar características distintas para seus cinco protagonistas: enquanto Samuel aparece como alguém idealista, Danilo surge como alguém que não é muito confiável por uma falha no passado, enquanto Branco é o esquentado do grupo. Já Carlinhos é o emotivo, por ser capaz de se sacrificar para salvar a namorada que conheceu no Complexo (vivida por Aisha Jambo) e Doca é o típico policial acomodado, que se entregou à burocracia do seu trabalho. O texto também cria boas situações para manter o espectador apreensivo em saber se os policiais conseguirão sobreviver aquele pesadelo que eles não queriam que acontecesse, mas que precisam fazer algo para que acabe, ao mesmo tempo em que mostra o desespero do delegado vivido por Fagundes de não poder fazer nada para salvar seus homens, especialmente o seu filho.

Mas “Alemão” possui alguns problemas na sua realização. O principal deles está na péssima edição de som, que faz com que a boa trilha sonora de Guilherme Garbato e Gustavo Garbato fique mais alta do que o necessário, encobrindo os diálogos dos atores, tornando-os incompreensíveis. Além disso, os efeitos especiais utilizados nas cenas de perseguições e tiroteios nem sempre conseguem um resultado satisfatório, dando a impressão de que o que está na tela fica um pouco inverossímil. A maneira como Playboy é mostrado no filme não foge de alguns clichês de  outros vilões em algumas produções nacionais, o que compromete um pouco a atuação de Cauã Reymond. Mas é louvável a atitude do ator de procurar novos horizontes que vão além dos mocinhos que interpretou em novelas da Rede Globo.

Quanto ao resto do elenco principal, há alguns acertos e erros. Entre os policiais infiltrados, Caio Blat e Milhem Cortaz não fazem muito diferente do que já interpretaram em outros trabalhos. Gabriel Braga Nunes custa a acertar o tom, mas até que termina com o saldo positivo. Mas Marcelo Mello Jr e Otávio Muller são os melhores do grupo. O primeiro por tornar crível a sua preocupação com sua amada, que é irmã de um dos bandidos, e o segundo, geralmente relacionado a obras de humor, consegue dar uma boa carga dramática às situações que tem que enfrentar. Antonio Fagundes mostra que não é um dos melhores atores vivos do Brasil à toa com sua construção precisa do delegado Valadares, bem diferente do que anda fazendo na TV. Chamam a atenção também as performances de MC Smith e Jefferson Brasil, como dois integrantes do grupo de Playboy, assim como Mariana Nunes, que mostra seu desespero no tom certo, ao se meter numa confusão que pode custar a sua vida, mas não deixa de criticar a ação policial na favela.

Com um final surpreendente e até ousado, “Alemão” acaba sendo bem sucedido em suas intenções de criar um bom filme de ação e suspense “Made in Brasil”. Mas que ninguém espere um novo “Cidade de Deus” ou “Tropa de Elite”, pois ele está um nível abaixo destas duas obras. Mas mesmo assim, vale a pena conferir essa produção, que também tem o mérito de não parecer uma espécie de “propaganda chapa branca” do governo do Rio de Janeiro. Isso fica bem claro durante seu término, que faz o espectador refletir se certas decisões de nossos governantes realmente são as melhores para a nossa população.

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