A morte do Papa Francisco na última segunda-feira (21) marca o fim de um pontificado que entrou para a história por seu foco em empatia, justiça social e renovação da Igreja. Com uma trajetória marcada por gestos simbólicos poderosos — como a escolha do nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, ou a visita às periferias do mundo — Jorge Mario Bergoglio foi um papa das margens, tanto geográficas quanto espirituais.
Se o cinema muitas vezes antecipa ou espelha os grandes momentos da história, não é surpresa que alguns filmes lançados nos últimos anos ajudem a entender, refletir ou contextualizar aspectos fundamentais da figura papal e do próprio Papa Francisco. Aqui estão cinco deles que, por diferentes caminhos, ressoam com seu legado:
1. O Banheiro do Papa (2007) – A visita que inspirou sonhos

Embora lançado antes de Jorge Mario Bergoglio se tornar Papa, é irresistível estabelecer uma conexão direta entre “O Banheiro do Papa”, dirigido por César Charlone e Enrique Fernández, e a visita papal de 2013 ao Brasil — a grande viagem ao exterior de Francisco após sua eleição. O filme retrata a expectativa de uma pequena cidade uruguaia diante da visita de João Paulo II, mostrando como a presença do pontífice desperta esperanças econômicas e espirituais entre os mais pobres.
A história de Beto, que decide construir um banheiro para os peregrinos com a esperança de ganhar dinheiro, é simples e comovente, e ressoa com a visão de Francisco sobre a dignidade humana e a necessidade de olhar para os que vivem à margem da sociedade.
2. Habemus Papam (2011) – O peso de ser escolhido

Dois anos antes da renúncia histórica de Bento XVI e da eleição de Francisco, o cineasta italiano Nanni Moretti lançou “Habemus Papam”, uma obra de ficção sobre um cardeal que, ao ser eleito Papa, entra em crise e foge de suas obrigações. O filme discute, com humanidade e humor melancólico, o peso simbólico e emocional do cargo mais alto da Igreja.
A coincidência entre o lançamento do filme e os eventos que viriam pouco depois — incluindo a eleição de um papa mais humilde e “humano”, como Francisco — o torna quase profético. É um retrato sensível da solidão e da responsabilidade que acompanham a figura papal.
3. Dois Papas (2019) – O encontro entre o passado e o futuro

Baseado em fatos reais, “Dois Papas”, do brasileiro Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”), dramatiza o suposto encontro entre o Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o então cardeal Bergoglio (Jonathan Pryce), pouco antes da renúncia de um e a ascensão do outro. O filme sugere uma troca de ideias entre dois mundos: a tradição conservadora e a renovação pastoral.
Apesar das licenças poéticas, o longa revela com sensibilidade as diferenças — e os pontos de convergência — entre os dois homens, oferecendo um olhar intimista sobre Francisco antes do papado e destacando seu foco no perdão, no diálogo e na escuta.
4. O Sequestro do Papa (2023) – A figura papal em tempos turbulentos

Embora ambientado no século XIX, “O Sequestro do Papa”, de Marco Bellocchio, aborda a relação entre a Igreja e o poder estatal de maneira que ressoa com os desafios contemporâneos enfrentados por Francisco. O filme narra o caso real do menino judeu Edgardo Mortara, levado à força de sua família após ser secretamente batizado, e o embate que se seguiu entre o papado e as forças do secularismo italiano.
Se Francisco foi um papa do diálogo inter-religioso e defensor da liberdade de consciência, o contraste com a postura papal do século XIX, como retratada no filme, é inevitável. A obra serve como alerta e reflexão sobre os perigos da rigidez institucional. (Confira a crítica aqui)
5. Conclave (2024) – O futuro começa agora

“Conclave” — adaptação do romance de Robert Harris — mostra um futuro próximo (e agora presente) em que os cardeais se reúnem para escolher o novo líder da Igreja Católica. Com suspense e intrigas, o longa dirigido por Edward Berger mergulha nos bastidores da Capela Sistina, revelando alianças, tensões e segredos que moldam o próximo pontificado.
O filme foi indicado a oito estatuetas do Oscar deste ano, incluindo Melhor Filme, mas a única vitória foi na categoria Melhor Roteiro Adaptado.
A morte de Francisco torna o filme ainda mais relevante. O que virá a seguir? Que tipo de Papa o colégio de cardeais escolherá para dar continuidade — ou romper — com o legado de simplicidade, escuta e justiça defendido por Bergoglio? (Confira a nossa crítica aqui)