“Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa” foi anunciado como uma cena pós-créditos de “Turma da Mônica – Lições” (bem ao estilo filme da Marvel) e deixou muita gente animada com a adaptação do simpático caipirinha criado por Maurício de Sousa. Mas como aquele universo rural funcionaria em live-action? Quem seriam as crianças que interpretariam o Chico e sua turma? Teriam a mesmo carisma dos intérpretes da turminha do bairro do Limoeiro? A resposta seria um claro e em bom som si para todas essas perguntas.
Chico Bento vive seu cotidiano na Vila Abobrinha, que consiste basicamente em conseguir subir em sua amada goiabeira para pegar a fruta sem o dono das terras saber. O que ele sequer desconfia é que a árvore está ameaçada pela construção de uma estrada na região, já que será preciso pavimentá-la pela propriedade de Nhô Lau, o local onde a goiabeira está plantada. Em uma ação desesperada para salvar a árvore, Chico Bento reúne seus amigos Zé Lelé, Rosinha, Zé da Roça, Tábata, Hiro e toda a comunidade para acabar com o projeto da família de Genezinho e Dotô Agripino.

Logo de cara, o filme oferece ao espectador uma contextualização muito acertada que situa perfeitamente quem por ventura não conheça os quadrinhos e conquista imediatamente os já iniciados, que reconhecem imediatamente todo aquele universo sendo apresentado, como se tivesse sido transposto, literalmente, das páginas do gibi para a tela de cinema. Os bichos de estimação, as paisagens rurais, o sotaque caipira docemente caricato. Está tudo lá. A atemporalidade que caracteriza não só as historinhas do Chico Bento, mas também as da turma da Mônica, foi mantida, assim como em “Laços” e “Lições”. Pode se passar nos dias atuais, mas poderia perfeitamente estar situado nos anos 1980 ou 1970.
A direção de Fernando Fraiha (produtor de “Laços” e “Lições”) vem com forte inspiração nos filmes de Mazzaropi, um quê do cinema europeu voltado ao público infanto-juvenil, além de uma paleta de cor marcante, como as dos dois longas da Turma da Mônica, só que reforçando mais as cores quentes. A direção de atores é um dos maiores acertos. Além de contar com um elenco infantil carismático e afiado (mantendo a tradição da franquia), Fernando, assim como Daniel Rezende, soube muito bem conduzir cada um dos pequenos dentro de seus respectivos potenciais, obedecendo as características dos personagens mantendo a fidelidade às HQs. E essa cumplicidade estreita entre diretor e elenco indubitavelmente garante o sucesso.

O menino Isaac Amendoim é um verdadeiro achado. Descoberto nas redes sociais, prova que a internet pode sim ser uma plataforma para encontrar talentos. O garimpo é apenas mais trabalhoso. A impressão que fica é que o personagem não poderia ser vivido por outro ator mirim. O fato de ser oriundo do interior e ter experiência no trato com bichos foi fundamental para a perfeita composição do Chico Bento live-action. Ele reproduz com perfeição aquele misto de ingenuidade com malandragem e uma certa timidez que dão a graça do personagem. Alguns coadjuvantes também parecem pulados das páginas para a tela, como o fiel escudeiro de Chico Bento Zé Lelé, interpretado por Pedro Dantas, Nhô Lau, vivido por Luis Lobianco, e a professora da escola pública da Vila Abobrinha, dona Marocas, que Débora Falabella incorporou com uma semelhança impressionante.
O roteiro assinado por Fraiha, junto com Elena Altheman e Raul Chequer abraça a ecologia, fazendo uma crítica bastante explícita contra a bancada ruralista no Congresso Nacional, mas essa alfinetada somente os adultos vão captar. Os menores vão certamente ser cativadas pela graça dos personagens, e o timing de humor que o trio responsável pelo script imprimiu. “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa” já pode ser considerado de antemão uma das melhores adaptações de quadrinhos do ano, se não for a melhor. Superman que se cuide.
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