“Capitão Phillips” tira Tom Hanks da zona de conforto

Apesar de ser um dos maiores astros de Hollywood e um dos únicos a ganhar dois Oscars em dois anos seguidos (além de Spencer Tracy), Tom Hanks parecia estar com sua carreira estagnada. Seus filmes mais recentes como “Larry Crowne: O Amor Está de Volta” (que ele também dirigiu), “A Viagem” e “Tão Longe, Tão Perto” não causaram a repercussão esperada e suas atuações passaram em branco. Mas, felizmente, Hanks conseguiu mostrar que ainda é capaz de surpreender e realizar um bom trabalho com sua performance no thriller “Capitão Phillips” (“Capitain Phillips”), baseado no livro “Dever de Capitão”, já lançado no Brasil pela Editora Intrínseca.

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Em 2009, o navio americano Maersk Alabama, a caminho da Somália para entregar produtos e alimentos, foi abordado por piratas somalis, que atacam nas águas africanas usando muita violência. O capitão Richard Phillips (Tom Hanks) tentou evitar que os criminosos, liderados por Muse (Barkhad Abdi), cometessem alguma barbaridade com a sua tripulação e negociou com eles para que saíssem do barco. Usando alguns estratagemas, ele até conseguiu impedir o pior, mas acabou sendo refém dos bandidos, que o levaram numa baleeira (pequeno bote salva-vidas, usado em casos de emergência ou naufrágio) e tentaram chegar à costa da Somália. A partir daí, começou uma corrida contra o tempo para que o capitão seja resgatado e, para isso, a Marinha americana entrou em ação com tudo o que tem a seu dispor para lidar com os piratas, que se recusaram a libertar seu ‘ilustre convidado’, acreditando que ganhariam muito dinheiro com a vida do comandante, e que, mesmo com tudo contra eles, conseguiriam seus objetivos.

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Essa incrível história real tinha tudo para se tornar um filme eletrizante e, felizmente, o objetivo foi alcançado. O ótimo roteiro de Billy Ray, que também escreveu “Jogos Vorazes”, “Intriga de Estado”, “Plano de Voo”, entre outros, se sai bem em mostrar tanto o lado dos personagens americanos, quanto o dos piratas somalis, procurando não retratá-los de forma superficial, especialmente os ‘vilões’, que são apresentados como homens que acreditam não ter muitas opções em suas vidas cheias de privações que não sejam aquelas em que precisam pegar em armas para assaltar embarcações e obter algum dinheiro para sobreviver. Além disso, o texto se vale de bons diálogos, especialmente quando Richard tenta manter os bandidos sob controle para que não enfrentem os militares de frente, já que eles contam com muito mais poder de fogo, o que poderia levar a situação a um desfecho trágico, que poderia custar a sua vida e a de seus captores.

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A escolha de Paul Greengrass para dirigir esse projeto foi muito acertada. O cineasta, que ganhou popularidade com os filmes “A Supremacia Bourne” “O Ultimato Bourne”, sabe como tornar as cenas mais verossímeis e manter a tensão de maneira constante, especialmente quando se trata de uma produção baseada em fatos reais. Embora não tenha chegado à excelência alcançada em “Voo United 93” (em que foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor, em 2007), Greengrass obtém um bom resultado, que pode deixar o espectador eletrizado especialmente na parte final do filme, quando o personagem de Hanks percebe que as coisas podem não acabar bem e que isso pode realmente custar a sua vida.
Além disso, o diretor de fotografia Barry Ackroyd, que já trabalhou com Greengrass em seus filmes anteriores, sabe como fazer o recurso de câmera ‘tremida’ ser algo que está em função da trama a ser contada na tela e não parecer um clichê, como muito se vê em outras realizações por aí.

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O elenco é, certamente, um dos principais elementos para que “Capitão Phillips” funcione tão bem. Apenas Hanks e Catherine Keener (que vive a esposa do protagonista e aparece somente no início do filme) são os mais conhecidos. O restante é composto por atores praticamente desconhecidos e até iniciantes no cinema para interpretar os piratas. O melhor deles é, sem sombra de dúvida, Barkhad Abdi, que interpreta o líder Muse. Apesar de estar em seu primeiro papel, o ator somali, que vive nos EUA desde os 14 anos e trabalhava como motorista de táxi antes de ser escalado para o filme, mostra muita autenticidade em sua interpretação, tornando seu personagem ainda mais interessante. Já Tom Hanks consegue mais uma vez provar que é um ator espetacular. Ele consegue transparecer o crescimento do seu desespero gradualmente, graças ao tom de sua voz, que parece inicialmente calma e controlada, até ficar mais angustiada, quando percebe que o confronto é inevitável. Essa é, com certeza, a sua melhor performance em anos e pode garantir sua indicação para prêmios como o Oscar e o Globo de Ouro.

Enfim, “Capitão Phillips” se revela uma agradável surpresa e não “morre na praia” com as suas intenções. Pode ser que um ou outro espectador se incomode um pouco com as cenas que mostram a ação militar na trama, o que sugere uma espécie de propaganda das Forças Armadas dos EUA. Mesmo assim, Greengrass mostra como contar uma história baseada em fatos reais de maneira bem eletrizante, como poucos conseguem nos dias de hoje. E isso não é pouco.

Estréia em 08 de Novembro nos cinemas.

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