Batman no cinema, uma retrospectiva

Batman no cinema, uma retrospectiva – Ambrosia

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, um dos filmes mais esperados de 2012, fecha a trilogia do cruzado de Gotham iniciada há sete anos com Batman Begins, pelas mãos do diretor Christopher Nolan. Mas não é de hoje que o homem morcego marca presença nas telonas. Junto com Super-Homem, provavelmente é um dos super heróis que está há mais tempo sendo veiculado nos cinemas.

A primeira versão cinematográfica de Batman foi em 1943. Estrelada por Lewis Wilson, tratava-se de um seriado, como os de TV, tão populares até hoje, mas como na época a televisão ainda estava chegando ao mercado estadunidense, as séries eram acompanhadas nos cinemas. Havia Super-Homem, Flash Gordon, Mandrake, Tarzan, Buck Rogers, todas acompanhadas semanalmente pelo público, e Batman fez parte dessa leva. Como os recursos eram parcos, a qualidade deixava a desejar. Os uniformes de Batman e Robin eram vergonhosos, fariam feio diante de qualquer cosplay hoje em dia. Isso sem falar nos diálogos e nas cenas de ação, responsáveis pelo humor involuntário da produção. A série contava com 15 episódios

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Em 1949 houve uma nova série, também com 15 episódios, desta vez estrelada por Robert Lowery. A qualidade técnica era menos sofrível, mas ainda longe do ideal. O uniforme ainda era sofrível, o Robin (John Duncan) estava muito longe da adolescência, já tinha seus trinta, o vilão (o Mago) era caricato e o mesmo humor involuntário da série anterior estava presente. O primeiro longa metragem do herói sairia somente 17 anos depois.

Produzido em 1966, Batman – The Movie era na verdade o piloto da série camp estrelada por Adam West e Burt Ward que marcou uma geração. Era bem menos mambembe do que o seriado, tinha cara de cinema realmente e, levando-se em conta que na época filmes de super herói não eram um filão extremamente rentável como hoje, a produção era até bem acabada. Mas tinha seus momentos “impagáveis”, como a antológica cena do tubarão (assistam abaixo, é riso garantido).

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Em 1978, com o sucesso de Superman – O Filme, adaptações dos quadrinhos para as telas passaram a ser encaradas com mais seriedade. Em Superman, o público assistiu a uma super produção, com efeitos especiais incríveis, e, pela primeira vez, o Super-Homem voando “de verdade”. Ficou provado que era viável produzir um bom filme de super-herói e ter um bom retorno nas bilheterias. Com isso, os fãs do homem morcego começaram a sonhar com um filme decente. Mas teriam que esperar dez anos.

Após alguns anos de especulação, em 1988 chegou a notícia de que a Warner Bros, detentora dos direitos sobre os heróis da DC no cinema e na TV, realizaria um superprodução do homem morcegos nos moldes do filme Superman. Os fãs ficaram em polvorosa…até o anúncio de quem faria o papel do milionário Bruce Wayne: Michael Keaton, considerado feio, baixo e calvo para o papel. Batman foi precedido da maior campanha publicitária já feita para um filme até então, campanha essa tão massiva, que, apesar de muitos terem saído dos cinemas decepcionados, o filme foi um estrondoso sucesso de bilheteria, o maior daquele verão. Com uma arrecadação de 252 milhões de dólares em solo americano e 412 milhões no resto do mundo, foi a quarta maior arrecadação da história até então. Estava inaugurada a era do marketing em Hollywood, que dominaria toda a década de noventa. Não importa a qualidade do filme, se ele for bem vendido, o retorno será muito favorável, era essa a política. 

Batman no cinema, uma retrospectiva – Ambrosia

Lançado em 23 de junho de 1989, a superprodução dirigida por Tim Burton, que realizara Os Fantasmas Se Divertem, era cheia de superlativos e recheada de nomes estelares como Jack Nicholson, Jack Palance, Kim Bassinger, a então senhora Mick Jagger, Jerry Hall e o eterno Lando Calrissian, Billy Dee Williams, na pele de Harvey Dent. A ordem era apagar de vez a imagem caricata a que o herói ficara vinculado por causa do seriado dos anos sessenta. O clima seria sombrio, como nas graphic novels cult O Cavaleiro das Trevas e Ano Um,  ambas de Frank Miller.

O uniforme de malha seria substituído por uma armadura, que surtiria um efeito mais cool e distante do visual um tanto patético dos anteriores. Os motivos que decepcionaram os fãs das HQs, além da escolha do ator principal, foram as cenas de ação pouco empolgantes, um roteiro frouxos e com muitos furos. Por outro lado, foi indiscutível a atuação brilhante de Jack Nicholson como o Coringa, a primorosa direção de arte de Terry Ackland-Snow e Nigel Phelps, claramente inspirada em O Cavaleiro das Trevas, além da trilha sonora marcante de Danny Elfman.

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Com tamanho sucesso, a Warner não deixaria escapar a oportunidade de uma continuação. Tim Burton, a princípio reticente, aceitou dirigir um segundo filme desde que tivesse carta branca para uma obra mais autoral, ao invés de trabalhar como mero diretor contratado como no anterior. Lançado no verão de 1992, Batman – O Retorno trazia mais uma vez nomes de peso como Christopher Walken, Michelle Pfeiffer, no papel da ambígua e sensual Mulher-Gato, e Danny DeVitto como O Pinguim.

O filme tinha um conceito visual ainda mais sombrio do que o anterior e com clara influência do expressionismo alemão (o visual do Pingüim lembra o Dr Caligari e o nome de personagem de Walken, Max Schreck, é uma homenagem ao interprete de Nosferatu). Mais uma vez os vilões brilharam, mas, se no primeiro filme o herói já era quase um coadjuvante, neste ele é praticamente uma escada para DeVitto e Michelle. Por repetir os mesmos erros do anterior, Batman – O Retorno não empolgou os fãs, e sua bilheteria ficou em 162 milhões de dólares na América do Norte, pois embora tenha sido a maior arrecadação daquele verão, ficou abaixo das previsões do estúdio que eram de algo em torno de 200 milhões no mercado doméstico; e, levando-se em conta que o ano de 1992 foi de baixíssimas arrecadações, a primeira posição no pódio não foi das mais animadoras.

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Três anos depois, chegaria Batman Eternamente.

Inicialmente, o filme contaria com Tim Burton na direção, com Keaton no papel principal e Robin Williams como Charada, mas houve mudança de planos. A proposta da Warner com este terceiro filme era dar à franquia uma roupagem menos sombria e com mais apelo popular. Para isso convocou o diretor Joel Schumacher, de Os Garotos Perdidos. Michael Keaton foi demitido e em seu lugar foi convocado Val Kilmer (que tinha mais physique du rôle de herói) e o menino prodígio Robin apareceria pela primeira vez na pele de Chris O’ Donell. Jim Carrey, o grande astro da comédia do momento, foi contratado para o papel do vilão Charada e Tommy Lee Jones ficou com o do Duas Caras. Como interesse romântico do herói entrou – a então senhora Tom Cruise – Nicole Kidman, como a Dra Chase Meridian, na verdade uma Vicky Vale genérica.

Tim Burton assumiu apenas a produção deste, que na verdade era mais um reboot do que uma continuação, já que não possui nenhuma ligação com os dois anteriores. Os números nas bilheterias foram positivos, acima dos do filme anterior, mas os fãs ainda ficaram com um gosto amargo na boca com uma trama infantilizada, um visual estroboscópico (quase não há cena em que não haja nada piscando, seja uma luz, um neon, um refletor) e uma trilha sonora medíocre. Mas, como o dinheiro manda, a bilheteria de 184 milhões de dólares e 330 milhões mundo afora deram sinal verde para o quarto episódio. Schumacher estava prestes a cometer o maior equívoco de sua carreira.

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Batman e Robin chegou aos cinemas americanos no verão de 1997 e era péssimo. Considerados por muitos como o pior filme de super-herói já feito, era uma lição de como não se fazer uma adaptação dos quadrinhos para a telona. Saiu Val Kilmer e entrou o galã de E.R. George Clooney, que fez muitos sentirem saudades de Michael Keaton.

Arnold Schwarzenegger, canastríssimo, interpretou o Homem de Gelo e uma esforçada Uma Thurman tentava salvar aquela bagaça como Hera Venenosa. Ainda entrava na trama a Batgirl, interpretada por Alicia Silverstone, menina dos olhos da MTV, que, pasmem, não era filha do comissário Gordon, e sim sobrinha do Alfred. E como desgraça pouca é bobagem, ainda tínhamos o vilão Bane, completamente acéfalo como uma espécie de cão de guarda da Hera Venenosa. Isso sem falar na concepção visual que misturava Power Rangers com desfile de escolas de samba. Aquele foi o golpe de misericórdia da franquia, tanto que levou Schummacher a pedir desculpas publicamente. Mas o cavaleiro de Gotham ainda seria vingado.

Foram anos de especulação sobre um recomeço da série enquanto nomes como Darren Aronofsky eram cogitados. Até que em 2005, o britânico Christopher Nolan (de Amnésia e Insônia) assumiu o reboot da franquia, desta vez com uma proposta mais realista, que se mostraria a mais acertada. Ao invés de focar a trama nos vilões, mudou o fio condutor da trama para o herói, cuja complexidade rende um rico material se bem explorada.

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Para quebrar a tradição de ter as atenções muito voltadas para o vilão, a escolha foi de um antagonista secundário, o Espantalho, porém muito bem interpretado por Cillian Murphy. Entra em cena também Liam Neeson, Ken Watanabe, Rutger Hauer e Morgan Freeman. O papel principal ficou a cargo do galês Christian Bale. Desta vez, os fãs não reclamaram. Michael Caine ficou com o papel de Alfred, que até fora bem desempenhado pelo antecessor Michael Gough, e Gary Oldman com o do comissário (então tenente) Gordon. Inspirado nas graphic novels Ano Um e O Longo Dia Das Bruxas, Batman Begins foi a primeira transposição do homem morcego para as telas que agradou a praticamente todos os fãs e ao público em geral.

Depois de muito mistério, foi confirmada a sequência, que se chamaria O Cavaleiro das Trevas. Desta vez o vilão seria a nemesis do morcego, o Coringa. Seu interprete, o australiano Heath Ledger, a princípio foi visto com desconfiança, mas as primeiras fotos deixavam claro que aquele seria provavelmente a interpretação definitiva do personagem no cinema. Meses antes do lançamento a tragédia: o ator foi encontrado morto, em um apartamento em Nova York, por overdose de remédios antidepressivos. Não tardou para que houvesse especulação sobre um acesso de loucura de influência do papel. O filme, porém, foi aclamado pela crítica e pelo público, conseguindo superar o anterior. Sua bilheteria de 1 bilhão de dólares no mundo inteiro o colocou como o terceiro filme mais lucrativo de todos os tempos.

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Agora que a derradeira parte da trilogia de Nolan chegou aos cinemas americanos e nesta sexta aporta no Brasil, já se fala nos corredores da Warner em uma terceira série cinematográfica do herói. Será uma nova etapa do herói mascarado nas telonas, que, certamente não será a última. Batman é um herói humano, de natureza eivada de conflitos, perdas e frustrações, não é um semideus como Super Homem ou a Mulher Maravilha, por isso, talvez, ele seja a franquia da DC que mais deu certo no cinema, e sempre haverá quem queira contar e assistir sua história.

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Comentários 2
  1. PARA MIM O MELHOR BATMAN SÃOMOS PRODUZIDOS POR TIM BURTON QUE LER REVBISTA A TEMPO HA DE CONCORDAR COMIGO ELE SOMBRIU INTELIGENTE OPROBLEMA DE HOJE EM DIA AS PESSOAS SO QUEREM VER VER QUALQUER COISA SE ANALISAREM OS BATMAN DE 1989 E 1992 COMO ELE CONSEGUE SE SAFAR DAS COISAS COMO CONSEGUIU DESCOBRIR SOBRE OS PRODUTOS DE CORINGA E 1992

  2. Não é de se surpreender os comentários bem colocados desse crítico e estudioso dos assuntos ligados a arte culutra e cinema. Mostra de forma resumida a historia do personagem que fez e faz história até hoje.
    Parabéns Crítico: Cesar Monteiro

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