Espinafrado pela crítica – publicações estrangeiras e brasileiras já atestaram ser um dos piores do ano – “Calmaria”, novo filme do diretor Steven Knight (de Locke) está (bem) longe de ser um primor, mas também não é esse desastre todo. É um noir de veraneio que tem problemas em lidar com o vespeiro que provoca. Como gênero e como história.
Baker Dill (Matthew McConaughey) é um pescador que vive e trabalha em uma pequena ilha. Certo dia ele recebe a visita de sua ex-esposa, Karen (Anne Hathaway) que faz uma proposta indecente: levar seu marido, o gangster Frank (Jason Clarke), para uma tarde de pesca, atirar ele para os tubarões e lucrar 10 milhões de dólares. O motivo para tamanha maldade? O fato de que Frank abusa da mulher e do filho fruto de seu relacionamento com Dill.
A priori essa é a linha narrativa da trama, mas ela vai se descascando para sentidos mais ambiciosos no tocante à motivação de seus personagens. De fato, o tom da direção atrapalha muito a pretensão do roteiro (Knight escreve e dirige, por sinal!), que após a conclusão, até interessante, deixa alguns buracos inexplicáveis. Tanto que Anne, um atriz competente, soa forçada e pouco crível como uma femme fatale “humanizada”. Fora que o filme é cheio de coadjuvantes desnecessários como a personagem de Diane Lane que se resume a espiar a vida de Baker pela janela.
Há de se reconhecer que o ritmo empregado e a tensão dos conflitos sugeridos até funcionam. Tanto que conforme a grande reviravolta vai acontecendo (e até nos confundindo um pouco), o que mantém nosso interesse é justamente a dinâmica de intrigas em que os três personagens principais estão arrolados.
Calmaria é um filme que, simplificado, seria sobre um pescador que sonha em pegar um grande peixe, mas as circunstâncias de seu passado transformam e o transformam em seu próprio alvo. Era para ter muita complexidade nisso, sobretudo pelos caminhos que o roteiro pretende. Entretanto, o longa quer muitas coisa: ser noir, ser complexo, ser metalinguístico… No fim, é apenas um thriller bem mediano.
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