Todd Field é um cineasta sazonal, mas existe um ponto nevrálgico em todos os seus três filmes que reside no seu olhar cru e crível sobre indivíduos que não conseguem fugir de suas próprias naturezas, mesmo quando isso significa (e quase sempre é assim) uma autodestruição.
Tár, seu novo filme, versa sobre isso absorvendo o talento absoluto e pulsante de uma Cate Blanchett em estado de graça. Lydia Tár é uma maestrina incensada que está no ápice da carreira, conduzindo a orquestra de Berlim (primeira mulher a alcançar a alcunha), ostentando a chancela de ser uma EGOT (os poucos que ganharam um Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony) e lançando sua biografia. Do alto do seu bom momento, ela parece não enxergar mais nada além do que reverbere isso.

O filme não é exatamente sobre a queda, mas sobre como ela se resigna nesse processo. Todd é também um experiente dramaturgo, e seus filmes parecem ser construídos artesanalmente em narrativas dramaturgicas, mais do que simplesmente um roteiro em si.
Isso também significa certo excesso de dimensionamento daquilo que representa. O único defeito do filme é esse. Mas a densidade com que essa protagonista é construída e desenvolvida eleva o filme a um patamar muito acima da média do que vem sendo feito, sobretudo na industria da qual faz parte.

Todd sabe disso e conduz sua Tár num espiral de drama e horror e crescente tensão dramática, que não vem de nada além dos desígnios internos de sua protagonista. Talvez essa meticulosidade responda porque Field demora tanto para fazer seus filmes. Sua precisão é estudada incansavelmente. E sua observação do mundo reflete o quanto os abismos ainda extraem muito do que entendemos como indivíduos.
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