Seria Corpo Elétrico um constante estado de espírito geracional? Primeiro longa do diretor Marcelo Caetano (que tem no currículo participação como assistente de direção e/ou casting de filmes como Tatuagem, Boi Neon e Aquarius), é uma elegia urbana sobre a liberdade de uma juventude que gravita com naturalidade sobre questões pessoais acerca do sexo a da própria vida. Elias (um iluminado Kelner Macedo) tem a vitalidade de seus 23 anos, gay, paraibano e que trabalha numa confecção de roupas no Bom Retiro, em São Paulo.
O filme faz um recorte com bastante personalidade e nada idealizado de uma São Paulo mais periférica, onde os trabalhadores em suas rotinas são os grandes protagonistas. Com roteiro do diretor, em parceria com Gabriel Domingues e Hilton Lacerda, a trama se desenvolve em torno da leveza do protagonista, dentro de seus impulsos sexuais (naturalizados) e afagos fraternais (espontâneos).
Para além da percepção hedonista do indivíduo em si, o diretor flerta com uma abordagem mais humanista da percepção de Elias, seja pela maneira reticente com que projeta o futuro (numa cena que resume bem o que é o próprio personagem), seja pela inadequação com a obrigatoriedade hierarquizada das relações de trabalho (com leves toques de criticidade do diretor). Essa composição constrói um personagem fascinante por sua espontaneidade, o que Caetano ilumina por coadjuvantes delicadamente bem apresentados num plano sequência sensacional (e de extremo domínio da técnica). Fica bem crível que cada um deles tem sua vida própria e isso enriquece muito o universo da qual o filme se debruça, especialmente pela representação gay em suas diferenças, semelhanças e entrosamentos.
Corpo Elétrico é aquele tipo de filme que flutua sobre a percepção do espectador. Por isso mesmo seja desobrigada de maiores obrigações narrativas (algo proposital, como na relação que Elias nutre um novo colega de trabalho). Marcelo Caetano sabe o que está fazendo. E seu filme é sobretudo, muito de verdade.
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