George Clooney conseguiu a façanha de se reinventar como ótimo diretor de cinema. Isso é até uma redundância no estágio de consolidação em que se encontra hoje. Com uma espécie de classicismo estético, seus filmes primam pela elegância do enfoque, em atuações conduzidas com a sensibilidade objetiva de quem também atua e sempre cercado por uma fotografia que vai tornando ainda mais exuberante seus maneirismos. Os indicados ao Oscar de Melhor Filme em anos anteriores, “Boa Noite e Boa Sorte” e “Tudo Pelo Poder”, são exemplares perfeitos dessa sua conjunção de condutor dramático. Por isso tudo, é de se estranhar o quão equivocado resulta seu novo filme, “Caçadores de Obras-Primas”, baseado no livro ‘The Monuments Men: Allied Heroes, Nazi Thieves and the Greatest Treasure Hunt in History‘, que conta a história de um grupo de diretores de museu, especialistas em história da arte e curadores que arriscaram suas vidas para evitar a destruição da cultura durante a Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo que Adolf Hitler tentava dominar o mundo ocidental, o exército nazista recebia ordens para ir buscar e acumular os melhores tesouros de arte na Europa. O Führer tinha começado a catalogar a arte que pretendia guardar, e aquela que queria destruir. Centrado no período de 11 meses entre o Dia D e o Dia da Vitória, este relato fascinante segue sete ‘Monuments Men’ e a sua missão impossível para salvar a grande arte do mundo nazista.
Clooney deixa de lado todo o seu (até então) costumeiro traquejo em seduzir o expectador através da elegância fluente de sua narrativa (habilidade esta, muito importante no citado “Boa Noite e Boa Sorte”), e faz um filme burocrático, com problemas (um tanto irritantes) de montagem e roteiro descaradamente despreocupado em aglutinar sua gama de personagens (Cate Blanchett deve estar até agora se perguntando qual o sentido de sua escalação) para contar a trama principal que é recuperar as tais obras-primas. O filme não acerta em nenhuma tentativa que ensaia: não é um tratado sobre o valor artístico em tempos políticos bem perturbadores. Não desenvolve bem a relação dos apaixonados “caçadores” com o motivo da caça. E ainda reforça os clichês mais batidos da Segunda Guerra, como desculpa de contextualização. Em alguns raros momentos, lembramos do talento de Clooney por detrás das câmeras (mais uma vez auxiliado por boa fotografia), mas a sensação que fica é que “Caçadores de Obras-Primas” é resultado de um livro tão interessante que não suportou o desafio de ser ficção. Diante dessa qualidade literária, ele tentou evocar um tempo, mas se enrolou claramente ao juntar um roteiro rasteiro e uma direção emperrada. É Clooney, nem seu charme cinquentão suportou a burocracia de sua tentativa.
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