Capitão América 2 é o último filme da Marvel antes da continuação dos Vingadores ano que vem (já que Guardiões da Galáxia se passará inteiramente no espaço), e de longe podemos dizer que é ele que traz mais mudanças para o universo cinemático da editora. O filme é uma tentativa do estúdio de trazer mais um gênero novo para as narrativas de super heróis, desta vez inspirado nos grandes thriller políticos da década de 70.
Em “O Soldado Invernal” finalmente vemos Steve Rogers (Chris Evans, competente e a vontade no papel) tendo de lidar com o problema de ser um homem fora do tempo, ainda que de maneira muito breve. Sua dificuldade de se encaixar acaba o levando a conhecer e se aproximar do ex-veterano da guerra do Iraque Sam Wilson (Anthony Mackie, uma excelente adição ao universo Marvel cinematográfico), que nunca mais se sentiu confortável depois de voltar para a casa.
Steve está trabalhando para a Shield, fazendo operações especiais ao lado de Natasha Romanov (Scarlett Johansson, na sua melhor performance como Viúva Negra). Frequentemente sem parecer compreender ao certo os objetivos e o funcionamento da organização que o emprega. Levando-o a confrontos diretos com o seu diretor, Nick Fury (Sam Jackson, demonstrando um pouco de cansaço na sua quinta vez como o personagem nos cinemas).
O tempo todo, o filme se foca em uma questão muito pertinente a modernidade que é o paradoxo liberdade X segurança. Assim como o escândalo da NSA estadunidense, Steve se vê em um mundo aonde as liberdades individuais e o direito a privacidade vem sendo diminuído sistematicamente em nome da segurança nacional, e começa a desacreditar nas instituições responsáveis por esta política.
Apesar disso, nesse aspecto o filme falha em criar um thriller político á altura daqueles protagonizados por Robert Redford na década de 70 (que aqui faz o diretor antagonista do longa), um problema que parece recair quase exclusivamente sobre o personagem de Steve Rogers. Ainda que o Capitão possa ser utilizado de diversas maneiras interessantes, a sua reação aos problemas impostos pelo filme lhe afetam muito pouco, ele é o “sentinela de liberdade” e por isso sabe determinar muito claramente o certo e o errado.
O filme tenta jogar com isso, isto é, como um patriota da década de quarenta funcionaria dentro da maior instituição de inteligência nos dias de hoje, e a verdade é que suas posições políticas e ideológicas são tão concretas que acabam diminuindo a eficiência do roteiro. O Capitão a todo momento sabe em quem confiar e em quem não confiar, ele não dúvida nem questiona suas ações, servindo muito mais como um agente de reação ao plot que se desenvolve ao seu redor.
Desta forma, as supostas reviravoltas políticas do filme, se mostram menos eficientes do que o esperado . Rogers serve como um lastro moral para todos os personagens do elenco, mostrando uma força de caráter capaz de liderar todos os agentes “bons” da Shield neste momento de crise. Vale dizer, esta postura é extremamente coerente com o personagem do Capitão, mas não funcionam 100% bem em um filme que se diz um Thriller político, onde esse tipo de conflito e dúvida não só é bom como é esperado pelo público.
Isto não quer dizer de maneira alguma que o filme seja ruim, muito pelo contrário, é um dos longas mais interessantes produzidos pela Marvel, e um excelente olhar aprofundado neste universo. Nuca foi possível ver a Shield de tão perto, e o filme traz de volta diversos personagens que já haviam aparecido previamente tanto na série quantos nos filmes anteriores (destaque para o agente Jasper, muito proeminente em Agents of Shield e Thor, e Samuel Stern, o Senador antagonista de Tony Stark em Iron Man II).
Outro ponto baixo fica por conta do Soldado Invernal (Sebastian Stan, praticamente o Darth Maul do filme) que apesar de aparecer no título, não é tão fundamental a narrativa que está sendo contada. Suas cenas de ação são fantásticas e existe um forte apelo emocional em relação a sua identidade secreta, ainda assim, o personagem é pouco explorado pela trama, aparecendo em momentos esporádicos para colocar um desafio ao Capitão América.
Neste quesito de ação “O Soldado Invernal” é certamente o filme mais bacana já produzido pela Marvel. Não só porque nenhum dos personagens tem super-poderes absurdos, mas porque a escala é incrível e as lutas são coreografadas de maneira espetacular. Steve mostra porque o seu escudo é melhor do que qualquer outra arma, usando diversas manobras clássicas retiradas do quadrinho, a Viúva Negra se mostra tão capaz fisicamente quanto nos filmes anteriores e até mesmo um vilão ridículo como Batroc (que tem o poder de saltar) é responsável por uma das cenas de luta mais legais do filme. Sam Wilson, o Falcão, também se mostra um excelente futuro vingador, com seus embates aéreos extremamente bem feitos.
No balanço geral Capitão América 2: O Soldado Invernal é mais um passo sólido da Marvel Studios em direção a sua hegemonia de filme de heróis com qualidade. Apesar de certas penalidades no roteiro (o plano final do vilão é especialmente ruim e medíocre), o filme consegue entreter muito o público atrás de um bom filme de ação. Para aqueles que esperam um thriller digno da presença de Robert Redford eu diria cautela, existe muita coisa cativante aqui, mas é difícil classificar este filme como uma diversão elaborada e cerebral, nesse sentido, os filmes do Homem de Ferro ainda são um pouco melhores porque Tony Stark é um personagem bem mais falho e humano do que Steve Rogers.
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