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"Clube de Compras Dallas" toca em assunto polêmico sem pieguice

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O grande problema de filmes que tratam de doenças é que, se os realizadores não conseguem manter o foco do que pretendem mostrar ao público, eles acabam exagerando no drama e parecem forçar a barra para que o espectador se comova com o sofrimento de seus personagens a qualquer custo, como se estivesse assistindo a um melodrama barato. A coisa pode piorar ainda mais se a história for baseada em fatos reais, especialmente se o biografado for transformado praticamente num santo, após ser infectado por um mal grave. Felizmente, isso não acontece de forma tão drástica com “Clube de Compras Dallas” (“Dallas Buyers Club”).

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A trama, escrita por Craig Borten e Melisa Wallack, mostra como a vida do eletricista Ron Woodroof (Matthew McConaughey) mudou após ser diagnosticado como HIV positivo, em 1995, em Dallas. Típico machão da população de baixa renda do estado do Texas, viciado em drogas e sexo sem proteção, Ron não acredita que está doente porque, na sua mente (como a de muitas pessoas, até mesmo em nossa época atual), somente homossexuais seriam contaminados com o vírus da Aids. Após um choque de realidade, ele passa a lutar com unhas e dentes para melhorar, inicialmente, com uma droga experimental na época, o AZT (usado até hoje no tratamento de aidéticos). Só que, como o tratamento não o faz se sentir melhor, ele aceita o conselho de um enfermeiro que traficava o medicamento e vai para um hospital na fronteira com o México e tem contato com remédios que aliviam os sintomas, mas não são autorizados pelo governo americano. Ron, então, decide levar para os EUA os medicamentos em grande quantidade e lança, com a ajuda do transformista Rayon (Jared Leto) o Clube de Compras Dallas do título, onde os pacientes com Aids pagam uma mensalidade para receber uma combinação das drogas (algo parecido com os atuais ‘coquetéis’ também usados em alguns hospitais). A iniciativa ganha cada vez mais a adesão dos infectados, o que acaba gerando um conflito entre Ron, os médicos tradicionais e as autoridades.

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O que chama a atenção em “Clube de Compras Dallas” é a forma encontrada para mostrar seus protagonistas, com falhas e acertos como qualquer pessoa, sem aquela impressão de que são seres que só existem num filme. Ron, por exemplo, é apresentado como um homem que, mesmo diante da morte iminente por causa da Aids, não desiste de lutar em nenhum momento. Numa cena, ele provoca o médico interpretado por Denis O’ Hare, que deu a ele apenas algumas semanas de vida quando o conheceu, ao dizer que está vivo há muito mais tempo graças aos remédios alternativos que tomou. Outra característica interessante do personagem está no fato de que Ron, apesar de rever seus conceitos sobre os gays, já que seu parceiro nos negócios e boa parte de seus clientes são homossexuais, ainda faz piadas maliciosas em relação ao modo de vida deles. Rayon também é uma pessoa bastante complexa, já que, mesmo com seu jeito debochado de encarar os problemas, revela-se uma pessoa melancólica. Isso fica bem claro quando ele resolve pedir ajuda financeira ao pai (James DuPont) para o clube, usando terno e gravata para não constrangê-lo, e acaba tendo um diálogo cheio de mágoas com ele.

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O diretor canadense Jean Marc-Vallée (de filmes como “A Jovem Rainha Victoria” e “C.R.A.Z.Y”) não reinventa a roda, mas realiza um bom trabalho com esse tema espinhoso, sem exageros dramáticos, mas conseguindo extrair da maioria de seus atores interpretações que vão do convincente ao fantástico. Matthew McConaughey tem, neste filme, a melhor performance de sua carreira e impressiona sua dedicação ao papel, onde causa comoção com o sofrimento passado por Ron. Além disso, sua magreza em nível avançado é tão marcante quanto a de Tom Hanks, quando interpretou o advogado com Aids de “Filadélfia” (1993). Jared Leto não fica atrás e mostra, além de bom humor, uma delicadeza até então nunca demonstrada em seus filmes anteriores. Auxiliado por uma excelente maquiagem (que evidencia os estragos causados pelo HIV), o ator causa emoção genuína ao espectador com sua atuação multifacetada. O ponto fraco do elenco é, infelizmente Jennifer Garner, que interpreta a médica Eve Saks. A atriz faz ‘biquinhos’ em cenas dramáticas achando que está numa das comédias românticas que já estrelou e, prejudicada pelo roteiro que não sabe se sua personagem é só uma amiga ou o interesse amoroso do protagonista, acaba se comprometendo e não convence, especialmente nos momentos em que passa a acreditar na cruzada de Ron.

“Clube de Compras Dallas” vai bem em boa parte do tempo, mas perde um pouco de sua força na reta final do filme. Mesmo assim, a produção deve ser conferida por mostrar que a questão da Aids ainda é muito forte e não deve ser esquecida por nenhum de nós. Além disso, vale muito a pena assistir atores como McConaughey e Leto em estado de verdadeira graça. E isso não é pouco.

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